O sono do presidente Jair Bolsonaro depois das eleições
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Antes de ir para a cama, na noite de ontem, Jair Bolsonaro publicou no Twitter sua particular percepção sobre os resultados já conhecidos das eleições municipais.
Na mensagem, o presidente dizia que: a) não teve culpa pelo fracasso dos nomes que apoiou ("Minha ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas"). Dos treze candidatos a prefeito que ele promoveu em suas transmissões ao vivo, tornadas diárias na última semana de campanha, apenas dois venceram até agora.
b) não reconhece a surra que o bolsonarismo levou ("A esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar"). A se contar pelas capitais em que os resultados estão definidos, é certo que triunfaram sobre a esquerda partidos de centro e centro-direita. O DEM elegeu um prefeito em Salvador e reelegeu outros dois, em Florianópolis e Curitiba. O PSDB renovou dois mandatos, em Natal e Palmas, e o PSD fez o mesmo em Belo Horizonte e Campo Grande.
Mas da "onda conservadora" que o presidente considera ter vindo para ficar, ficou de fora o bolsonarismo, como admitiram alguns de seus expoentes. O guru Olavo de Carvalho atribuiu o "péssimo desempenho" da corrente à "conversa mole dos generais melancia" e o excesso de confiança do presidente na sua liderança pessoal.
Filipe Martins, o braço armado do bolsonarismo no Palácio, conclamou seus seguidores à "devida autocrítica", sob pena de os erros cometidos agora cobrarem "um preço ainda maior no futuro".
A sempre perplexa Carla Zambelli, do lado dos apoiadores do presidente no Congresso, disse não ter entendido direito o que se passou. No Twitter, a deputada deu corda à hipótese da "fraude monumental", que o presidente insinuou de leve na última frase do post que publicou antes de se deitar:
"Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado. DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA"'.
Bolsonaro na Presidência tem percorrido uma rota tortuosa
O fato de o post de Bolsonaro sobre as eleições municipais ter terminado com uma referência às eleições presidenciais de 2022 dá a medida da justa preocupação do ex-capitão com o próprio destino.
Bolsonaro elegeu-se em 2018 com 57 milhões de votos e um partido que saiu das urnas como uma potência: os 54 deputados que o PSL elegeu na ocasião fizeram da ex-sigla nanica a segunda maior bancada da Câmara depois do PT.
No governo, o ex-capitão parecia sustentado por um sólido tripé que lhe conferia a escolta dos militares, o lastro liberal de Paulo Guedes e a credibilidade do símbolo da luta anticorrupção, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Em dois anos, Bolsonaro conseguiu implodir seu partido e ficar sem nenhum. Transformou o aliado Moro em inimigo e rebaixou para bombinha de gasolina o Posto Ipiranga. Quanto aos generais, a crise mais recente fala por si. Os militares estão cansados de passar vergonha, a ponto de assessores palacianos virem sendo instados por familiares a pedir o quepe.
A economia, sempre decisiva
Da onda bolsonarista que varreu o país em 2018 restam hoje, mais ou menos intactos, o núcleo ideológico do governo, a que os militares do Palácio se referem como "aqueles malucos", e o exército de apoiadores do ex-capitão nas redes sociais.
O que sobrará dos 57 milhões de eleitores em 2022 será determinado, sobretudo, pelo desempenho da economia — cuja condução continua nas mãos de Paulo Guedes, mas cuja execução dependerá em grande medida da boa vontade do Centrão, o volúvel e fundamental aliado.
Terá o presidente dormido essa noite?
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