Lula resiste a pressão para apoiar Hugo Motta na Câmara

Petistas influentes na Câmara pressionam para fechar apoio ao deputado Hugo Motta (Republicanos) para a sucessão na Casa, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem pressa em afunilar a corrida nem pretende carimbar um nome com seu aval.
Os outros dois candidatos, Elmar Nascimento (União-BA) e Antonio Brito (PSD-BA), consideram agora fechar uma aliança ainda no primeiro turno em benefício do nome entre eles dois que tiver maior adesão no plenário. Antes do apoio de Arthur Lira (PP-AL) a Motta, nesta terça-feira (29), eles tinham combinado de apoiar aquele que passasse pro segundo turno.
Para segurar o afã da bancada petista, Lula costura por cima. Um dos partidos centrais na engenharia é o MDB. O líder na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), está inclinado a apoiar Motta, mas o partido havia sinalizado apoio a Brito anteriormente.
Bulhões fez inúmeros gestos de apoio a Motta. Compareceu a almoço com ele e o seu fiador, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em setembro. E esteve nesta terça no anúncio de Lira em favor de Motta.
Lula faz frente ao movimento e mantém estreita a aliança com o governador do Pará, Helder Barbalho. Ele é uma das principais lideranças do MDB com cacife para "segurar" o partido na Câmara. No segundo turno, Lula apoiou o candidato do MDB à prefeitura de Belém, Igor Normando, e numa rara aparição de campanha, chegou a ir à cidade em benefício do aliado.
Aliados de Lula afirmam que o presidente segue firme na decisão de não apoiar ninguém formalmente na sucessão da Câmara —mesmo com petistas interessados em apoiar Motta e se mostrarem comprometidos com Arthur Lira.
PT fiel da balança
O apoio da bancada petista se tornou fundamental para os candidatos a presidente da Câmara conseguirem se viabilizar. Parte quer apoiar o nome de Lira — antes era Elmar Nascimento, mas ele foi preterido em benefício de Hugo Motta.
Petistas da Bahia como Jaques Wagner e o ministro Rui Costa, da Casa Civil, já expressaram simpatia por Antonio Brito, do PSD baiano, um importante aliado no estado.
Elmar, por sua vez, costurou apoio de outras siglas mais à esquerda como PDT e PSB. Mas o nó de sua candidatura é o seu próprio partido. O União Brasil deve assumir o Senado com Davi Alcolumbre no ano que vem, e caciques de outras legendas não querem ver o comando da Câmara também nas mãos do União.
Este foi um dos argumentos usados inclusive para convencer Lira a abandonar Elmar.
O líder do União no Senado, Efraim Filho, da Paraíba de Hugo Motta, elogia a "firmeza" do conterrâneo.
"Hugo tem compromisso, mantém sua palavra e vejo que isso o ajuda na construção das alianças", disse Efraim Filho à coluna na Lide Brazil Conference London.
Elmar tenta se viabilizar prometendo lealdade a Lula. Na conversa no Palácio do Planalto em setembro, o deputado disse que alguns meses antes, quando tinha apoio de Lira, poderia indicar quantos ministros fossem que trabalharia pelo grupo dele e de Lira se eleito presidente da Câmara.
Agora, abandonado por Lira, Elmar afirmou a Lula que trabalharia arduamente pelo governo. Passou a mexer suas peças na disputa orientado pelos interesses do Planalto.
Lula respondeu que Elmar, como qualquer deputado, tinha direito a disputar, disse que gostou da conversa, mas não se comprometeu. Afirmou que aprendeu muito ao longo de seus governos. Uma das principais lições, afirmou, é que não deve tentar influenciar sucessão no Congresso.
"Quando o governo tentou se meter, deu Severino", lembrou Lula, segundo relatos, referindo-se a Severino Cavalcanti.
Estavam presentes os dois ministros do União Brasil. Juscelino Filho e Celso Sabino, este último do Pará como Helder Barbalho.
O presidente da República sabe que mesmo os deputados mais governistas também se movem por interesses corporativistas, em especial as emendas parlamentares, e seus acordos passam por isso também. Daí a costura de Lula com o Congresso, mas também fora dele.
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