Vamos dar golpe em quem quisermos, disse Musk em 2020
Em 2020, o bilionário Elon Musk fez um tuíte com um aviso: "Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso".
A mensagem foi publicada na esteira de uma crise política na Bolívia. Meses antes, o então presidente, Evo Morales, de esquerda, havia renunciado ao cargo.
Professor da FGV em ciências políticas com foco em movimentos da extrema-direita, Guilherme Casarões diz que o episódio marcou o alinhamento público de Musk com posições defendidas pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Até 2018, 2019, Musk parecia uma figura desinteressada em política partidária. Não tinha posicionamento declarado, já tinha dito no passado que havia votado no partido democrata [nos EUA]. Não havia indício claro de que o posicionamento político de Musk iria ser levado para esse lado radicalizado da extrema direita. Mas alguns sinais começaram a aparecer", diz Casarões.
Ele classifica o episódio como uma "trollagem" — "pegadinha", na linguagem da internet. Ali marcou o início de provocações à esquerda na internet.
A ação surtiu efeito. Morales usou a frase como indício de que havia sido alvo de uma conspiração internacional para tirá-lo do poder. A Bolívia é um dos maiores produtores de lítio no mundo, material usado para fabricar baterias de celulares e carros elétricos. Musk é fundador da Tesla, que fabrica carros elétricos.
"Não tem nada a ver, Musk não deu golpe na Bolívia e o lítio que a Tesla compra para fazer carros elétricos sai da Austrália. Só serviu para trollar e incitar teoria conspiratória sem fundamento", diz Casarões.
Neste fim de semana, Musk inflou a rede bolsonarista ao atacar o ministro do STF Alexandre de Moraes. A iniciativa une os interesses comerciais do bilionário aos objetivos políticos e eleitorais dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo especialistas ouvidos pelo UOL.