Dólar dispara e políticos dizem que Haddad não cai por medo do substituto
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já teve muitas fases difíceis no governo Lula, mas vive hoje, sem dúvida, seu pior momento até aqui. Nesta quarta-feira (12), um rumor de que ele poderia pedir demissão sacudiu o mercado e, mesmo sem ninguém levar a sério, fez o dólar disparar.
Já havia um movimento de desvalorização das moedas dos países emergentes, mas, por causa do boato, o dólar chegou a bater R$ 5,429 na máxima do dia. Na sexta-feira da semana passada, o mesmo ataque especulativo: frases dele foram deturpadas num encontro com analistas e banqueiros e o ministro teve que vir a público se explicar.
O que levou o mercado a esse ponto de volatilidade?
A situação de Haddad começou a se complicar dois meses atrás, quando houve a alteração na meta de déficit primário para 2025. Um movimento que já era esperado, mas que coincidiu com uma mudança de ventos no exterior. Ficou mais claro que os Estados Unidos cortariam menos os juros, tirando capital dos mercados emergentes.
Com menos dólares sobrando por aqui, o mercado ficou mais atento ao tamanho do problema fiscal. E agora parece que a ficha finalmente caiu. Os investidores se deram conta que o arcabouço do ministro ficou insustentável, porque está baseado apenas em aumento de receita. As eleições municipais se aproximam e o Congresso dá sinais que não vai mais aprovar aumentos significativos de tributação,
Pelo contrário. Deputados e senadores começaram a fazer o ministro engolir contas imensas, como o "jabuti" da desoneração da folha de pagamento para os municípios. Haddad diz agora que vai apresentar um cardápio de corte de gastos para o presidente, como, por exemplo, propostas para alterações nos pisos do orçamento para educação e saúde.
Só que ninguém acredita que Lula, que é mais adepto da política do "gasto é vida", vai referendar esse tipo de medida às vésperas de uma eleição municipal. Politicamente é um tiro no pé, embora deixar o dólar explodir também seja. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é semana que vem e tudo indica que, com a inflação em alta, o Banco Central pode interromper a queda de juros.
Para completar, Haddad embarcou na desastrada medida provisória do PIS/Cofins. Ele até tinha razão na justificativa para editar a MP, que era encontrar uma fonte de receita para a desoneração da folha de pagamento. No entanto, eliminar a possibilidade de compensação cruzada de crédito tributário de praticamente todos os mais importantes setores da economia foi uma briga pesada demais.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, acabou devolvendo a medida. E menos mal que tenha sido ele quem tomou a iniciativa. Lula já havia deixado claro a Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que pediria a MP de volta, o que seria um sinal evidente de desautorização de Haddad.
Um ministro da Fazenda só cai quando perde o apoio do presidente da República. Lula já desautorizou Haddad muitas vezes e, certamente, está insatisfeito com ele. Hoje, em evento no Rio de Janeiro, o presidente circulava para cima e para baixo com Aloísio Mercadante, chefe do BNDES. Mas talvez Mercadante seja a maior garantia para Haddad de que ele fica no cargo, pelo menos, por enquanto.
Políticos e agentes de mercado ouvidos pela coluna dizem que o ministro pode ter errado na medida provisória, mas é bem intencionado e vem cuidando com zelo da economia do país. Já o nome de Mercadante causa arrepios. Nas palavras de um senador, Haddad hoje não cai porque ninguém duvida que o substituto seria bem pior.
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