Wálter Maierovitch

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Opinião

Marine Le Pen usa 'saia-justa' para fugir de sua derrota inexplicável

Marine Le Pen sempre tentou dar dribles para fugir do inexplicável, ou melhor, das situações chamadas popularmente no Brasil de 'saia-justa'.

Ontem, por ocasião da posse e fotografia oficial dos parlamentares recém eleitos para a Assembleia Nacional, incluída a própria Le Pen, as atenções ficaram em sua chamativa minissaia.

Era para desviar a atenção do pesado clima política de derrota. Não se sabe Le Pen buscou inspiração no palco do Folies Bergère, ou do antigo Moulin Rouge. Pode até ter lembrado dos antigos cabarés do Pigalle ou de quadros de Toulouse Lautrec.

A verdade é que Le Pen precisava, dentre tantas coisas, cantar a vitória não acontecida.

E, com isso, manter o otimismo no identitarismo direitista francês. Voltar a atacar os islâmicos, criticar o presidente Macron, agradar a Putin e Trump e negar a possibilidade de ilícito no financiamento da campanha eleitoral por parte do seu partido, o radical Rassemblement National.

Saia-justa

Exibir as pernas numa diminuta saia serviu para Le Pen tentar justificar posturas racistas e contrárias à liberdade religiosa. Disse Le Pen: "este é o país da minissaia, e não da burca, do obscurantismo".

Durante a semana que antecedeu ao segundo turno, o nacionalismo, racismo e xenofobia, foram intensificados tanto nos discursos de Le Pen, quanto do jovem e iletrado Jordan Bardella, ungido candidato a primeiro ministro, na sonhada hipótese de obtenção de maioria absoluta: 289 cadeiras.

"Vitória adiada"

Le Pen disse estar o seu partido em crescimento. Chegou a dizer que foi o mais votado, analisando separadamente as votações dos partidos que formaram a vencedora Frente Popular nacional.

Antes da dissolução do parlamento por Macron, frisou Le Pen que o seu partido contava com 89 cadeiras. Depois da última eleição, passou a contar com 125 deputados.

Como os republicanos dividiram-se depois da traição do seu presidente Eric Ciotti, mais 18 deputados alinharam-se à líder dos direitistas radicais. Assim, Le Pen irá contar com uma bancada de 143 deputados. Longe dos 289 esperados e que lhe dariam maioria absoluta.

Para Le Pen, e diante do aumento de deputados, a vitória foi apenas adiada.

Não bastasse, Le Pen criticou a carta divulgada por Macron, que está em Washington para o evento dos 75 anos da Otan. Macron sustentou que nenhum partido havia ganhado as eleições e, por isso, haverá necessidade de formação de uma maioria sólida e plural.

Para Le Pen, o vitorioso foi o seu partido e Macron deveria renunciar, depois das derrodas nas eleições europeias e na francesa, renunciar à presidência.

Financiamento ilícito

Le Pen é uma filo-putiniana. O seu discurso nacionalista, antieuropeísta e de restrições à OTAN, agradou a Putin. Apesar dos embargos à Rússia, dinheiro chegou aos cofres vazios do partido de Le Pen, com trâmite via banco russo.

O partido liderado por Le Pen está sendo investigado por financiamento eleitoral ilícito, na casa dos 11,5 milhões de euros. Le Pen preferiu falar de minissaia e burca e negou, sem mostrar documentos, que tenha havido fraude.

Sobre a Ucrânia, Le Pen repetiu Bardella e, por ter perdido a eleição e a possibilidade de contar com um primeiro ministro, com limitação decorrente do semi-presidencialismo francês, lamenta não baixar proibição proibindo a Ucrania de usar armas francesas em ataques fora das linhas de fronteira. Para o bom entendedor, uso de armas contra os russos.

De olho em Biden

A França aguarda o retorno de Macron de Washington. Embora constitucionalmente o presidente possa manter o atual primeiro-ministro, as lideranças dos partidos formadores da Frente Popular Nacional sabem da necessidade de Macron em formar uma maioria para poder governar.

Com um novo primeiro-ministro tirado da esquerda, Macron poderá ter maioria na assembleia, algo que não possuía após sua dissolução.

Os franceses estão no aguardo, de olho em Biden. Ainda que se saia razoavelmente bem, até os espólios de Napoleão, no Dome de Paris, sabem que, depois do debate do dia 27 de junho último, Trump irá vencer. As pesquisas mostram não possuir Biden mais nenhuma chance de vitória.

Uma vitória trumpista colocará novamente Le Pen em destaque e sem precisar do truque da minissaia.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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