Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Auxílio Brasil é única chance de Bolsonaro recuperar a popularidade
Só o Auxílio Brasil poderia salvar a popularidade de Jair Bolsonaro. No entanto, mesmo com a aprovação da PEC dos Precatórios pela CCJ do Senado, que cria espaço fiscal para o Auxílio Brasil, não há garantias de que o novo programa de transferência de renda tenha impacto semelhante ao que aconteceu com o auxílio emergencial na primeira fase, que turbinou a popularidade do presidente. O texto será apreciado pelo plenário.
O governo Bolsonaro afundou de tal maneira que sua rejeição só aumenta. Na pesquisa PoderData, de quinta (21), o trabalho de Bolsonaro foi considerado ruim/péssimo por 57% dos eleitores, na pesquisa Ipespe de sexta (22), 54% classificaram o governo Bolsonaro como ruim/péssimo, na Exame/Ideia, também de sexta (22), 53% disseram que o governo Bolsonaro é ruim/péssimo.
Nesta segunda (29), a pesquisa da consultoria Atlas, que usa metodologia diferente, via internet, publicou que 60% dos eleitores desaprovam o governo Bolsonaro. A Atlas também mostra que a aprovação do governo está em 19%, cruzando a linha dos 20 pontos percentuais, que até agora era o piso observado nas pesquisas, quase imutável. Pode significar que até o seu núcleo duro de apoiadores está pulando da barca de Jair.
O Auxílio Brasil é a única possibilidade de mover esse cenário. Se chegar às mãos das famílias, Bolsonaro pode ganhar um fôlego, sem segurança de que esse respiro dure até as eleições. Se não impactar o eleitorado, é o começo do fim: o governo terá rompido a responsabilidade fiscal, gerando inflação e piorando ainda mais a situação de pobreza e extrema pobreza a que estão submetidos milhões de brasileiros, afastará investidores e aumentará o desemprego. O Auxílio Brasil teria de compensar tudo isso, o que é improvável sob todos os pontos de vista.
O governo acabou com o Bolsa Família sem ter criado o novo programa, por isso, a votação desta semana é crucial para garantir que não falte essa renda.
Se for aprovada, desta vez, a transferência de renda não deve ter o mesmo impacto que a primeira fase do auxílio emergencial, de R$ 600. Primeiro porque os R$ 400 que o governo prometeu ainda não estão liberados e nada assegura que continue no mês que vem ou em 2022. Segundo porque a inflação comeu parte do poder de compra desse montante — o que antes era um aumento de 25%, agora, por conta da alta dos alimentos, não passa de 15%. Ainda assim é um valor importante para a situação do país hoje. Não é possível um país democrático em que pessoas sentem fome e desmaiam na fila dos postos de saúde para conseguir um prato de comida. Terceiro porque é preciso que a população crie o vínculo entre o programa e o presidente. A experiência com o auxílio emergencial 2, de R$ 300, pago no auge das mortes por covid-19, mostra que não impactou positivamente na popularidade de Bolsonaro. De lá para cá, tem sido ladeira abaixo.
A população vive a incerteza e a instabilidade promovida pelo governo há três anos. Não existe um plano, o governo operou no caos, desorganizou a economia, freou investimentos e a inflação aumentou, consumindo inclusive o capital político que Bolsonaro ainda tem.
Caso o país viva uma nova onda de covid-19, todas essas condições estarão agravadas. Seria um pesadelo no qual o governo de Bolsonaro não tem competência, vontade política, aptidão e nem planejamento para lidar com as crises sanitária, social e econômica agravadas, decorrentes de uma nova onda da pandemia.
O quadro do governo é de deterioração total. Se o Auxílio Brasil não colar em sua imagem, o governo Bolsonaro acaba. É preciso trabalhar duro, com coesão. Não há solução mágica. O país não aceita mais uma cloroquina.
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