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Ao citar Pfizer, Bolsonaro omite acordo por vacina de Oxford ainda em teste

Beatriz Montesanti e Douglas Maia

Colaboração para o UOL, em São Paulo e Curitiba

13/05/2021 21h45Atualizada em 13/05/2021 23h53

Não é verdade que o governo brasileiro não poderia garantir doses de uma vacina para covid-19 ainda em testes, como alegou o presidente Jair Bolsonaro em sua live de hoje (13).

O próprio governo Bolsonaro firmou acordos para a produção da vacina de Oxford em meados de 2020, quando o imunizante ainda estava sendo testado.

Ao rebater as críticas sobre a recusa de propostas feitas pela Pfizer, que foi assunto da CPI da Covid mais cedo, Bolsonaro falou:

Tínhamos impedimento. Não tínhamos garantia jurídica, tinha que passar pela Anvisa. É uma irresponsabilidade minha (...) simplesmente aceitar a importação de uma vacina que estava em teste ainda.
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

Em agosto, quando a Pfizer diz ter feito as primeiras propostas de venda de vacinas ao governo brasileiro, o imunizante da farmacêutica ainda estava em fase de testes. Dados iniciais indicaram sua eficácia em novembro.

Ainda assim, o fato de uma vacina estar em testes não foi obstáculo para o Ministério da Saúde fazer um acordo ainda em junho de 2020 para garantir a produção da vacina de Oxford, segundo consta do site do governo. A eficácia do imunizante só foi confirmada em dezembro de 2020.

"O risco é necessário por conta do momento que vivemos e da urgência que temos da retomada de crescimento do País e de segurança pública", justificou o Ministério da Saúde na ocasião.

Bolsonaro omite proposta que previa mais doses até junho

Fechamos contrato com a Pfizer, em vez de, no total 70 milhões [de doses], fechamos no total de 100 milhões. Em vez de 9 milhões no primeiro semestre, estamos comprando 14 milhões. E no segundo semestre, em vez de comprarmos como lá atrás 61 milhões, estamos comprando 86 milhões.
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

De fato, o contrato firmado pelo Brasil em março com a Pfizer prevê a entrega de 100 milhões de doses de vacinas para a covid-19, em vez dos 70 milhões inicialmente oferecidos pela empresa.

No entanto, Bolsonaro omitiu nesta declaração que a Pfizer afirma ter feito propostas pelas quais o Brasil teria começado a receber vacinas da farmacêutica já em dezembro de 2020 — todas recusadas pelo governo federal. Segundo uma delas, o país receberia, até o fim de junho, 4,5 milhões de doses a mais do que as 14 milhões previstas no contrato enfim assinado em março passado.

No depoimento à CPI da Covid hoje (13), o executivo da Pfizer Carlos Murillo declarou que, em 26 de agosto, a empresa propôs um acordo pelo qual o Brasil receberia um total de 18,5 milhões de doses até junho, com as entregas começando em dezembro de 2020.

"Um milhão e quinhentos [doses] até 2020. Primeiro trimestre de 2021: 3 milhões. Segundo trimestre de 2021: 14 milhões. Somando os dois, estamos falando de 18,5 milhões", disse Murillo.

Seriam doses suficientes para imunizar mais 9,25 milhões de pessoas, em tese. Isso representa mais da metade dos 16,1 milhões de brasileiros que, segundo o Vacinômetro do SUS, já receberam duas doses de alguma vacina para a covid-19.

As "9 milhões" de doses no primeiro semestre citadas por Bolsonaro estão mais próximas das duas primeiras propostas que a Pfizer diz ter feito ao Brasil, nas quais entregaria 7 ou 8 milhões de doses até junho. O Ministério da Saúde anunciou na terça (11) um novo contrato para receber mais 100 milhões de doses da Pfizer a partir de setembro.

CPI não para trabalhos do Senado

Nem era pra ter CPI, porque ela para em parte trabalhos do Senado.
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

As sessões deliberativas do Senado —ou seja, aquelas em que projetos de lei são votados— prevalecem sobre qualquer CPI, segundo as regras da Casa. O capítulo VII do regimento interno do Senado prevê que "em qualquer hipótese, a reunião de comissão permanente ou temporária não poderá coincidir com o tempo reservado à Ordem do Dia das sessões deliberativas ordinárias do Senado". Ou seja, a Ordem do Dia continua ocorrendo mesmo durante o período em que uma CPI está instalada.

Cloroquina é contraindicada para covid-19

Não vou falar nome do medicamento para não? Ele serve para malária, lúpus e artrite, eu tomei lá atrás e me dei bem.
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

O presidente voltou a fazer uma referência velada à hidroxicloroquina, que nunca teve eficácia comprovada contra a covid-19 e inclusive é contraindicada para a doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Bolsonaro afirma ter tomado o medicamento quando foi diagnosticado com o coronavírus.

O Boletim de Farmacovigilância nº 14 da Anvisa, de janeiro de 2021, reúne diversos estudos que apontam riscos de efeitos adversos no uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, especialmente quando somadas à ingestão da azitromicina, outro medicamento do chamado "kit covid" —uma série de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

Primeira vacinação fora de testes foi em dezembro

A primeira pessoa a vacinar no mundo foi em dezembro do ano passado. Não tinha como em novembro o Brasil estar vacinando quem quer que seja com uma Pfizer aqui.
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

Bolsonaro deu esta declaração em resposta ao comentário feito pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, na CPI da Covid, de que o Brasil poderia "estar vacinando já desde novembro do ano passado".

A primeira pessoa a receber uma vacina contra covid-19 no mundo fora de testes foi uma idosa de 90 anos, no Reino Unido, no dia 8 de dezembro de 2020. O imunizante da Pfizer teve sua eficácia anunciada em 9 de novembro, e as propostas que a Pfizer afirma ter feito ao governo brasileiro previam a entrega de vacinas somente a partir de dezembro.

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