Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Violência e desumanidade marcam gestão Bolsonaro e impactam voto feminino
A avaliação negativa do governo de Jair Bolsonaro (PL) em janeiro de 2022 repete o índice de 50%, registrado também em dezembro de 2021, segundo a pesquisa da Genial Investimentos e Quaest Consultoria, publicada nesta quarta (12). A avaliação positiva subiu um ponto percentual, dentro da margem de erro (22%).
O descontentamento com o governo persiste, apesar do Auxílio Brasil, que teve impacto localizado no Norte e no Nordeste, regiões que mais recebem o benefício. Mas com os três anos de Bolsonaro no poder, foi possível constatar a maneira como Jair e seus ministros operam e entender quais são as suas prioridades.
Duas características se tornaram evidentes: o público enxerga o presidente do Brasil como violento e desumano. Segundo a socióloga Esther Solano, professora da Unifesp, que pesquisa a percepção sobre o governo, aqueles que votaram em Bolsonaro e se arrependeram ou que são críticos ao seu governo veem "um governante autoritário e intolerante". Com a pandemia e o boicote à vacinação, "o eleitorado enxerga também a sua falta de humanidade".
"Bolsonaro é um sujeito que foi eleito como homem de bem, de família, religioso, mas que no final das contas debocha dos mortos, não só descuida da família brasileira, como ri de sua dor, do sofrimento. Esses dois pontos —a violência e falta de humanidade— são muito relevantes nas pesquisas e impactam mais a maioria das mulheres, que atuam na lógica do cuidado e na estabilidade da família", afirma Esther.
Por isso, ao aproximarmos a lupa dos diferentes perfis de eleitores, é possível constatar que Bolsonaro é rejeitado principalmente pelas mulheres: 55% avaliam o seu governo como negativo na pesquisa de hoje. O público feminino, que corresponde a 52% dos eleitores, é desde sempre o maior entrave de Jair.
O governo Bolsonaro tem avaliação negativa de 44% no eleitorado masculino.
"Bolsonaro mobiliza uma masculinidade que se constrói na agressividade, na violência, na exclusão do outro. Esse protótipo violento e agressivo, radicalizado, impacta diretamente na construção do feminino e no que ele supõe", afirma a socióloga. "O que ele significa, o que ele é, como ele age, a sua personalidade e sua forma de governar impactam fundamentalmente no público feminino pela maneira como ele constrói essa masculinidade autoritária, violenta, desumana e absolutamente destrutiva."
A desumanidade do presidente do Brasil é demonstrada diariamente. Sua postura com a vacina é um termômetro importante para perceber esse ponto. Quando se refere à imunização de crianças, o quadro é ainda mais delicado e se direciona principalmente à maternidade e ao público feminino —justamente o eleitorado que ele precisaria conquistar.
Impacto no Norte e Nordeste
O Auxílio Brasil teve impacto no Norte e no Nordeste, regiões onde sua avaliação negativa diminuiu mas continua alta (42% e 56%). Se esse mesmo quadro se mantiver nas próximas pesquisas, a aposta do governo no benefício social pode ter funcionado para segurar o aumento da rejeição de Bolsonaro.
Mas nada garante que essa estagnação perdure. Zombar das perdas e do sofrimento, saudar a variante ômicron como "bem-vinda", pode custar a reeleição de Jair.
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