Natália Portinari

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Reportagem

Busca na Abin teve reunião de emergência e disputa com a PF

A operação da Polícia Federal da última quinta-feira (25) na sede da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Brasília, gerou momentos de tensão entre a cúpula da agência e os policiais federais que efetuavam as buscas.

O diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, convocou uma reunião com os diretores no momento da operação e, segundo depoimentos colhidos pela PF, criticou as unidades que prestaram apoio para a investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) e da PF sobre irregularidades na agência.

Segundo os depoimentos, Corrêa demonstrou irritação e se referiu ao grupo que estava colaborando com as investigações como "bandalha". Hoje à frente da Abin, Corrêa foi diretor da Polícia Federal entre 2007 e 2011, no segundo governo Lula.

A investigação da PF mira as ações de inteligência de um grupo constituído por Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da agência no governo Bolsonaro (e hoje deputado federal). Essa equipe ficou conhecida como "Abin paralela".

Policiais federais que foram emprestados para a agência teriam executado ações de inteligência contra adversários de Jair Bolsonaro que não passavam pelos trâmites formais da Abin. Essas "missões" envolviam monitoramento e dossiês sobre políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros alvos de interesse.

Na quinta-feira, a diretoria da Abin também questionou os termos do mandado de busca e apreensão da PF, se negando a fornecer material relacionado ao trabalho dos policiais federais, dizendo que não havia uma autorização específica para acessar a rede da Abin.

Para resolver o impasse, a Polícia Federal pediu que fossem expedidos novos mandados judiciais para incluir que as buscas poderiam se estender a quaisquer dados detidos pela agência, além de material encontrado na residência e do local de trabalho atual dos policiais federais.

Os novos mandados de busca e apreensão foram editados para incluir também uma cláusula dizendo que, se houvesse mais obstruções durante as buscas, deveria ser realizada a prisão em flagrante.

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Ao UOL, após a publicação dessa reportagem, a Abin afirmou que "ocorreu uma reunião às 11h com as unidades da agencia saber o que estava ocorrendo", que seria uma "reunião normal de gerenciamento de crise".

"Não houve obstrução de justiça, pelo contrário. A área jurídica da Abin (disse) que estava faltando um mandado para uma situação específica de busca. Nesse sentido, solicitaram que a formalidade fosse realizada. As demais buscas e diligências ocorreram normalmente, enquanto o novo mandado não chegava."

A PF cumpriu 21 mandados de apreensão com buscas em Brasília, Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro.

Uma das buscas ocorreu no Caop (Comando de Aviação Operacional) da Polícia Federal, chefiado até essa semana pelo delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, um dos suspeitos de integrar a "Abin paralela".

No local, foram encontradas provas de que documentos foram queimados recentemente. A perícia da Polícia Federal tenta descobrir do que se tratam os papéis incinerados.

Na residência dos alvos, agentes da Polícia Federal foram surpreendidos também com o que consideraram sinais de um patrimônio incompatível com a renda dos policiais, com carros e imóveis de luxo.

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Uma das linhas de investigação aponta que pode ter havido um desvio da verba secreta da agência, ao qual o grupo de Ramagem tinha acesso.

Em nota, a Abin diz que vem colaborando com os inquéritos sobre "eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021". "A Abin é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", disse a agência.

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