Wálter Maierovitch

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Opinião

Depois de Paris, Londres prepara sua marcha contra antissemitismo

Por entender necessária uma manifestação contra o antissemitismo ressuscitado na Europa Ocidental depois do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro passado, a Inglaterra, a seguir a França, organizou para esta semana uma marcha em Londres.

A novidade será a presença do ex-primeiro-ministro David Cameron, cotado para se tornar chanceler (ministro de relações exteriores do Reino Unido) e voltar à vida política, depois da sua barbeiragem com o Brexit.

A marcha contra o antissemitismo transcorrida em Paris no domingo passado (12), organizada pelo Senado e Assembleia Nacional, foi concorrida e, pela avaliação da mídia francesa, passou despercebida a ausência do presidente Emmanuel Macron.

Despercebida porque Macron, sempre em busca de protagonismo internacional, deu uma recuada no entusiasmo diante do número de civis palestinos mortos, pela imoderada reação defensiva de Israel.

Na França, a esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon à frente e a exibir cores e insígnias palestinas. Para a esquerda radical francesa, o ataque do Hamas de 7 de outubro passado foi reação legítima, e não terrorista.

Para a esquerda radical francesa, deu-se, por parte do Hamas uma reação à opressão aos palestinos. Com tal posição, legitimou-se o terrorismo como forma de reação, ainda que, como aconteceu, civis inocentes, judeus, judias, crianças e velhos, tenham sido assassinados, degolados, estuprados, sequestrados. Na terra das luzes, durma-se com tal entendimento obscuro.

Na marcha de domingo desenvolvida na 'Esplanade des Invalides', estava o ex-presidente François Holland, a premiê Élisabeth Borne e Manuel Valls, ex primeiro-ministro socialista.

Os socialistas e os ambientalistas estavam presentes, ao contrário dos líderes comunistas, de posição filo-Hamas. Como havia prometido, a ultradireita se fez presente, com Mariene Le Pen.

Qualquer manifestação antissemita na França traz sempre consigo a história amarrada.

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Milhares de manifestantes protestam contra o antissemitismo em Paris
Milhares de manifestantes protestam contra o antissemitismo em Paris Imagem: Geoffroy Van Der Hasselt/AFP - 12.nov.2023

Na Segunda Guerra, tivemos o governo colaboracionista com o nazismo, na chamada República de Vichy (1940-1944) e com o general Philippe Pétain como primeiro-ministro e o entreguista Pierre Laval como vice-premiê. Pétain agarrou efusivamente na mão de Hitler, e Laval apontou Hitler e o nazismo como salvação da França.

Por falar em mãos, o presidente do Irã, em reunião com a cúpula islâmica dos países árabes, recomendou: "Vamos beijar as mãos do Hamas".

Voltando à França do traidor Pétain, condenado à pena de morte (comutada por De Gaule a prisão perpétua pela idade provecta de Pétain). Os judeus ficaram em campo de concentração francês. Só não foram obrigados, ao contrário dos outros hebreus fora da França, a usar, pregado na roupa, a estrela de David pintada em amarelo.

Como escreveu a filósofa de origem judia Hanna Arendt, na obra 'Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, instrumento de poder', os judeus sempre foram discriminados na França, antes mesmo da Segunda Guerra e do colaboracionismo nazista de Vichy.

A propósito, Arendt referia-se ao caso Dreyfus, um oficial do Estado-maior francês, judeu de origem e condenado sem prova numa armação.

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Convém relembrar, a respeito da inocência de Alfred Dreyfus, o manifesto intitulado "J´accuse" do consagrado escritor Émilie Zolá.

Sobre o clima antissemita francês, Arendt anota: "o processo revela o mesmo caráter desumano, conservando, em meio ao tumulto de paixões desenfreadas e chamas de ódio, um coração inconcebivelmente frio e empedernido" (obra citada- editora documentário, edição 1975, página 135).

Os judeus ficaram na França em campo de concentração: não houve extermínio. Isso ao contrário dos que foram encaminhados aos campos de extermínio.

Importante: o primeiro-ministro da Noruega, Quisling, foi também um colaborador nazista. Por ato seu, foram deportados mil judeus residentes na Noruega para o extermínio em Auschwitz (confira-se nota de rodapé da página 136 da supracitada obra de Hanna Arendet).

Com efeito. Quer o antissemitismo, quer o anti-islamismo (islamofobia), são sentimentos inaceitáveis e agora acirrados pelos fenômenos das guerras e da imigração. Imigração por parte dos que fogem das guerras, da fome, sem recursos e em busca de esperança.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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