Rui Costa repete Mantega ao desafiar o mercado. E Lula, vai copiar Dilma?
As falas do ministro da Casa Civil, Rui Costa, nesta quarta-feira (30) tiveram um gosto de "déjà vu".
Em 19 outubro de 2014, Guido Mantega, já de saída do ministério da Fazenda, disse à Folha que iria "quebrar a cara" quem apostasse na disparada do dólar com a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais.
Quase 10 anos depois, Costa se irrita com a trajetória da moeda americana e repete a ameaça contra o mercado de que "quem apostar contra o Brasil vai perder", porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai fazer o ajuste fiscal que o país precisa.
Ninguém duvida das intenções do ministro, nem do governo, que vem sinalizando com um pacote de medidas de ajuste fiscal após as eleições municipais. O problema está no diagnóstico de qual é o ajuste necessário para as contas públicas nacionais.
Desde antes da gestão Lula 3, está instalada em Brasília uma queda de braço entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Enquanto Haddad tenta implementar o arcabouço fiscal e conter a despesa para que cresça abaixo da receita, garantindo, assim, um ambiente saudável para o Banco Central reduzir os juros, Costa acredita que gasto é investimento, que gera crescimento, e que basta disposição do BC para cortar a Selic.
O resultado desse embate é que o governo, ao longo dos meses, apresentou alternativas que focaram apenas no aumento de arrecadação, das quais o mercado e o Congresso cansaram, porque simplesmente não resolvem o problema. E investidores cansados começam a cobrar. O dólar já bateu em R$ 5,77.
Com o câmbio nesse patamar, o país parece ter chegado a uma espécie de inflexão econômica e política.
Se Lula não se convencer de que são necessárias medidas estruturais, que coloquem as contas numa tendência de ajuste, não adianta nenhum ministro vociferar. O dólar vai subir, a inflação vai crescer, o PIB pode desacelerar, e uma economia mais frágil aumenta as chances da oposição em 2026, que saiu fortalecida das urnas nas eleições municipais.
Caso contrário, se o presidente concordar com reformas, há uma boa chance de o mercado virar, o crescimento continuar embalado, quem sabe o Brasil voltar a ter o tão sonhado "grau de investimento", e os políticos se convencerem de que a reeleição de Lula é incontornável.
O que vai ser?
Costa parece tão teimoso quanto Mantega —felizmente ele não é o ministro da Fazenda.
Mas e Lula? Vai repetir a si mesmo em mandatos anteriores, ou hoje está mais parecido com Dilma?
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