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Thaís Oyama

Racha no bolsonarismo aflige governo, focado na 'mãe de todas as batalhas'

Palácio do Planalto: tem alguém aí? - EBC
Palácio do Planalto: tem alguém aí? Imagem: EBC

Colunista do UOL

23/12/2020 12h03

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O resultado da eleição para a presidência da Câmara definirá o ano de Jair Bolsonaro.

Se a eleição do aliado Arthur Lira (PP) para o cargo já era fundamental para afastar a sombra do "impeachment" e aumentar as chances de o governo aprovar as reformas necessárias para sustentar a recuperação da economia nos níveis previstos por Paulo Guedes, ela se tornou crucial com o racha no bolsonarismo raiz consolidado nas últimas horas.

Os lados já vinham se estranhando há algum tempo.

Ontem, porém, a briga entre olavistas e a ala comandada por Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois do presidente, fez a aprovação digital do ex-capitão chegar a mínimos históricos.

O primeiro grupo, dos olavistas defensores do blogueiro Oswaldo Eustáquio, exigiu nas redes sociais manifestações de solidariedade por parte do clã Bolsonaro diante da internação daquele que foi sagrado mártir da causa bolsonarista. Preso por descumprimento de ordem judicial, Eustáquio — que é réu no inquérito dos chamados "atos antidemocráticos"— sofreu um acidente na prisão, o que gerou boatos já desmentidos de que teria ficado paraplégico.

Como resposta à sua demanda, a turma de Olavo de Carvalho ouviu um estrondoso silêncio da parte de Bolsonaro, que passou a ser chamado de "traidor" e "comandante que abandona soldados feridos no campo de batalha". Segundo a AP Exata, o Twitter registrou 70% de menções negativas ao ex-capitão contra apenas 30% de positivas.

Na avaliação de assessores do Palácio do Planalto, a aprovação de pautas caras à ala ideológica do governo (na linha da facilitação no uso de armas ou combate à "ideologia de gênero", por exemplo) será imprescindível para reunificar a base do presidente nas redes e evitar o pior: uma debandada em direção a um nome que, mesmo sem viabilidade eleitoral para 2022, venha dividir os votos da direita bolsonarista. O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem sido bastante lembrado nesse contexto.

Bolsonaro já perdeu boa parte do apoio que tinha nas capitais. Arrisca-se agora a perder também um naco do seu eleitorado mais ruidoso das redes.

A eleição de Lira, que o Palácio já chama de "a mãe de todas as batalhas", pode ajudar o presidente a sair-se de mais essa. Mas vai custar pelo menos quatro ministérios, entre outros valores menos palpáveis.