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Por que o noticiário da Record está detonando tanto o ministro Paulo Guedes
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Quem acompanha os noticiários da Record sabe, já faz tempo, que a emissora não alimenta maior simpatia pelo ministro Paulo Guedes. Desde 2020, pelo menos, a emissora vem expondo uma visão bastante crítica em relação ao desempenho do titular da pasta da Economia, a quem atribuiu "falta de sensibilidade com os mais pobres".
Mais recentemente, porém, o tom crítico do noticiário recrudesceu e está chamando a atenção. Na última semana de setembro, houve a exibição de uma série especial no "Jornal da Record" sobre inflação. Sem mencionar o nome do presidente Jair Bolsonaro, com quem a emissora segue alinhada, o telejornal ouviu economistas que fizeram críticas duras ao ministro Guedes, atribuindo a ele parte da responsabilidade pela alta inflação no país.
Desde domingo (03), após a divulgação da notícia de que Guedes mantém uma empresa offshore milionária, nas Ilhas Virgens Britânicas, o tom crítico do noticiário na Record voltou a se intensificar. Na quinta-feira (07), o "Jornal da Record" deu enorme espaço para a pichação na sede do Ministério da Economia e ao pedido de impeachment do ministro. "Não é de hoje que o presidente Bolsonaro é pressionado por aliados a demitir o ministro da Economia. Mas o presidente resiste às sugestões e mantém Paulo Guedes no cargo", disse o repórter Thiago Nolasco.
Nesta sexta-feira (08), a emissora compartilhou os resultados de uma pesquisa que encomendou sobre o desempenho do ministro. Para 64% dos 1.000 entrevistados por telefone pelo instituto Realtime BigData, o presidente Bolsonaro deveria demitir Guedes.
O descontentamento da Record com Guedes pode ser entendido no contexto das relações do partido Republicanos, ligado à Igreja Universal, com o governo Bolsonaro. Como mostra a crônica política, também há insatisfação do partido com situações que passam pelo Planalto e o Congresso.
Integrante do chamado centrão, o Republicanos faz parte da base parlamentar de apoio do presidente. Em fevereiro, após a eleição de Artur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados, o partido foi contemplado com um ministério, o da Cidadania, que passou a ser comandado pelo deputado federal (hoje licenciado) João Roma, da Bahia.
Uma das atividades mais importantes do ministério é a gestão do Bolsa Família e do auxílio emergencial. Desde setembro, há um impasse no Congresso em relação ao Orçamento de 2022 que afeta diretamente o reajuste do auxílio governamental aos estratos mais carentes da população. Na proposta inicial do governo, enviada no início de setembro, o Bolsa Família não teria reajuste nenhum no ano que vem.
Em 13 de setembro, a coluna de Lauro Jardim, em "O Globo", publicou uma nota intitulada "Republicanos frustrados", informando que o assunto estava irritando os parlamentares do partido. A nota dizia: "Deputados dizem que a pasta tem 'pouca expressão' e não lhes dá nada a anunciar ao eleitorado".
Ainda segundo a nota, lideranças estaduais do partido estariam "em flerte com a candidatura Lula". A coluna registrou, ainda, que no dia 8 de setembro, um dia após os atos antidemocráticos comandados por Bolsonaro, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira, publicou um vídeo no qual disse que "alguns gastam tempo e energia promovendo brigas e discórdias".
Na quarta-feira (06), a Câmara dos Deputados aprovou, com 310 votos favoráveis e 142 contrários, a convocação de Guedes para dar explicações no plenário da Casa sobre a offshore em paraíso fiscal. O Republicanos recomendou aos seus deputados que aprovassem a convocação: 22 votaram "sim", 4 votaram "não" e 5 não votaram.
Nesta sexta-feira, o jornalista Josias de Souza, colunista do UOL, informou que o centrão tem segundas intenções na fritura a Guedes. "Caciques do bloco partidário que supostamente apoia o governo no Congresso tramam nos bastidores o desmembramento do Ministério da Economia, que absorveu várias pastas no início da gestão Bolsonaro", escreveu Josias.
"O centrão defende que sejam recriados pelos menos três ministérios: Indústria e Comércio, cobiçada pelo Republicanos; Transportes, ambicionado pelo PL; e Planejamento, reivindicada pelo PP", acrescentou o jornalista.
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