Topo

Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que as Organizações Tabajara pensam sobre a Operação Tabajara do Golpe

Colunista do UOL

03/02/2023 15h23

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Hoje, o ministro Alexandre de Moraes chamou de "Operação Tabajara" o que se sabe até agora da mirabolante tentativa de golpe. O senador Marcos do Val provavelmente já passou da décima versão dos fatos, mas o que já sabemos é coisa de escandalizar o seu Creysson.

O ex-deputado e agora presidiário Daniel Silveira teria intermediado uma conversa entre o senador e o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. Dariam a Marcos do Val uma missão especial para salvar o Brasil: gravar escondido Alexandre de Moraes.

A gravação seria utilizada para invalidar a atuação do ministro no TSE e nas eleições, legitimando um golpe de Estado. Parece plano do Cebolinha.

Por que Marcos do Val? Ele deu consultoria à polícia de São Paulo na época em que Alexandre de Moraes era secretário estadual, então imaginaram que teria alguma proximidade. Ele jogou o jogo, mandou uma mensagem no whatsapp do ministro e conseguiu uma audiência.

Não significa que tivesse realmente proximidade. Um ministro do STF recebe, por praxe, um senador da República que pede uma audiência. Como Alexandre de Moraes não nasceu ontem, fez a coisa do jeito mais público possível.

Não recebeu no gabinete, como teria feito com alguém que realmente tivesse acesso. Marcou no Salão Branco, a sala que fica atrás do plenário de julgamentos, onde os ministros tomam café no intervalo da sessão. Ali são recebidas inúmeras pessoas que solicitam audiência mas não terão uma audiência formal nem privada.

Alexandre de Moraes falou hoje sobre o evento e confirmou o encontro. Um senador com quem ele não tinha nenhuma intimidade de repente começa a falar numa trama para golpe de Estado. Como o ministro não nasceu ontem, pediu para que a denúncia fosse formalizada. O senador disse que não, era uma "questão de inteligência". O ministro agradeceu e interrompeu a conversa.

"Foi exatamente essa a tentativa de uma Operação Tabajara, que mostra exatamente o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil.", disparou Alexandre de Moraes.

Conversei com Claudio Manoel, o seu Creysson do Casseta e Planeta, imagem pública das Organizações Tabajara. Também falei com o humorista Hélio de La Peña, que integrava o time. Eles ficaram chateados ao ver o nome da linha picareta de produtos associada a algo que está muito abaixo do nível de picaretagem que aceitam.

"Nunca estivemos associados a golpes de Estado, ainda mais um golpe de baixíssimo nível feito esse, que não passaria em nosso controle de qualidade. Associar nosso prestígio a uma chinelagem dessas vilipendia o nome das Organizações Tabajara", afirmou Claudio Manoel, que pensava inclusive em recorrer ao Judiciário.

Helio de La Peña me mandou uma nota oficial, que transcrevo: "Nós, das Organizações Tabajara, repudiamos o uso indevido de nossa marca nesta operação. Somos uma corporação idônea que só se envolve em atividades lícitas. Não vamos abrir um processo porque que seria julgado pelo próprio Xandão. Organizações Tabajara".

O humorista não assume a autoria da declaração, diz que ela foi encontrada em sua mesa mas não se lembra quem escreveu. Agora alega ter mandado para mim porque esqueceu de triturar.

A história me lembrou a de Anderson Torres e sua "minuta do golpe". Na confusão sobre a autoria, o advogado dele resolveu dizer que é do Tiririca. Foi uma forma de tirar sarro dos múltiplos erros de português e jurídicos da peça.

Sabem quem é o advogado? Demóstenes Torres, um dos senadores mais aguerridos em enfrentar a corrupção, estrela absoluta de Comissões Parlamentares de Inquérito na virada do milênio. Depois, ele próprio virou réu e foi o segundo senador brasileiro a ter seu mandato cassado. Foi acusado de favorecer um esquema de Carlinhos Cachoeira, empresário do ramo de jogos ilegais.

Promotor público, voltou a exercer a função e agora reaparece na imprensa como advogado de Anderson Torres e piadista.

Entendo a revolta dos humoristas. O noticiário político tem sido uma concorrência absolutamente desleal com a profissão deles.