Candidato a vereador em SP relata ameaças de morte e ataques homofóbicos
O ativista Agripino Magalhães Júnior (PSOL), candidato a vereador na cidade de São Paulo, relatou nesta sexta-feira (27) que está sendo vítima de ameaças de morte e ataques homofóbicos nas redes sociais. Atualmente, Agripino é deputado estadual suplente e compõe a candidatura da "Bancada LGBTQIA+" com outros três nomes.
Agripino fez um boletim de ocorrência um dia após receber ameaças no Instagram em 31 de agosto. Nos prints das mensagens, obtidos pela coluna, o perfil, que tem a foto de um homem e apenas o nome "Amaral", fez ofensas homofóbicas e disse que o candidato não foi morto no dia anterior porque estava perto de uma idosa e crianças. O texto ainda ponderou que ninguém seria poupado em uma nova tentativa de matá-lo e quem estivesse perto dele receberia "tiro na cara".
O criminoso ainda afirmou ser do PCC (Primeiro Comando da Capital) e falou que, se o ativista denunciasse as ameaças às autoridades, os parentes dele seriam mortos. O homem ainda reforçou que as mensagens não eram apenas ameaças, mas algo que "vai acontecer". Agripino respondeu ao agressor e, em determinado momento, "Amaral" diz para o candidato que pessoas estariam indo à casa dele. O candidato relatou que ele teve que mudar de casa após os ataques.
Desde 31 de agosto, o candidato não recebeu novos ataques, porém, nesta sexta-feira (27), ele recebeu uma ligação de um número privado. Uma voz masculina fez novas ameaças: "Você vai morrer, viad*. Você vai morrer, filho da put*", disse o homem, segundo o candidato.
Para o candidato, os ataques contra ele são crimes políticos com motivação LGBTfóbica. À coluna, ele explicou que, como deputado estadual suplente, denuncia crimes de LGBTfobia junto ao Ministério Público e outras autoridades, assim como quadrilhas que atuariam em subprefeituras da capital paulista, inclusive ameaçando comerciantes e cobrando propinas.
Em maio deste ano, o ativista já havia recebido ameaças de morte e LGBTfóbicas no Facebook e no Instagram. Em 2022, ele contou que também recebeu ataques enviados por meio de um e-mail encaminhado à ONG Aliança Nacional LGBTI+. Ambos os casos foram denunciados às autoridades.
Na segunda-feira (30), a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo declarou que os casos são investigados por meio de inquérito policial instaurado na 3° DCCIBER (Delegacia de Polícia sobre Violação de Dispositivos Eletrônicos e Redes de Dados). "Diligências estão em andamento visando o esclarecimento dos fatos, bem como a identificação dos envolvidos", finalizou a pasta em nota.
A coluna entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo para saber o andamento das investigações sobre as ameaças ao candidato. A pasta informou que está apurando e que retornará com a resposta assim que possível. O texto será atualizado tão logo haja manifestação.
'Tem hora que até a gente pensa em desistir'
Agripino contou à coluna que está vivendo "altos e baixos" após as ameaças. Ele disse que, por vezes, tem coragem de pedir a prisão dos agressores e lutar para que esses crimes não se repitam. Todavia, em outros momentos, ele se recolhe e fica preocupado com a vida dele e da sua família. "Então, eu fico entre a cruz e a espada. Mas eu estou enfrentando aos poucos."
Ele explicou que as ameaças que recebeu são ruins, mas é pior ainda quando a família dele é citada nos ataques, como ocorrido em agosto. Segundo o candidato, os outros colegas de bancada não foram atacados.
É muito difícil porque você não tem vida. Eu já tive que mudar de endereço, mas mesmo assim. É um dia em um lugar, outro dia em outro. [Agora sou como] um andarilho. A gente não tem sossego de andar na rua. Você não tem mais aquela liberdade de ir onde você quer ir, sabe? É muito difícil. E tudo isso causa o pânico em mim.
Agripino Magalhães Júnior, candidato a vereador
O ativista relatou que tem sofrido com crises de pânico e precisa tomar três medicamentos por dia para dormir.
À noite, tem horas que eu acordo e parece que alguém está me matando. Eu acordo desesperado pedindo ajuda. Qualquer coisinha que bate na minha janela ou na porta, eu já acordo em uma situação que você não tem ideia. Ou senão eu acordo imaginando alguém me matando, atirando em mim, me assassinando. Eu não desejo isso para ninguém na vida. É horrível, horrível.
Agora, o candidato espera que os envolvidos nos ataques sejam identificados pelas autoridades e paguem pelos crimes. "A polícia não tem que só agir quando, que Deus nos livre, acontece uma tragédia. Que a polícia possa agir antes e combater esse tipo de crime, preservando, antes de tudo, a vida da vítima. Porque a gente, as vítimas, não têm bola de cristal para saber que hora que esses criminosos podem atacar a gente", finalizou.
Homofobia é crime
Em junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, determinando que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89).
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Quero receberConstitui crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou o preconceito em razão da orientação sexual de qualquer pessoa.
A pena pode variar de um a três anos, mais multa, podendo chegar a cinco anos se houver divulgação do ato homofóbico em meios de comunicação, como nas redes sociais.
Para denunciar casos de homofobia de qualquer lugar do Brasil, ligue para o Disque Direitos Humanos - Disque 100.
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