Wálter Maierovitch

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Opinião

Israel x Hamas: novo lance do jogo gato e rato

A semana começa plena de incertezas e o anúncio do Hamas de ter aceito o acordo conjunto proposto por Egito e Qatar pode não ajudar em termos de esperança de solução dessa guerra que já dura mais de 200 dias.

Já se fala da não aceitação por parte de Israel — os jornais israelenses informam sobre uma jogada estratégica do Hamas para alongar as tratativas. E a agência Reuters ouviu um alto funcionário do governo de Israel que mencionou a aceitação como mera estratagema do Hamas e, por isso, dá como quase certa a não aceitação por parte de Israel.

O fim da semana passada tinha sido muito tenso. Começou com o ultimato de Israel, com prazo de sete dias para aceitação ou invasão de Rafah, com seus mais 1 milhão de migrantes palestinos e foragidos de guerras do Oriente Médio.

Em menos de 24 horas, o líder do Hamas fora de Gaza, Ismail Haniya, respondeu sobre a proposta conjunta de paz formulada pelo Egito e Qatar. Assim e com a aceitação, deu um breque no ultimato e passou a bola para Israel.

Lógico, avisou haver comunicado a aceitação ao Irã, por meio de contato telefônico com Hossein Amir-Abdollahian, ministro de Relações Exteriores da teocracia iraniana.

O acordo aceito pelo Hamas

O acordo elaborado em comum por Egito e Qatar — e aceito pelo Hamas — estabelece três fases de implementações e cada fase com duração de 42 dias.

  • A primeira fase prevê, segundo noticiado, um cessar fogo por seis semanas, com retirada das forças de Israel do corredor Netzarim, o corredor criado pelo exército israelense divide o norte do sul de Gaza.
  • Na segunda fase está previsto o cessar-fogo permanente, com a retirada das forças de Israel de Gaza.
  • A terceira fase inclui o fim dos bloqueios por mar e ar.

Muitos pontos do acordo permanecem em segredo — como, por exemplo, como seria a gestão do enclave, após a guerra. O Hamas sairia de Gaza?

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E em que fase e como seria a libertação dos reféns? Para Israel, seriam 133 os reféns — já excluídos os libertados em novembro, quando do rápido cessar-fogo estabelecido.

O Hamas e a Jihad Islâmica, que mantém em custódia os reféns, não informam o número deles e nem quantos estão ainda vivos.

Isso conduz a diferentes especulações sobre o número de mortos.

Muitos teriam, segundo boatos, morrido nos bombardeios realizados por Israel em Gaza. Na vertente de boatos mais leves, os reféns estariam vivos e retidos nos túneis do Hamas e Israel não os destrói e nem os inunda por essa razão.

Complicador

Para surpresa dos operadores do direito internacional, o Hamas, com objetivo de embolar tudo, atacou, no domingo (5) localidade próxima à passagem de Kerem Shalom.

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Na fronteira meridional de Gaza existem duas passagens para ingresso de auxílio, como medicamentos, combustíveis e rações para animais. Os ingressos ficam em Rafah e Kerem Shalon.

O ataque do Hamas, com dez explosões, resultou, conforme o governo de Israel, na morte de quatro militares israelenses, com 11 feridos.

De pronto, o premiê Benjamin Netanyahu determinou o fechamento da passagem de veículos no vale Kerem Shalon.

Ainda no domingo e após conversa telefônica com o presidente Biden, Netanyahu prometeu a reabertura do vale e a normalidade no escoamento de caminhões com cargas.

Nesta segunda (6), em revide, Israel atingiu um prédio no Líbano, dado como local utilizado no ataque do Hamas que matou quatro militares israelenses em área próxima a Kerem Shalon.

Ordem de evacuação

Para operadores do direito internacional e os 007 das inteligências americana e europeia, do ultimato israelense constou a invasão de Rafah.

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Isso teria preocupado o Hamas, pois, em Rafah, segundo fontes de inteligência, estaria o seu derradeiro batalhão: o Hamas começou a guerra com cinco brigadas, 24 batalhões e 120 companhias. Só teria restado o batalhão estacionado em Rafah.

O Hamas nunca se preocupou com mortes dos civis palestinos e muitos foram usados como escudos humanos. A invasão de Rafah resultará num mar de sangue.

Para o Hamas, em termos de propaganda negativa de Israel isso interessa, mas não interessa perder o seu último braço militar.

O presidente americano continua tentando convencer Netanyahu a desistir da invasão de Rafah, pois seria um outro massacre a civis inocentes.

O comissário das Nações Unidas, Volker Turk, falou em "invasão desumana", com violações ao direito das gentes (direito internacional público) e ao direito internacional humanitário.

Em Israel, a ultradireita de apoio político a Netanyahu — quer pelas vozes dos supremacistas, quer pela dos neofascistas Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich —, pressiona o premiê por uma imediata invasão de Rafah, com o extermínio do restante da força armada do Hamas. Quanto aos civis palestinos, parece adotar a referida ultradireita a tese de os fins justificarem os meios.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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