Wálter Maierovitch

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Opinião

Mundo vira trem fantasma após eleição francesa; Orbán inventa 'Patriotas'

O mundo parece ter virado um trem fantasma.

A cada curva, um susto. Às vezes, o susto transforma-se em indignação e em profunda tristeza.

Ontem, por exemplo, um míssil hipersônico russo, tipo Kinzhal, atingiu um hospital infantil de Kiev, na Ucrânia.

Falou-se em dezenas de mortos, entre crianças e mulheres.

Para cortar o coração, gira pelo planeta foto tirada pelo correspondente do jornal italiano Corriere della Sera, em Kiev. A foto mostrou uma aterrorizada criança ucraniana. Ela aparece na frente do hospital alvejado e num carrinho de bebê. Está com os olhos fechados. Claro, para não ver a extensão da tragédia.

Orbán-Putin

O autocrata Viktor Orbán, amigo e admirador do russo Putin, em menos de uma semana como presidente de turno da União Europeia realizou a sua terceira viagem. Já esteve na Ucrânia, Rússia e, agora, chegou à China.

O primeiro-ministro húngaro frisou que faz viagens como mediador de conflitos, embora não esteja autorizado e as funções estejam fora das atribuídas ao presidente da União Europeia. Ele atua voltado à implementação do projeto que chamou de "Peace Mission 3.0".

Diante do alerta de estar fora do campo das atribuições presidenciais europeias, Orbán ressaltou que age como a autoridade de chefe de governo da Hungria.

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No particular, Orbán esqueceu de combinar com Putin, e nos registros oficiais e na mídia oficial russa, o visitante constou como presidente da União Europeia e, como tal, portador de um plano de paz.

Putin não levou susto. Como sempre, voltou a desfrutar de Orbán. É que a retirada das tropas da Rússia do invadido território da nação ucraniana não consta no mencionado projeto de Orbán.

Na sua primeira viagem, a Kiev, o húngaro apresentou o mesmo projeto para o presidente Zelensky, que se mostrou aberto à paz, mas desde que os russos parem os bombardeios e se retirem da Ucrânia.

Com Xi Jinping, o autocrata magiar declarou que pedirá auxilio para mediar com ele o tal "Peace Mission 3.0".

Aniversário da Otan

A outra curva do trem fantasma é bem fechada. Conduz aos 75 anos do Tratado Atlântico, que chamamos de Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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O evento será em Washington e reunirá chefes de Estado e de governos dos subscritores do Pacto Atlântico. Já dizem as más línguas trumpistas que, se não estiver cansado, Biden marcará presença.

O encontro de aniversário será importante.

Nas eleições europeias, os conservadores venceram, e Ursula von der Leyen continuará na presidência da Comissão Europeia, o órgão executivo. O apoio a Kiev está garantido, e a Otan não sofrerá abalos porque Le Pen foi derrotada na França e Jean-Luc Mélenchon tem zero chance de virar primeiro-ministro francês.

Parêntese. A Constituição francesa não obriga Macron a escolher para primeiro ministro o líder do partido vencedor nas eleições parlamentares. Em Washington, Macron espera a decantação do resultado eleitoral. Por enquanto, contou não aceitar o pedido de saída do atual premiê.

Como sabe até a Torre Eiffel, a esquerda vencedora foi representada por uma coalizão denominada Frente Popular, com o partido France Insoumise, liderado por Mélenchon.

Dessa coalizão, faz parte Raphael Gluksmann, líder e fundador do Place Publique. Ele se opõe a Mélenchon como premiê, dado seu radicalismo.

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Mais ainda, a Frente Popular é integrada por comunistas, socialistas, ecologistas e os de centro-esquerda, não só pelos ligados à França Insubmissa.

A direita radical, por outro lado, perdeu a liderança da corrida eleitoral, obtida no primeiro turno das eleições. No segundo turno, passou ao terceiro posto.

Patriotas do radicalismo

Para remediar a situação da direita extremada, Orbán acabou de lançar, a nível de União Europeia, um novo partido.

Orbán o chamou de Patriotas, conseguindo juntar a fina flor do extremismo da direita. Terá ao seu lado, além da derrotada Marine Le Pen, o fascista Matteo Salvini, do partido italiano Lega Nord (Liga Norte), da Itália, nascido separatista.

A premiê italiana Giorgia Meloni não vai entrar, com os seus 30 eurodeputados, nos tais Patriotas europeus.

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O radical Nigel Farage, que foi o patrono do Brexit, no Reino Unido, está convidado a participar, agora que, pela primeira vez, elegeu-se ao Parlamento britânico. Farage já foi eurodeputado.

O presidente dos Patriotas será Jordan Bardella, o iletrado que se imaginou ungido a primeiro-ministro francês pelas mãos de Le Pen.

Num pano rápido. Na imagem do "trem fantasma", resta dizer que ele é movido a combustível poluente, gerador do nocivo efeito estufa, por muitos e muitos anos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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