Rodrigo Ratier

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Reportagem

As demandas ocultas da educação que nenhum candidato menciona (mas deveria)

Construção de creches, ampliação de escolas, garantia de vagas, merenda e transporte escolar. Em época de disputa para prefeito e vereador, a lista de promessas associadas à educação costuma contemplar itens dessa natureza. São importantes, claro, mas raramente concentram o essencial para um ensino de qualidade.

Alunos da escola Alzira Maria de Araújo, nota 10 no Ideb, em Pires Ferreira (CE)
Alunos da escola Alzira Maria de Araújo, nota 10 no Ideb, em Pires Ferreira (CE) Imagem: Divulgação

Em um certo sentido, a educação é afetada pelo mesmo "mal eleitoral" que aflige outra área basilar, o saneamento: ambas são fundamentais, mas as engrenagens que fazem tudo funcionar ficam "enterradas". No caso da coleta e tratamento de esgoto, literalmente. No exemplo da educação, diluídas ao longo do espaço e do tempo.

"Há um trabalho invisível que raramente é mencionado. No entanto, é o que mantém a educação de pé e pode ser a diferença para uma rede pública de qualidade", afirma a pedagoga Cybele Amado. Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia, Cybele fundou e dirigiu o Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), que trabalha em conjunto com municípios baianos para a melhoria da qualidade da educação. No Ministério da Educação (MEC), atuou, ao longo de 2023, como diretora de Formação Docente e Valorização dos Profissionais da Educação.

Diálogo com a ponta

Para Cybele, as principais pautas educacionais das eleições - construção de novas escolas e garantia de vaga em creche - são "genéricas". "Sempre é possível aprimorar, mas a qualidade estrutural das escolas brasileiras melhorou bastante nas últimas décadas", afirma.

Por outro lado, falta conhecimento básico sobre como funciona a educação brasileira e sobre o papel dos municípios nessa engrenagem. A função é central: por estarem mais próximos da ponta do que outros níveis de governo, prefeitos e sobretudo vereadores podem ser peças importantes em uma conexão direta com cada unidade de ensino.

"Se o prefeito instaurasse diálogo permanente sobre como ajudar cada escola, já seria um grande avanço." O ideal é utilizar as instâncias já existentes para esse contato: conselhos escolares, Fóruns Municipais da Educação, Conselhos Municipais da Educação, Associação de Pais e Mestres. "Assim se fortalece a institucionalidade da gestão democrática", diz Cybele.

Seguir formando quem ensina

Outra demanda esquecida é a necessidade de qualificar as equipes técnicas dos municípios. Para além de professores, coordenadores e diretores, as Secretarias Municipais de Educação contam com uma equipe de profissionais responsável por supervisionar a qualidade de ensino e apoiar as escolas — em suma, garantir que a rede funcione adequadamente. "Bons supervisores técnicos são fundamentais para a cadeia distributiva e a arquitetura da formação continuada", afirma.

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Cybele defende a necessidade de concurso público para reforçar as equipes com um perfil específico. "Não basta ser professor: entender o campo da gestão faz diferença." Nesse aspecto, a especialista sugere prioridade à formação continuada — a capacitação permanente que precisa ser oferecida aos professores que já estão atuando na rede.

Bons resultados sem um núcleo escolar com boa formação não é possível. A formação continuada ainda não tem o lugar que deveria ter. Meu sonho é instituir centros de formação continuada e, a partir deles, construir políticas públicas de formação. Não basta lançar projetos e programas isolados, como propõem diversas candidaturas. Não é sustentável nem durável. Um centro de formação poderia garantir essa institucionalidade.
Cybele Amado, pedagoga mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia

Na rede, uma escola ajuda a outra

A especialista faz também a defesa da colaboração — seu tema de pesquisa e sua especialidade de ação. A ideia parte da própria definição da palavra: trabalhar junto, o que pode ocorrer em várias camadas. Num nível intraescolar, pode-se fomentar dentro da escola a colaboração entre professores. Para isso, o gestor público precisa pensar em medidas como mudança de calendário, reorganização total ou parcial dos horários das disciplinas e fortalecer os colegiados — que, afinal, são os espaços em que os docentes podem dialogar sobre o dia a dia da escola.

O segundo nível é o interescolar, com uma escola compartilhando com a outra as boas práticas e soluções para problemas que todo mundo enfrenta. Dali parte-se para o nível territorial, envolvendo primeiro os bairros, no diálogo entre as redes municipal e estadual, e depois os municípios. "Nem todo mundo que trabalha no município é do município. Boas ideias começam a reverberar para os vizinhos."

Não custa olhar com atenção os planos de governo de seu candidato ou candidata para saber se algum desses pontos mereceu atenção.

Reportagem

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