Bets precisam ser proibidas de anunciar na TV e patrocinar time de futebol
É uma brincadeira de mau gosto que anúncios de bets, multicoloridos, trazendo sorridentes influenciadores, prometendo mundos e fundos, sejam encerrados com o alerta "jogue com responsabilidade". Qualquer tigrinho com problemas de cognição sabe que as casas de apostas lucram exatamente com o comportamento compulsivo promovido por elas mesmas. É tipo um traficante na "cracolândia" vender uma pedra e alertar: fume com moderação.
O Congresso Nacional, como alertamos repetidas vezes, não deveria ter aprovado o funcionamento desse tipo de empresa sem a previsão de cobrança de impostos do tamanho do buraco na saúde pública e nas famílias que isso. E sem a proibição de anúncios e patrocínios que bombem o nome das bets. Ações tomadas agora não vão corrigir o estrago causado, mas podem mitigá-lo.
Há projetos apresentados para proibir a propaganda desses caça-níqueis digitais na TV, no rádio, nas redes sociais, nos portais e sites, como os da deputada Gleisi Hoffmann e do senador Randolfe Rodrigues. Se o vício em crack, que faz tão mal quanto, como escrevi aqui ontem, não pode ser incentivado no intervalo da novela, o das apostas também não.
Mas os legisladores também precisam proibir o patrocínio de bets a times de futebol. Hoje, a maioria da série A do Campeonato Brasileiro ostenta uma variedade de nomes de casas de aposta no peito de dos jogadores, vistos como exemplos e heróis por muita gente.
"Ah, mas isso vai cortar recursos e inviabilizar o esporte!", defendem alguns. Bem, amo o futebol, mas se ele se tornou algo que só vai funcionar se ajudar a promover a pilhagem de trabalhadores, então o futebol é que é inviável.
Ninguém aqui está falando em proibir a operação das casas de apostas até porque o gênio já saiu da garrafa, a pasta deixou o tubo, e qualquer outra analogia que represente a irreversibilidade do fato consumado. Mas é possível reduzir o tamanho do estrago se a preocupação com a saúde pública falar mais alto que o lobby da jogatina.
Há duas décadas, não convivemos mais com anúncios de tabaco na TV, apesar de cigarro ser vendido normalmente. Tampouco, Marlboro estampa camisas de times de futebol. E ninguém morreu por isso. Pelo contrário.