Tales Faria

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Aprovação do Desenrola Brasil deve desenrolar a reforma ministerial

A aprovação do projeto Desenrola Brasil pela Câmara, nesta terça-feira (5) diminui a pressão no cabo de guerra entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o centrão em torno da distribuição de benesses do governo.

Lula informou ao centrão que pretende anunciar a nomeação dos deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) como ministros antes de sua viagem internacional neste final de semana.

Silvio Costa Filho deve ficar com Portos e Aeroportos e Fufuca, com Esportes. Mas Lula disse aos aliados que ainda precisa convencer o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), a aceitar outra pasta para ceder seu lugar.

Os cabos de guerra entre o centrão e os sucessivos governos têm aumentado de pressão às vésperas de cada votação de projetos importantes. O centrão estica a corda de um lado para forçar a liberação verbas ou cargos para o grupo que comanda o Congresso.

No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, ela resolveu não ceder à chantagem do agrupamento e esticou a corda até que ela rompesse. Acabou sofrendo impeachment.

No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o então chefe do Planalto resolveu ceder por completo: entregou ao centrão a distribuição dos cargos entre os partidos e das verbas do Orçamento da União.

Foi criado até o tal Orçamento secreto, gerido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e pelo então presidente do Senado, David Alcolumbre (União-AP).

Lula quer retomar o relacionamento que manteve com o centrão nos seus dois primeiros governos: a cada vez que o grupo esticava a corda, ele exigia que fosse votado o projeto de interesse do governo antes de fazer as concessões.

Mas Arthur Lira ainda estava acostumado ao poder que detinha na época do ex-presidente Bolsonaro. Ele tem tentado cobrar do atual presidente que entregue cargos e verbas antes de o Congresso aprovar os projetos.

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Na reforma tributária esse estica-e-puxa entre o Planalto e o Congresso consumiu quase todo o primeiro semestre do governo. O Congresso esticou a corda como fazia nos governos anteriores. Lula, no entanto, não agiu como Dilma, que mantinha a corda esticada dizendo que não iria ceder.

O atual presidente manteve a corda esticada, mas acenou que cederia após a votação

No caso da reforma tributária, o presidente cumpriu a promessa. Após o cabo de guerra, ao ter o projeto aprovado, entregou os cargos pedidos pelo União Brasil.

Agora o presidente também acenou ao centrão que não nomearia como ministros os dois deputados indicados pelo centrão enquanto não fosse aprovado o Desenrola Brasil com teto para a cobrança dos juros do crédito rotativo dos cartões de crédito.

Lira demorou, mas acabou conduzindo o centrão, nesta terça-feira, a aprovar os projetos. Logo depois da votação, deixou a presidência da sessão para cobrar do governo o cumprimento da promessa.

O problema que apareceu de última hora não é mais o cabo de guerra com o centrão. O problema, conforme Lula informou aos aliados, é convencer Marcio França a entregar a pasta ao republicanos.

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França já deixou clara sua insatisfação num post no Twitter em que se colocou como "madeira que cupim não rói". O ministro não gostou do prêmio de consolação que lhe foi oferecido pelo presidente, em um almoço acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

Alckmin se propunha a entregar ao colega de partido uma parte do ministério que comanda, a da Indústria e Comércio, para a criação de uma nova pasta, a da Pequena e Média Empresa. Mas França acha que se trata de um ministério esvaziado.

França pretende concorrer a governador de São Paulo, provavelmente contra o atual governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Acha que se chegar a 2026 comandando uma pasta sem expressão estará fadado à derrota.

Lula prometeu a Arthur Lira que a resistência de França não atrapalhará as mudanças na Esplanada. Mas o dia terminou com os deputados do centrão ainda inseguros.

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