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Ronilso Pacheco

Juventude negra nos EUA quer Trump fora; Biden é apenas uma alternativa

                                 Jovem negro diante de forças de segurança, em protesto contra a violência policial nos Estados Unidos -                                 SETH HERALD/AFP
Jovem negro diante de forças de segurança, em protesto contra a violência policial nos Estados Unidos Imagem: SETH HERALD/AFP

26/10/2020 10h36

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A pesquisa publicada ontem nos Estados Unidos pela rede de TV CBS e o instituto BET Poll, ajuda a fazer um bom esquadrinhamento da participação dos eleitores negros nas eleições que estão por vir, e já teve votação em alguns estados.

Indiscutivelmente, a maioria esmagadora está com Joe Biden. A pesquisa mostra que 90% estão com o candidato Democrata, e apenas 8% tendem a votar em Donald Trump. Não chega a surpreender, pois é um raio-X dos últimos meses, desde que as tensões raciais voltaram a explodir no país com o assassinato de George Floyd no final de maio.

De lá para cá, a estratégia de Trump (se é que se pode chamar assim) foi de radicalizar o discurso, tentar criminalizar o Black Lives Matter e bater de frente publicamente com personalidades negras do nível de um LeBron James. Além disso, Trump mantém sua ironia, flertando de forma tolerante e conivente com grupos supremacistas brancos que o apoiam.

Por tudo isso, o resultado da pesquisa, com esta divisão tão profunda, está dentro do esperado. No entanto, as variações das respostas, quando divididas por idade, dão um sinal que merece atenção, principalmente dos Democratas, mas também para nós que precisamos entender a complexidade do momento hoje nos Estados Unidos, e possamos, quem sabe, pensar no Brasil, em contexto semelhante.

Quando perguntada as razões de se votar em Biden, 50% dos negros acima dos 65 anos afirmam que votarão porque gostam dele. Este número, no entanto, cai para 28% entre os negros mais jovens, com idades entre 18 e 29 anos.

Em caminho quase inverso, 45% dos eleitores negros mais jovens dizem que votarão em Biden porque ele é o que há para derrotar Trump. Esta mesma razão é afirmada por 25% dos eleitores mais velhos.

Em outra questão, a confiança de que o seu voto será contado corretamente, 53% dos eleitores negros acima dos 65 anos confiam bastante. Mesmo os com idade entre 44 e 64 anos confiam 42%. Mas apenas 25% dos mais jovens confiam que seu voto será de fato contado correta e justamente.

Essa divisão geracional diz muito sobre o momento da pauta racial, e das implicações das lutas antirracistas hoje no país. Grande parte de uma geração muito mais próxima e identificada com o Black Lives Matter (que surgiu em 2013) demonstra uma profunda frustração com a política americana e a seriedade do compromisso dos democratas com mudanças estruturais.

Esta é uma geração que parece ter perdido a confiança de que a mudança que significaria mais segurança e oportunidade para as suas vidas, seja empreendida pelo mesmo sistema que as compromete. Esta era a esperança e a fé, e por isso lutaram, a geração herdeira dos movimentos pelos Direitos Civis e do protagonismo de Martin Luther King.

A geração do Dr. King investiu a vida, saúde, tempo e energia na mudança da estrutura de poder que sustentava a segregação e o alijamento da população negra da cidadania do país. Suas conquistas foram fundamentais, mas o poder nunca mudou de mãos efetivamente. Ou, pensando de forma mais ampla, nunca houve diversidade no poder, pois ele continuou sendo propriedade de homens brancos, conservadores e velhos.

O desafio para a jovem comunidade negra nos Estados Unidos, hoje, é tirar Donald Trump da Casa Branca. Passada esta fase, para a nova geração negra, a luta vai continuar nas ruas e nas redes. A violência policial, o encarceramento em massa, a gentrificação nos grandes centros e a precarização da população pobre e negra seguirão exigindo luta e energia. E há pouca esperança entre eles de que o governo Democrata se dedique a dar conta disso.

Toda a comunidade negra riu (de deboche ou de nervoso) quando Trump se referiu a si mesmo no último debate com Biden como sendo "a pessoa menos racista" do auditório. Sobretudo por ter dito isto na frente de uma mulher negra, a competente mediadora Kristen Welker.

Mas toda a comunidade negra tem consciência de que Biden também não era a pessoa mais antirracista ali presente. A nova geração tem uma desconfiança profunda no compromisso Democrata com as vidas negras e um enorme senso de urgência de que os Estados Unidos precisam mudar radicalmente sua tolerância com as violências as atingem. Nossa juventude negra no Brasil também, e isto precisa ser levado em conta e à sério.