Raquel Landim

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Opinião

Trump erra ao mirar Biden no debate e esquece que sua adversária é Kamala

Um trecho do debate entre Donald Trump e Kamala Harris revela um dos principais erros do candidato republicano não só no confronto, mas também na campanha presidencial americana.

Questionado sobre a guerra na Ucrânia, Trump critica uma suposta fraqueza na mediação do conflito pelo presidente Joe Biden. E ataca:

"Onde está o presidente? Eles o escondem o tempo todo."

Em sua réplica, Kamala afirma:

"O senhor não está concorrendo com Biden, é comigo."

Obviamente Kamala é a vice-presidente, tem que responder pelos fracassos e sucessos do governo Biden, e a situação não está fácil. Os Estados Unidos enfrentam uma inflação persistente e duas guerras muito sensíveis: Ucrânia e Israel.

Só que os democratas trocaram o candidato quando Biden desistiu de tentar a reeleição. E Trump não vira o disco: continua insistindo que é o mais forte, corajoso e viril para liderar os Estados Unidos.

Se o discurso colava num confronto com um Biden confuso e debilitado pela idade, ficou patético diante de Kamala. Trump tem 78 anos, Kamala, 59 anos.

A democrata estava evidentemente bem treinada. Ela forçou um aperto de mão logo no início do debate, uma civilidade que Trump recusava desde Hillary Clinton - afinal, faz parte de seu personagem.

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Enquanto Trump evitava olhar para a adversária, ela aproveitava as divisões de tela para encará-lo e para um riso debochado. Conseguiu colocar o republicano como um extremista maluco de uma forma que nem Biden, nem Hillary Clinton, alcançaram.

Num dos seus melhores lances, Kamala frisou que os líderes mundiais consideram Trump uma "desgraça" e tudo que o republicano conseguiu rebater foi citar o ditador da Hungria, Viktor Orbán. Segundo ele, Orbán teria dito que Trump faz falta e que China, Rússia e Coreia do Norte teriam medo dele.

Daí fica a pergunta de quem está assistindo: e quem entre os líderes globais se importa com o que pensa Viktor Orbán?

Outros temas delicados foram aborto e economia.

No aborto, a polarização era evidente. Kamala acusou Trump de "escolher juízes a dedo" e disse que 20 Estados já haviam proibido o procedimento por causa do republicano, penalizando as mulheres, que precisavam viajar para abortar fetos concebidos por estupro. Trump rebateu dizendo que apenas devolveu a competência para os Estados - algo que "todos queriam fazer".

Na economia, os candidatos trocaram farpas. "Todos sabem que ela é marxista", disse Trump. "Ele não tem plano para vocês. Só pensa nele", rebateu Kamala.

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Mas fato é que, por caminhos diferentes, ambos propõem um enorme aumento no déficit fiscal americano. O plano de cortes de impostos de Trump aponta para um rombo adicional de US$ 5,8 trilhões em 10 anos, enquanto Kamala, que chega a flertar com controle de preços, gastaria US$ 1,2 trilhão a mais.

Trump volta a falar em expulsar imigrantes e em aumentar as tarifas contra os chineses. Kamala o critica, mas o republicano rebate. "Se vocês não gostam de minhas tarifas contra os chineses, deveriam ter revogado", afirmou. Pois é. Ponto para Trump.

Os republicanos vão argumentar que a ABC estava "enviesada". E que seus âncoras fizeram perguntas mais duras para Trump. Além disso, a checagem estava ligeira, o que desfavorece o republicano. Mas não foi isso que deu o tom.

Talvez tenha sido o único debate entre os dois numa corrida apertadíssima. Não passaram despercebidas as referências dos candidatos ao programa "O Aprendiz", que fez do magnata Trump um sucesso.

Depois de Trump repetir seus ataques ao processo eleitoral americano, Kamala retrucou:

"Trump foi demitido por milhões de pessoas. Ele tem dificuldade para processar isso".

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Ela hoje é vice-presidente e é sua administração que está em jogo. Trump, tampouco, é um novato e os americanos já sabem o que esperar dele. É aguardar quem o eleitor vai demitir dessa vez.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava a primeira versão do texto, Viktor Orbán é ditador na Hungria, e não na Ucrânia. A coluna foi corrigida.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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