Wálter Maierovitch

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Opinião

Discussão sobre a liberação de reféns do Hamas chega à Suprema Corte

O 'Canto dos escravos hebreus (judeus)' da famosa opera Nabuco, de Giuseppe Verdi, paira na atmosfera de incerteza e dor gerada pelo adiamento, por parte do Hamas, da libertação de 50 reféns, dos 240 levados na ação terrorista do 7 de outubro passado, em território do Estado de Israel.

Para os parentes das vítimas, o Hamas não tem compromisso com valores. O fanatismo domina as mentes dos seus dirigentes. Assim, romper acordo é sempre previsível. E fatos novos estão a ocorrer.

Ontem, no Líbano, foi morto o filho de um dos líderes do Hezbollah. Como já aconteceu em outras ocasiões —-e a lembrar do caso do soldado Gilad Salit (refém feito pelo Hamas e libertado depois de 5 anos, com períodos no Líbano)—-, o Hezbollah é parceiro na manutenção de reféns em cárcere privado.

No momento, Israel bombardeia posições do Hezbollah no Líbano.

Outro ponto. Pesa na opinião pública israelense duas frases provocatórias do presidente do Irã, Ebrahim Raisi. Ambas foram divulgadas pela agência oficial Irna.

O presidente iraniano disse: "Se desejarem uma avaliação minha do acordo, depois de 40 dias de combates, observo que decorreu do fato de o inimigo haver sido vencido".

A segunda frase é igualmente contundente: "O cessar-fogo temporário quis dizer ao povo palestino que a resistência logrou obter uma grande vitória".

Enfim, muitos israelenses desconfiam da efetivação do acordo.

Cumprimento do acordo

Pela avença com o Hamas, serão libertadas 30 crianças e 20 mulheres, dentre elas oito mães. Nenhum homem idoso será solto.

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Pela avaliação de 007 dos serviços ocidentais de inteligência e espionagem, o atraso na libertação, dado como sendo de 24 horas, não decorre de reviravolta no acordo costurado com o Hamas pelo Qatar, Egito e EUA.

O acerto de 4 dias de cessar-fogo em troca de reféns, segundo os agentes de inteligência e espionagem, é estratégico para o Hamas.

Mais do que necessário, estratégico, afirmam os supracitados 007, pois a pausa de 4 dias serviria para reposicionar estrategicamente os homens de combate (cerca de 30 mil). Também para o fundamental fornecimento de alimentos, assistência médica a feridos e entrega de munição bélica.

Para os especialistas na geoestratégia das guerras, impressiona a colocação dos homens do Hamas, que estão conseguindo se proteger do pesado bombardeio aéreo dos israelenses.

Mais ainda, continua o Hamas a fazer soar as sirenes de aviso de ataque iminente em Tel Aviv, a segunda maior cidade e capital econômica de Israel.
Trata-se, como frisado na coluna de ontem, de problema decorrente da estratégia do Hamas, que separou os reféns e, como admitido por representante dessa organização terrorista, alguns estão sob custódia de terceiros, que pode ser o Hezbollah ou a Jihad Islâmica.

Inconformismo e Suprema Corte

Ontem, e tão logo correu a notícia do acordo do cessar-fogo e da liberação de 50 reféns, parentes de vítimas não contempladas provocaram a manifestação da Corte Suprema do Estado de Israel.

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Em petição, requereram ordem judicial para impedir o governo de Benjamin Netanyahu de cumprir o acordo acertado por Qatar, Egito e EUA.

A alegação é de não possuir o primeiro-ministro Netanyahu poder discricionário (decidir sobre conveniência e necessidade) amplo a ponto de escolher as vítimas a serem libertadas. Netanyahu estaria discriminando os reféns não escolhidos.

Os juízes da Corte Suprema de Israel, David Mintz, Alex Stein e Yechiel Meir Kasher, repeliram a postulação, conforme acabou de informar o jornal israelense Haaretz.

Em outras palavras, a decisão do governo de Israel de aceitar a exigência do Hamas foi considerada legítima, conforme as leis básicas de Israel, consideradas, reunidas, a constituição do estado.

Pano rápido. Como o Hamas ainda está bem vivo, tudo poderá mudar em minutos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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