Pauta ambiental é oportunidade para oposição nos municípios, diz professor
O agravamento da crise climática é uma oportunidade para os candidatos da oposição pautarem o tema nas campanhas municipais, diz o cientista politico Cláudio Couto, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Apesar das catástrofes que têm acontecido neste ano no país — enchentes no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e queimadas de florestas no Sudeste, entre outras —, a pauta ambiental não costuma ter apelo junto ao eleitorado.
O tema parece distante de questões como habitação e transportes, apesar de estar conectado. E o tópico "segurança pública", cuja atribuição é majoritariamente do governo estadual, é o principal interesse do eleitor em diversas capitais neste ano.
Ainda assim, Couto diz que o impacto da crise climática pode ser explorado pelos candidatos mesmo sem ser trazido espontaneamente pelos eleitores ou que não apareça nas pesquisas feitas pelos partidos.
"Muitas vezes a oferta cria a demanda", afirma. "É uma oportunidade para quem esteja na oposição a nível local vocalizar esses assuntos, pegar esses eventos da conjuntura."
Impacto nas cidades
Como mostrou a coluna, é na pauta municipal que a questão ambiental mais faz diferença no dia a dia da população, mas, historicamente, o tema não está no centro das discussões eleitorais. Porto Alegre é exceção: a campanha na cidade está sendo dominada pela tragédia que destruiu o Rio Grande do Sul em maio. A capital gaúcha foi alagada após falhas no sistema de prevenção.
Para Maria Netto Schneider, diretora do ICS (Instituto Clima e Sociedade), o tema fica à margem dos debates "por falta de capacidade de entendimento de que esses desastres ocorrem por falta de preparação das cidades e pela falta de infraestrutura adaptada".
Cláudio Couto, da FGV, diz que o político que se identifica com a questão climática pode trazer o problema sob o ponto de vista do discurso, na mesma linha do que é feito com a pauta de costumes: ainda que o aquecimento global não vá ser resolvido naquela cidade, o candidato se associa ao tema. "Assim como tem candidatos que levantam pautas morais sob ponto de vista simbólico."
Rodrigo Perpétuo, secretário-executivo do Iclei (organização que reúne governos para promover o desenvolvimento urbano sustentável), diz que a falta de conhecimento dos candidatos os afasta do tema.
Segundo ele, são poucos os municípios que possuem Defesa Civil estruturada com pessoal equipamentos. Além disso, afirma, falta às prefeituras um plano de redução de riscos para a Defesa Civil orientar ações preventivas. "Como não conhecem os riscos, são poucas as prefeituras que possuem os planos de resposta [para situações de emergência]."
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Deixe seu comentário