Wálter Maierovitch

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Opinião

Morre o último dos chefes mafiosos dizendo aos juízes: 'Não falarei nunca'

Morreu hoje, no hospital penitenciário da cidade de Aquila, o último dos chefões da Cosa Nostra siciliana, a máfia. Um câncer de cólon causou a morte de Matteo Messina Denaro, 61 anos, depois de um longo tratamento médico e hospitalar.

Trata-se do último chefão porque a cúpula de governo da máfia ficou sem o capi dei capi (o chefe dos chefes), depois da prisão em 15 de janeiro de 1993 do sanguinário Tóto Riina, morto em 17 de novembro de 2017, como explicou Alessandra Dino, professora de sociologia política da siciliana Universidade de Palermo e autora do premiado livro 'Gli Ultimi Padrini'.

Bernardo Provenzano, com panos de conciliador e com o discurso de estratégia de Riina ao declarar guerra ao Estado italiano, só atrapalhou os negócios financeiros e a cooptação de políticos. Ele não conseguiu recompor o órgão de governo mafioso, que atendia pelo nome de "Comissione". Falecido em 2016, o octogenário Provenzano sempre sofreu oposição de Matteo Messina Denaro, braço direito do sanguinário Riina.

Messina Denaro, no entanto, não conseguiu unir as chamadas "famiglie" (famílias) mafiosas. Os chefes das famílias perceberam que, sem a "Comissione", ficavam com plena liberdade e faturavam mais — não precisavam de autorização do órgão de governo para aumentar territórios, matar desafetos e nem dividir lucros.

Com efeito, a Cosa Nostra não morreu. Mudou o formato e continua a estar, feito o comparativo com empresas legais, entre as dez mais lucrativas da Itália. Lógico, é uma organização criminosa que não paga tributos e nem observa a legislação trabalhista. A Cosa Nostra só arrecada.

"Não falarei nunca"

Como ressaltado hoje pelo prestigioso informativo Huffpost, edição em língua italiana, Messina Denaro avisou aos magistrados do Ministério Público que correram ao seu leito de morte em busca de confissões: "Non parlerò mai" (não falarei nunca).

Messina Denaro chegou a reunir a Comissione, mas dela não saiu capo dei capi (chefe dos chefes). A "Comissione" é um colegiado delinquencial composto por chefes das famiglie mafiose mais potentes, só que a palavra final compete ao capo dei capi.

O falecido Denaro repetiu o comportamento de todos os capi (chefões), ou seja, manteve a omertà (a lei do silêncio). Ele entra para a história mafiosa como "stragista" (linha militarizada e belicosa), e não como colaborador com a Justiça.

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Assassinato de magistrados

Messina Denaro filiou-se à linha do enfrentamento violento. Foi o responsável, por exemplo, pelo exitoso plano de execução dos assassinatos, com emprego de dinamite, dos magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borselino, expoentes da luta antimáfia.

Obedecendo às ordens de Totò Riina, ele foi o realizador dos ataques à bomba, com mortos e feridos, em Roma (dois ataques: em San Giovanni in Laterano e em San Giorgio al Velabro), Milão e Florença. Foi uma declaração de guerra contra o Estado constitucional italiano.

Com a sua morte continua viva a grande interrogação sobre as ligações da Cosa Nostra com órgãos do Estado italiano, a incluir o serviço secreto.

Mais ainda: as mortes dos magistrados Falcone e Borsellino, apesar das investigações e condenações, carecem de esclarecimentos fundamentais. Para muitos estudiosos, nessas duas mortes, a Cosa Nostra estava no penúltimo degrau do comando. O último era ocupado por poderosos (políticos) e potentes.

Neste link, minha coluna de 11 de setembro, sobre quando foi anunciado o estado de saúde terminal do último chefão, Matteo Messina Denaro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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