Wálter Maierovitch

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Opinião

Hamas é ferido de morte, e Irã tem quebrada a perna do terror

O Hamas é uma organização terrorista fundada em três pilastras. Duas dessas pilastras foram profundamente abaladas. A terceira continua em pé.

Como consequência, o Irã, que financia, arma e adestra, fornece ajuda financeira e esconde-se atrás do Hamas e do libanês Hezbollah, acusou o golpe e anunciou vingança contra Israel, pelo seu líder supremo Ali Khamenei.

O premiê israelense Benjamin Netanyahu reagiu e provocou ao dizer estar Israel pronta para se defender, em qualquer cenário.

As três pilastras do Hamas

Os 007 da inteligência ocidental revelaram que o Hamas tem uma pilastra política. Outra, de combate armado. E a terceira, apelidada de diáspora, está localizada fora da faixa geográfica de Gaza.

A terceira pilastra supramencionada representa uma espécie de "Ministério de Relações Exteriores, Conciliações e Propaganda" à distância. Ela está espalhado, com muitos agentes não armados, pelo mundo árabe. Os seus inúmeros membros contam com refúgio no peninsular Qatar.

Cada pilastra possui um líder inconcusso, autoritário e impiedoso. A hierarquia é rígida.

Duas lideranças conhecidas internacionalmente foram mortas: Ismail Haniyeh, o líder da política externa, eliminado dentro da capital iraniana (Teerã) e o chefão do pólo militar, Mohamed Deif, apelidado de "fantasma", pela capacidade de desaparecer das vistas do inimigo, em situações de risco.

Ismail Haniyeh

Inicialmente, falou-se em mísseis lançados por drones, na casa de hóspedes do governo iraniano, na capital. O New York Times teve informações privilegiadas e apontou para uma bomba com explosão interna da guest house que hospedava o falecido Haniyeh.

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Nos vazamentos dos 007, uma bomba com sistema de inteligência artificial, 'high tech', teria sido colocada por agentes do Mossad no quarto ocupado por Haniyeh, que esteve, como convidado oficial, na cerimônia de posse do novo presidente iraniano. O acionamento teria sido realizado à distância.

O Mossad, agência de inteligência externa de Israel, teria, com essa ação espetacular em Teerã e a golpear mortalmente o Haniyeh, do terceiro pólo sustentador do Hamas, voltado a atuar em função original, após o premier Netanyahu tê-lo desprestigiado e privilegiado o Shin Beth, de inteligência interna.

Hoje, pelas redes sociais, pode-se assistir vídeo com Haniyeh, no dia seguinte ao terror do 7 de outubro, a comemorar entusiasticamente os ataques contra Israel, com 1.200 mortes e 240 reféns.

Nesse discurso gravado, Haniyeh fala que o sangue a ser derramado no futuro pelas mulheres e crianças palestinas servirá muito e isso para acordar as consciências dos palestinos.

Mohammed Deif, o fantasma

Deif, o "fantasma", comandava o exército combatente do Hamas, composto por cinco brigadas, 24 batalhões e 120 companhias, ou seja, cerca de 40 mil homens.

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Pelos cálculos da inteligência norte-americana, o Hamas ficou reduzido, durante a guerra, a dois batalhões, estes operantes basicamente na região próxima à fronteira com o Egito, densamente habitada.

Atenção: os combatentes estariam misturados à população e aos moradores de lotados campos de refugiados. Daí, a preocupação do presidente americano Joe Biden, com pressões para o premiê israelense não atacar Rafah.

Segundo o serviço de inteligência militar do exército de Israel (IDF), Deif foi morto no dia 13 de julho em um bombardeio realizado pela aviação israelense. O governo de Benjamim Netanyahu, na noite desta quinta-feira (1º), confirmou a morte de Deif.

O Hamas desmente essa informação e avisa que Deif está vivo, ativo no comando e acompanhando todas as falsas informações a respeito da sua morte. Pelo jeito, a estratégia é que continue como fantasma, no imaginário dos combatentes do Hamas.

Pilastra inabalada

Quanto à pilastra política, cravada em Gaza, continua firme. O seu líder, Yahya Sinwar, segue regendo as condutas e conta com os esconderijos na complexa rede de sólidos túneis cavados durante anos e nunca percebidos pelas forças armadas e de inteligência de Israel.

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O líder político local, fixo em Gaza, Yahya Sinwar foi o idealizador e executor do ataque de 7 de outubro e o seu irmão projetou e construiu a rede de túneis na faixa geográfica de Gaza. Rede só descoberta pelo Shin Beth, serviço secreto de Israel depois do massacre e sequestro de 420 reféns, hoje estimados em 115 com vida.

Shukr e Abyar

De quebra, Netanyahu está a exibir musculatura extra, depois da sua recente volta de Washington onde recebeu aplausos do Congresso pelo reação das forças israelenses contra os terroristas do Houthi, com atuação no Iêmen e orientação do Irã.

Netanyahu tem a mostrar, ainda, o assassinato do segundo homem da hierarquia do Hezbollah, Fuad Shukr. Era o assessor militar e sucessor natural de Hassan Nasrallah, o manda-chuva do Hezbollah.

Shukr foi o responsável pela bombardeio causador da morte de 12 crianças que, no final do mês passado de julho, jogavam futebol em campo próximo às colinas de Golã.

