Leonardo Sakamoto

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Opinião

Moraes presta um favorzão a Bolsonaro ao dar a deixa para trocar Ramagem

Quando levantou o sigilo da investigação sobre a máquina de espionagem de Jair Bolsonaro que abastecia a sua máquina de moer reputações, o ministro Alexandre de Moraes não apenas colocou mais uma pedra no sapato do ex-presidente, mas também lhe prestou um favor. Agora, com o que foi revelado, ele tem uma desculpa para trocar o seu pré-candidato à Prefeitura do Rio, o deputado federal Alexandre Ramagem - que vai mal nas pesquisas.

Ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante a gestão de Jair, Ramagem (PL) tem míseros 7% no último Datafolha enquanto o atual prefeito Eduardo Paes (PSD) ostenta 53%, podendo vencer no primeiro turno - a margem de erro é de três pontos. O que seria uma humilhação suprema, uma vez que a capital fluminense é berço do bolsonarismo.

Claro que Ramagem vai crescer quando Jair colar nele como adesivo. Mas é difícil bater uma gestão que tem 46% de ótimo ou bom, 36% de regular e apenas 16% de ruim ou péssima. Ainda mais com um candidato com beeeeem menos carisma que o atual prefeito.

Bolsonaro pode justificar que está largando Ramagem porque se sentiu traído. O relatório da investigação da Polícia Federal indica um áudio em que o ex-presidente, o ex-diretor da Abin e o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, discutem como anular as investigações por rachadinhas (aka desvio de grana pública) contra Flávio Bolsonaro. A gravação estava em um aparelho de Ramagem.

O relatório também mostra que integrantes da máquina de espionagem legal tentaram levantar informações desabonadoras de auditores da Receita Federal para serem usados na defesa de Flávio.

Grampeador que grampeia grampeador tem 100 anos de perdão? Não para Bolsonaro. Para ele, o monopólio do grampo ilegal era dele. Deve, portanto, ter ficado enfurecido com o feitiço se voltando contra o feiticeiro.

A proximidade de Bolsonaro com Ramagem era tanta que ele queria o delegado da Polícia Federal como diretor da instituição para proteger a ele, seus filhos e amigos, como deixou claro em reunião ministerial de abril de 2020. O então ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro acabou pedindo demissão ao bater de frente com ele por conta disso.

Por muito menos, Bolsonaro abandonou aliados e assessores na beira da estrada, de Gustavo Bebianno ao general Santos Cruz. Por que não usaria a justificativa vitimista da traição como argumento para colocar alguém mais eleitoralmente competitivo no seu lugar? A saída dele seria o equivalente a passar um recibo e dificultaria o uso da narrativa de perseguição? Sim, mas ele não precisa "ser saído" agora. Pode ser levado a pedir para sair daqui a algum tempo.

Se Bolsonaro mantiver Ramagem mesmo assim, vai provar que realmente vê o deputado como um filho. Ou mostrar que de onde saiu aquele áudio de grampo tem muitos outros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL