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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Lula, agora "cristão" e "família", segue pesquisa para agradar evangélicos

Lula e Geraldo Alckmin no evento que oficializou o apoio à chapa do Solidariedade, de Paulinho da Força (no centro)  -  ISAAC FONTANA/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula e Geraldo Alckmin no evento que oficializou o apoio à chapa do Solidariedade, de Paulinho da Força (no centro) Imagem: ISAAC FONTANA/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

04/05/2022 12h06

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Lula ouviu a voz das pesquisas.

Na manhã de segunda-feira, lideranças do PT foram apresentadas a um pacote de levantamentos de opinião feitos por institutos diversos.

A série de pesquisas agregadas visava a esclarecer integrantes da pré-campanha petista o que há de preocupante no "avanço" de Jair Bolsonaro, em que segmentos Lula está bem avaliado, e onde precisa melhorar.

Segundo relato de um dos presentes na plateia, os analistas da campanha apontaram para a existência de uma "clara diferença" entre os resultados das pesquisas feitas de modo presencial e levantamentos conduzidos por telefone (com perguntas gravadas ou ao vivo).

Nas primeiras, disseram os analistas, o ex-presidente continua em confortável vantagem. Seria apenas nas pesquisas feitas por telefone que Bolsonaro avançaria de forma mais agressiva.

Segundo os responsáveis pela análise dos levantamentos, isso significa que a subida do ex-capitão continua dentro do esperado e que os números "mais pessimistas" apenas refletem uma "distorção" causada pela diferença metodológica.

Ainda de acordo com os responsáveis pela apresentação das pesquisas agregadas, Lula continua exibindo sua melhor performance na região Nordeste — o que foi recebido por integrantes da sua campanha como uma boa notícia, levando em conta as investidas de Bolsonaro na região e a distribuição dos R$ 400 mensais do Auxílio Brasil.

Dois segmentos do eleitorado, no entanto, foram apontados como preocupantes pelos analistas da campanha: a região Centro-Oeste, onde Bolsonaro cresceu ainda mais no último mês, e o setor evangélico, dominado pelo ex-capitão sobretudo nas vertentes pentecostal e neopentecostal.

Diante da última informação, como mostrou ontem O Radar das Eleições, Lula foi aconselhado por colaboradores a fazer ele mesmo o trabalho de "restabelecimento do diálogo" com os seguidores dessas igrejas.

O discurso do petista no evento de ontem à tarde organizado pelo novo aliado Solidariedade mostrou que ele já está fazendo o dever de casa.

O petista citou Deus diversas vezes.

Em duas ocasiões referiu-se a si mesmo como "um cristão" (numa delas, um cristão "que já leu a Bíblia") e fechou sua fala com a palavra "família" — crucial nas mensagens de Bolsonaro dirigidas ao público conservador, categoria em que se encaixa a maior parte dos cristãos evangélicos.

Para escapar de questões nevrálgicas e incômodas para esse público, como o apoio do PT a causas LGBTQIA+, Lula passará a dizer que, no governo Bolsonaro, muitas famílias estão "desagregadas" não por culpa dos novos costumes, mas pela degradação da economia, que corroeu a harmonia dos lares ao fazer com que muitos chefes de família perdessem o emprego e a capacidade de prover suas casas.

Em outras palavras: a partir do dia 7, quando lança oficialmente sua pré-candidatura, Lula levará para o palanque, além das promessas de emprego e comida na mesa, a imagem de um cristão como nunca se viu.