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Maria Carolina Trevisan

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Chantagem eleitoral de Bolsonaro com o Auxílio Brasil fracassou

Auxílio Brasil: "Ninguém vai furar o teto por R$ 400", diz Bolsonaro  - Reprodução/ Flickr Palácio do Planalto
Auxílio Brasil: "Ninguém vai furar o teto por R$ 400", diz Bolsonaro Imagem: Reprodução/ Flickr Palácio do Planalto

Colunista do UOL

17/02/2022 14h54

Quatro meses após criar o programa social Auxílio Brasil, e três meses depois de iniciar o pagamento das parcelas, a rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL) continua em alta nas pesquisas de opinião. A PoderData, publicada nesta quinta (17), mostra que 56% dos brasileiros consideram o trabalho do presidente "ruim/péssimo".

Na semana passada, a pesquisa Ipespe também mostrou que a rejeição de Bolsonaro está alta e consolidada, com 64% dos entrevistados indicando que desaprovam o governo Bolsonaro.

As altas taxas de rejeição e desaprovação comprovam que a implementação do Auxílio Brasil como estratégia eleitoral fracassou.

Ao instituir o programa social com prazo de validade até o final de 2022, o governo pretendia criar uma espécie de "dependência" com a parcela de eleitores que participa do programa. Por essa lógica, aqueles que precisam do Auxílio Brasil, votariam em Bolsonaro para garantir a continuidade do programa.

O problema é que esse perfil de eleitores não confia no atual presidente. Segundo a pesquisa Genial/Quaest de fevereiro, a rejeição de Bolsonaro é maior no Nordeste (61%), entre as mulheres (54%) e aqueles que recebem até dois salários mínimos (57%), principais beneficiários do Auxílio Brasil. Segundo o governo, 17 milhões de famílias estão inseridas no programa.

A chantagem eleitoral que Bolsonaro tentou implementar não funcionou. Pior: expôs as intenções do pré-candidato à reeleição que, em vez de elaborar uma política de Estado, perene e duradoura como era o Bolsa Família, transformou a fome e a miséria em moeda de troca e estratégia eleitoreira.

Essa prática acaba favorecendo o ex-presidente Lula na disputa, principal oponente de Jair Bolsonaro, e a quem a imagem do Bolsa Família está atrelada. A memória da vulnerabilidade social extrema não se apaga com promessas temporárias.

Mas, ainda, nada está definido na disputa pela Presidência da República. A pesquisa PoderData mostra que houve uma leve retração dos eleitores que declararam votar em Bolsonaro e em Lula. Em um cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Lula, o atual presidente perdeu dois pontos percentuais e o ex-presidente perdeu quatro. Na edição desta quinta (17), Lula teria 50% dos votos e Bolsonaro teria 32% dos votos, ambos com menos do que há 15 dias.

Por enquanto, o importante é observar como esse cenário se configura nas próximas pesquisas. Pode indicar uma margem maior de pessoas que não está segura de votar em nenhum dos dois favoritos. Nesse caso, o espaço alternativo estaria vivo.