Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Abstenção de Aécio na PEC do voto impresso reforça instabilidade do PSDB
A votação da PEC do voto impresso nesta semana foi reveladora da instabilidade e da desconexão que vive o PSDB. O principal fator de desequilíbrio é, mais uma vez, o deputado federal Aécio Neves.
Seu partido foi o primeiro a questionar a licitude das urnas eletrônicas nas eleições de 2014, quando Aécio perdeu por uma margem pequena para Dilma Rousseff (PT). Com isso, deu brecha para o discurso de Jair Bolsonaro (sem partido) a favor do voto impresso.
No plenário da Câmara, Aécio foi o único a se abster entre os 449 votantes. Registrou, dessa forma, divergência com a orientação do próprio partido, contrário à PEC do voto impresso. Sinaliza agora que deve retomar a discussão.
"Meu voto significa: nem a favor agora, já que significaria dar uma vitória a ele [Bolsonaro], e nem contra, como se as urnas não pudessem evoluir", afirmou o tucano à coluna de Camila Mattoso na Folha de S.Paulo.
"Evoluir" não é bem o que propunha a PEC do voto impresso, cujo objetivo era imprimir o voto da urna eletrônica. Entre os 36 votos dos tucanos, 12 foram contra e 14 a favor. Cinco não votaram. A abstenção de Aécio pesou contra a proposta.
O eleitorado tucano, ávido por uma terceira via em 2022, é massivamente contra o voto impresso. "Dos 5% que dizem votar em João Doria ou em Eduardo Leite nas próximas eleições presidenciais, apenas 10% são a favor do voto impresso", explica Mauricio Moura, diretor do Instituto Ideia, que mede a temperatura da disputa presidencial a cada 15 dias.
Os 5% de votos recebidos por Geraldo Alckmin no pleito de 2018 corresponderiam, assim, ao conjunto de eleitores mais fieis do PSDB.
"Desses 5%, cerca de 80% reprovam o governo Bolsonaro", diz Moura. Dar a Bolsonaro a possibilidade de argumentar contra a urna eletrônica é se posicionar contra os desejos dos eleitores tucanos, o que enfraquece o PSDB.
A votação da PEC mostrou que o partido está dividido. Os que se posicionaram a favor do voto impresso acompanham Aécio na disputa interna, favorável a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, como candidato tucano à presidência.
Já o grupo paulista, próximo a Doria, tem vantagem nas prévias do partido. Aécio tem influência apenas na bancada da Câmara dos Deputados.
Nenhum dos sete deputados federais do PSDB paulista votou a favor da PEC do voto impresso, coerente com o posicionamento de Doria, da sigla e do eleitorado tucano. Os dois deputados gaúchos na Câmara, Lucas Lucas Redecker (PSDB-RS) e Daniel Trzeciak (PSDB-RS), foram favoráveis à PEC bolsonarista.
Tanto Doria quanto Leite têm feito viagens em busca de adesão em outros estados. O ex-presidente tucano, Fernando Henrique Cardoso, declarou apoio a Doria recentemente durante a reinauguração do Museu da Língua Portuguesa. A escolha do candidato tucano às eleições presidenciais de 2022 será definida em novembro.
Ao mesmo tempo, o plenário da PEC do voto impresso serviu para que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mostrasse ao governo o poder do centrão. Com as posições às claras, o bloco de partidos pode pleitear novos cargos.
Lira teve também a possibilidade de testar até onde vai o apoio dos partidos ao presidente Bolsonaro. Mas há outras variáveis que podem ter influenciado na votação, como as eleições nos estados e as demandas locais e regionais, que o presidente da Casa sabe quais são.
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