A lembrar ter a CIA ofertado US$ 5 milhões pela cabeça de Shukr por ter ele bombardeado quartel americano no Líbano, em 1983 e que resultou na morte de 241 militares norte-americanos.

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Israel conseguiu, por meio de informações de inteligência, eliminar o segundo da hierarquia do Hezbollah, Fuad Shukr, no subúrbio de Beirute. E também matou o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, dentro de Teerã.

Um outro fato, próximo no tempo: os agentes do Mossad obtiveram informações sobre o general Saed Abyar, da Guarda Revolucionária do Irã e destacado para atuar na Síria em distribuição de armas e munições ao Hamas e Hezbollah, além de treinamentos ministrados.

Abyar foi morto próximo a Alepo. Numa ação israelense em represália a ataque do Irã ao território de Israel, com 300 drones: todos foram abatidos. O ataque iraniano restou motivado por um negado ataque de Israel a consulado iraniano em Damasco.

Espionagem perigosa

O trabalho desenvolvido pelo espião, hoje chamado de agente de inteligência, " é o mais antigo do mundo e o mais problemático".

Essa frase acima é do falecido professor norte-americano Walter Laqueur, uma vida dedicada a estudos aprofundados sobre o fenômeno do terrorismo, a incluir o terrorismo de Estado, e o mundo da espionagem e da contra-informação.

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A espionagem israelense com ações mortíferas no Irã e Líbano, recém verificadas, acaba de colocar em alto risco uma problemática guerra nuclear regional Israel e Irã.

Desde o massacre terrorista com reféns de 7 de outubro, em território soberano do estado de Israel, a guerra decorrente, concentrada mais intensamente na faixa geográfica de Gaza, resultou numa escalada de violência.

A legítima reação israelense de defesa tornou-se, à luz do direito internacional, excessiva. Assim, as ações transformaram-se em ilegítimas.

No direito internacional público, conhecido por direito das gentes, o excesso de legítima defesa, tira a legitimidade e transforma a violência em crimes de guerra e contra a humanidade.

Segundo o Hamas, nestes 301 dias de guerra temos 39.480 palestinos mortos, a grande maioria composta por civis inocentes, não em guerra.

Como esperado, a máscara do Irã teocrático dos aiatolás já caiu. Sem máscara, claro fica estar o Irã a financiar as organizações terroristas que objetivam a eliminação do estado de Israel.

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Atenção: os especialistas em geopolítica e geoestratégia ressaltam ser ingenuidade limitar o interesse do Irã xiita apenas à destruição de Israel e em acomodar o sofrido e humilhado povo palestino.

Também seria ingenuidade, e os especialistas deveriam admitir, achar ter Netanyahu intenção de aceitar e reconhecer o Estado da Palestina, na conhecida e justa fórmula de "dois estados para dois povos".

O interesse fundamental do Irã, e bem sabem disso o Egito, Arábia Saudita, Jordânia e Emirados Árabes, seria controlar e dominar o Golfo pérsico e o mar Arábico. No momento, o Irã utiliza, contra Israel, todas as organizações terroristas presentes em Gaza, Líbano, Iêmen, Iraque e Síria.

Como será a reação iraniana em face da morte, em seu território soberano, de Haniyeh, um dos seus aliados?

As respostas são muitas e o secretário de estado americano avisou que não havia sido informado sobre o ataque planejado e resultante na morte de Haniyeh.

O líder máximo iraniano, Khamenei falou em vingança como dever iraniano. Já usou de reação simbólica, com chuva de drones lançados contra Israel, depois da morte do supracitado general Saed Abyar, da guarda revolucionária iraniana.

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Agora e para o que chama de vingar a morte de Haniye, com violação de soberania iraniana, poderá atacar com armas nucleares.

De acordo com especialistas militares, armas nucleares também poderão ser usadas por Israel e o resultado seria uma grande catástrofe regional.

Os especialistas militares acreditam em intensificações de ataques pelos braços terroristas, com o Hezbollah a entrar em guerra contra Israel, a serviço do Irã.

A considerar passar Netanyahu, internamente, por dificuldades. A ultradireita e os religiosos messiânicos que lhe dão sustentação política querem o cumprimento da promessa de que terminará com o Hamas, algo que os não messiânicos e racionais acham impossível.

Os opositores de Netanyahu continuam a pressionar por negociações, com a liberação de reféns e o cessar fogo. Algo agora bem mais difícil, a aumentar a dúvida se Netanyahu quer mesmo negociar a paz, pois precisa de guerras para se manter no poder e impedir a constituição de um estado palestino.

Para os que conhecem a astúcia do apelidado Bibi Netanyahu, ele já tem uma carta na manga a apresentar aos radicais de direita, messiânicos e supremacistas, aliás, o seu eleitorado.

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Bibi deverá sustentar haver acabado com as principais lideranças do Hamas, com as eliminações de Haniyeh e de Deif. Também irá considerar Sinwar neutralizado em seus túneis.

De quebra e para cantar vitória, Netanyahu terá as cabeças do Shukr, segundo do Hezbollah e responsável pelos disparos que levaram à morte 12 crianças, e do general iraniano, municiador de armas com uso contra Israel.

Em resumo, os cenários passam por reações pontuais, o Hezbollah na guerra e a guerra nuclear regional a envolver diretamente Irã e Israel.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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