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Raquel Landim

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Reportagem

'Mentor' de Marçal está preso e tem método mais eficiente que os Bolsonaros

O candidato Pablo Marçal está empatado na liderança das pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo com uma campanha baseada exclusivamente nas redes sociais e já disse em entrevistas que se inspirou em um influenciador britânico -americano: Andrew Tate.

É uma espécie de Steve Bannon do candidato do PRTB, com a diferença de que Tate nunca aplicou seus conhecimentos de redes sociais para a política, mas para fazer dinheiro. Exatamente como Marçal vinha fazendo, até agora.

Mas quem é ele? Como seu método funciona? E por que é superior aquele utilizado pelos Bolsonaros?

Emory Andrew Tate III, 37 anos, é filho de um astro do xadrez e foi atleta de kickboxing entre 2005 e 2016. Quando se aposentou do esporte, entrou para a versão britânica do reality Big Brother e viralizou com postagens racistas e homofóbicas. Acabou expulso do reality depois de um vídeo em que agride uma mulher com um cinto.

Tate se tornou um ícone do movimento "red pill", que prega a "retomada" da masculinidade através da misoginia. Hoje ele está em prisão domiciliar na Romênia, acusado de tráfico humano, estupro e formação de organização criminosa para explorar sexualmente mulheres. O influenciador nega as acusações.

Em 2022, Tate se tornou o nome mais buscado no Google, superando o astro Justin Bieber e o presidente Joe Biden, apesar de todas as suas redes terem sido banidas por comentários machistas e homofóbicos, com exceção do Youtube.

E ele conseguiu isso através de um método que criou para trabalhar as redes e é esse método Marçal já disse publicamente que copia - embora nunca tenha endossado os crimes do seu "mentor".

Tate passou a contratar e pagar adolescentes e subempregados para cortar seus vídeos e impulsionar seus conteúdos. Recrutou um verdadeiro "Exército". E os pagamentos vêm de todas as formas: por visualização, por campanha, por lançamento, com concursos por rankings, prêmios em dinheiros, até visitas à sua mansão na Romênia.

Em uma entrevista à Jovem Pan, Marçal afirmou que tem "4 mil pessoas no seu campeonato de corte" e que "paga até um dinheiro relevante". "Eu modelei um americano que fez isso e se tornou o cara mais pesquisado do mundo na Internet", afirmou o candidato.

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"Mas só tinha vídeo bonzinho. Daí o pessoal começou a perguntar e eu percebi que os vídeos polêmicos tinham 40 milhões de visualizações. É isso aqui que eu quero", completou.

De acordo com Ícaro de Carvalho, um dos maiores especialista em redes sociais do país, é por isso que Marçal troca de boné, de camisa, ataca os adversários, protagoniza cenas engraçadas e deprimentes, não responde entrevistadores e candidatos. "O Pablo vira uma realidade paralela, que alimenta um mundo de cortes e distribuição", diz.

Para o especialista, a liminar que derrubou as redes sociais de Marçal por abuso de poder econômico por conta do pagamento dos seguidores para produzir os cortes foi totalmente ineficaz.

"Derrubar a conta principal é indiferente, porque todo seu tráfego, sua entrega, seus cortes, estão fora de lá. A sua página é apenas o local de pouso, uma vitrine. A suspensão das redes só serviu para os jornalistas falarem disso e levarem os novos seguidores para a nova página", afirma.

7 x 1 no Bolsonaro

Para o professor João Cezar de Castro, da UERJ, o método de Marçal/Tate é muito mais eficiente do que o utilizado por Jair Bolsonaro na campanha de 2018, inspirado em Steve Bannon.

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Naquela época, a grande novidade foi o microdirecionamento digital - a campanha não era mais voltada para propostas, mas para o usuário. Cada grupo recebia uma mensagem diferente por meio das redes sociais.

E os bolsonaristas utilizavam para isso uma rede de disparos em massa em grupos de WhatsApp e perfis no Twitter - alguns perfis falsos e outros verdadeiros. Mas nada disso envolvia pagamentos diretos de usuários para a produção e distribuição de cortes de vídeo.

"O que o Andrew Tate e o Marçal fazem é até difícil de comparar com os Bolsonaros. É outra escala. Perto deles o Carlos Bolsonaro é um menino talentoso da quinta série", diz Castro.

Ele pondera, no entanto, que o método de Marçal está fora da lei, porque a legislação eleitoral não permite o pagamento de seguidores para a produção de cortes. Tanto que isso ainda não tem sido utilizado em outros países e já estão sendo movidas ações contra Marçal.

Castro acredita que a Justiça Eleitoral vai acabar proibindo a prática. Ícaro de Carvalho discorda. "Depois do que o Pablo fez, todo candidato vai contratar uma estrutura parecida. Em 2026, a eleição inteira vai ser assim".

Essa matéria é um dos destaques do programa "Radar das Eleições", toda terça-feira no canal do UOL

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