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Maria Carolina Trevisan

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mulheres preferem Lula a Bolsonaro, revela pesquisa Genial/Quaest

Pesquisa eleições 2022: Lula lidera, mas Bolsonaro diminui vantagem - Reprodução Redes Sociais
Pesquisa eleições 2022: Lula lidera, mas Bolsonaro diminui vantagem Imagem: Reprodução Redes Sociais

Colunista do UOL

16/03/2022 13h06

A pesquisa Genial/Quaest publicada nesta quarta (16) mostra que o eleitorado feminino prefere votar em Lula (PT) do que escolher Jair Bolsonaro (PL). Na pergunta estimulada sobre intenção de voto para presidente no primeiro turno, 48% das mulheres afirmaram votar no petista, enquanto apenas 20% disseram preferir Bolsonaro. Em terceiro lugar está Ciro Gomes (PDT), com 7%, seguido de Sérgio Moro (Podemos), que registrou 5% da preferência das eleitoras.

"O governo Lula teve políticas públicas voltadas para mulheres e essa memória está presente até hoje", afirma a cientista social Beatriz Della Costa, cofundadora e diretora do Instituto Update, organização que estuda a inovação política. Uma das maiores lembranças do eleitorado feminino dos anos de governo Lula é o programa Bolsa Família, que privilegiou, desde o início, as mulheres como responsáveis pelo recebimento do benefício financeiro.

Favorecê-las no Bolsa Família teve impacto tão grande que foi capaz de mudar as relações de gênero, ao dar mais autonomia financeira para as chefes de família. Isso se refletiu na proteção de crianças e adolescentes, na maior frequência à escola e na atenção à saúde.

O governo Lula também criou a Secretaria de Políticas para Mulheres, em 2003, que teve como primeira ministra-chefe a médica e pesquisadora Nilcéia Freire. A secretaria elaborou e estimulou iniciativas voltadas às demandas específicas das mulheres.

Um dos marcos mais importantes de enfrentamento à violência contra a mulher foi a Lei Maria da Penha, criada em 2006 e sancionada pelo então presidente Lula. As mulheres não esquecem.

A rejeição desde sempre alta que o presidente Jair Bolsonaro amarga em relação às mulheres é uma consequência do que ele mesmo fomentou. Jair nunca escondeu seu desprezo pelas mulheres. O que pensa remete às cenas protagonizadas no Salão Verde da Câmara dos Deputados, em 2003, quando insultou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), feito que repetiu em 2014, e pelo qual teve que pagar indenização de R$ 10 mil por danos morais. Depois se referiu à filha caçula como uma "fraquejada", em 2017. Este ano, nas homenagens ao Dia da Mulher, Bolsonaro coroou seu pensamento ao dizer que as mulheres estão "praticamente integradas à sociedade".

Em seu mandato, Bolsonaro ofendeu jornalistas mulheres em diversas ocasiões e chegou a incentivar a exploração sexual no âmbito do turismo em uma de suas lives. "O comportamento machista que Bolsonaro promove legitima que outros homens façam o mesmo", afirma Beatriz Della Costa.

Nas políticas públicas, o presidente colocou à frente da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, a ministra Damares Alves, que tem implementado políticas de perfil assistencialista, ideológico e pontual.

Damares também lidera uma aliança antiaborto internacional. O direito ao aborto legal e seguro é um debate mundial importante para as mulheres, com o objetivo de evitar mortes, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela também tentou desestimular a educação sexual nas escolas — uma das formas mais relevantes de prevenção da violência contra a mulher — e quis banir dos livros e do ambiente escolar o que chama de "ideologia de gênero", um conceito pejorativo usado por ultraconservadores, muitas vezes ligado a fundamentalistas religiosos, contra os avanços nos direitos sexuais, reprodutivos e de igualdade de gênero.

A ministra esteve envolvida na tentativa de impedir a interrupção da gestação de uma menina de 10 anos, vítima de violência sexual doméstica, sobrepondo ideologia e crença religiosa aos direitos da menina, que teve que trocar de identidade e mudar de residência diante das ameaças que sofreu.

De maneira menos direta, o fato de Bolsonaro ter trabalhado contra a vacinação infantil, de privar a própria filha do imunizante, e de ter negligenciado a gravidade da pandemia pega no sentimento negativo do público feminino.

Essas ações, falas, atitudes ficam marcadas na imagem do presidente Jair Bolsonaro. Para tentar conter a alta rejeição no eleitorado feminino, que corresponde a 52,5% do total de eleitores, Bolsonaro tem se aproximado publicamente da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Mas o perfil de Michelle é semelhante ao de Damares: religiosa, ultraconservadora e assistencialista. Não é o suficiente para mudar a percepção das mulheres sobre o pré-candidato à reeleição.

Importante frisar que, no contexto do governo Bolsonaro, a violência sexual contra a mulher vem aumentando: em 2021, uma mulher foi estuprada a cada 10 minutos, 3,5% a mais que em 2020, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É urgente atuar sobre essa pauta.

Lula, Bolsonaro, Ciro, Moro, Dória ou qualquer candidato que tenha a pretensão de ganhar a Presidência em 2022, terá de considerar os direitos das mulheres como agenda prioritária em suas campanhas.