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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro será a primeira vítima do seu discurso contra a urna eletrônica

30.jul.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em discurso no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters
30.jul.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em discurso no Palácio do Planalto Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

03/08/2021 09h05Atualizada em 03/08/2021 09h05

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O feitiço contra o feiticeiro: como Bolsonaro ganhou a eleição presidencial em 2018?

Houve fraude nas eleições de 2018? O capitão diz que sim. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vai investigar.

Estimulado pelas declarações do capitão, o TSE agora vai desvendar como se deu a inundação de fake news nas últimas eleições. O capitão foi vitorioso, e, como ele mesmo diz, houve fraude. Então, vai se investigar o que aconteceu.

A notícia: "O Plenário do TSE aprovou a proposta do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, de converter em inquérito administrativo o procedimento aberto para que autoridades públicas do país pudessem apresentar provas que comprovassem ocorrências de fraudes no sistema eletrônico votação nas Eleições de 2018, em particular nas urnas eletrônicas".

Na prática, o capitão terá oportunidade de ver exposto claramente como ganhou as eleições. As suspeitas sobre fraude na urna eletrônica vão mostrar mais do que o capitão reformado gostaria de ver investigado. Por exemplo, quem financiou e como foram fabricadas as fake News que inundaram contas de WhasApp de milhões de brasileiros.

As falas institucionais, duras e responsáveis, dos presidentes dos Tribunais, Luiz Fux, no STF, e Luiz Roberto Barroso, no TSE, ainda que possam mobilizar consciências e fortalecer convicção quanto à importância das instituições e a confiança no sistema eleitoral, pouco abalam as hostes comandadas por um ignorante, igualmente descompromissadas com os fatos, com a realidade, com a ciência. Foram contundentes, lúcidas, ordenadas, civilizadas, consequentes as palavras dos chefes do Judiciário. Insuficientes para conter a sanha despótica do capitão e da fome de poder dos seus vassalos.

Não é pelo discurso que o capitão se intimida. O recado dado por Fux, de que "não há o direito à impunidade" àqueles que desafiam a lei, a democracia, o estado de Direito, tem no TSE a ação consequente mais tangível. Embora, a investigação no STF, em inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, seja um motivo de preocupação para o capitão, ele conta com a barreira do Aras, dileto protetor do seu mandato.

Porém, investigar as eleições prescinde de consulta à PGR (Procuradoria Geral da República). E o capitão quer saber se o sistema é frágil. O TSE vai identificar essa fragilidade pelo uso abusivo das redes pelas milícias digitais, num claro "terrorismo virtual", como se referiu à disseminação das mentiras, o ministro Barroso.

O coro dos líderes do Judiciário, gritando pela constitucionalidade, pelos direitos da cidadania, pelo respeito às instituições, pela defesa das ações de governo que contemplem as necessidades do povo - saúde, educação, segurança - ganhará força diante de um iminente reconhecimento de que em 2018 o capitão pode ter fraudado as eleições. É o feitiço contra o feiticeiro.

Enquanto isso, no Congresso, sibilinos e descolados da grandeza do Poder Legislativo, líderes confabulam para dar ao capitão a sua cloroquina, o voto impresso. A desfaçatez terá o nome gravado na história dos covardes e bufões, que desejam voltar à fraude fácil do voto impresso, mantendo no cabresto os submetidos pelo medo e pela pobreza.

Mas, até que isso aconteça, segue a investigação. Como o capitão ganhou a eleição em 2018?