Sabesp só teve um investidor por causa do tamanho do cheque, diz Tarcísio
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse ao UOL que a privatização da Sabesp só atraiu um investidor de referência, entre outros fatores, por causa do "tamanho do cheque".
Grupo com tradição no setor de energia mas pouca experiência em saneamento, a Equatorial comprou 15% das ações da Sabesp por R$ 6,9 bilhões. Outros 17% foram arrematados por investidores físicos e jurídicos em bolsa. No total, o governo de São Paulo vendeu 32% das ações por R$ 14,8 bilhões.
"Alguns candidatos tiveram dificuldade com o tamanho do cheque. Foi a maior ordem individual da história do Brasil", disse Tarcísio.
O governador vem sendo criticado pela oposição por um suposto favorecimento da Equatorial Energia.
A liderança do PT na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) enviou uma representação ao Ministério Público pedindo a apuração de um suposto conflito de interesse na atuação da presidente do conselho de administração da Sabesp, Karla Bertocco. Até dezembro de 2023, a executiva estava no conselho da Equatorial.
Tarcísio nega qualquer tipo de favorecimento. Ele diz que as exigências do modelo de privatização escolhido reduziram a concorrência. Ao optar por um investidor de referência, o governo estadual exigiu dele compromisso com a universalização do saneamento até 2029, não vender sua participação até lá e abrir mão de ser controlador.
"Pílula do veneno" afastou concorrência
O governador conta que a francesa Veolia se interessou pela Sabesp, mas exigia ter participação majoritária na empresa e poder de mando. A Aegea, líder do mercado de saneamento privado no Brasil, também avaliou o negócio, mas ficou com receio da chamada "pílula de veneno".
A "pílula de veneno" é uma cláusula que obrigaria a Aegea a adquirir a totalidade das ações da Sabesp caso sua participação e de seus acionistas, somadas, ultrapasse no futuro 30%. São sócios da Aegea os grupos Equipav, GIC e Itaúsa.
"A Sabesp agora é privada, mas o Estado continua lá dentro. Isso vai facilitar a obtenção de licenças e também a não elevar as tarifas. Com muito investimento, a tarifa cresce. O Estado vai funcionar com um amortecedor da tarifa", disse Tarcísio.
A promessa do governo estadual é uma redução imediata de 10% na conta de água para as famílias de baixa renda do Cadastro Único, 1% para os demais consumidores residenciais e 0,5% para os consumidores comerciais.
O governo de São Paulo manteve 18% de participação acionária na Sabesp e três cadeiras no conselho de administração. Sua participação é praticamente igual ao do acionista de referência (15%), que tem também a mesma quantidade de cadeiras no conselho.
É o oposto do processo de privatização da Eletrobras em que o governo federal ficou com 40% das ações, mas detém apenas uma vaga no conselho. Esse ponto da venda da gigante de energia é questionado pela Advocacia Geral da União (AGU) no Supremo Tribunal Federal (STF).
"O governo estadual adotou uma postura cautelosa e quis preservar a Sabesp. Optou por não vendê-la totalmente e evitar que ela fosse apropriada por outra estratégia de negócio. Por isso pagou um preço em termos de concorrência", disse Percy Soares Neto, ex-diretor da Abcon (Associação Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto).
Para o economista e ex-presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, "a redução do número de concorrentes é normal num 'modelo Embraer' quando se busca um acionista de referência, porque nem todos se interessam".
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Tarcísio projeta que as ações da Sabesp vão atingir R$ 120 em quatro ou cinco anos — portanto durante seu segundo mandato, se ele for reeleito. Os papéis foram vendidos a R$ 67 na privatização e hoje estavam sendo negociados a R$ 87.
"A valorização dos papéis vai ocorrer, porque a base de ativos da empresa vai dobrar com os investimentos e teremos um ganho de eficiência. Essa participação remanescente do Estado vai valer mais do que os quase R$ 15 bilhões que conseguimos agora", disse o governador.
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