Em sabatina, Marçal erra sobre Craco Resiste e distorce fala de Lula

Em sabatina do UOL com a Folha de S. Paulo, o candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) errou ao falar do coletivo Craco Resiste, que atua na Cracolândia, e distorceu uma fala do presidente Lula.

Confia a seguir a checagem feita pelo UOL Confere:

R$ 1 bilhão é destinados para ONGs que estão ajudando nisso [tirar gente das ruas na Cracolândia]. Só que tem ONG, tipo a Craco Resiste, que recebe dinheiro público para manter [as pessoas na rua], para fazer esse negócio continuar.

FALSO. A Craco Resiste não recebe recursos públicos. A alegação já foi verificada anteriormente pelo UOL Confere (leia aqui). A organização é, na verdade, um coletivo, não possui CNPJ, e segundo um integrante disse ao UOL Confere não se estrutura como ONG ou OS. O coletivo promove atividades culturais na Cracolândia (aqui).

Não há nenhum registro de que o grupo tenha recebido recursos no portal da Prefeitura de São Paulo. Ao UOL Confere, a prefeitura também confirmou que não mantém convênio com o coletivo.

O UOL Confere procurou a assessoria de Pablo Marçal para esclarecer a afirmação, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

E o que a gente vai ensinar que a esquerda pira e surta é educação financeira. Como o próprio presidente Lula falou num comício aqui em São Paulo. Se a pessoa ganha mais de R$ 4.000 por mês, ela tem uma renda superior a R$ 4.000, ela para de votar [no PT].

DISTORCIDO. Marçal faz referência a um discurso de Lula realizado em dezembro de 2023. Porém, o presidente não disse que a esquerda é contra educação financeira ou, como sugere Marça, que as pessoas ganhem dinheiro (aqui). Lula deaclarou que o PT precisava fazer uma autoreflexão sobre o perfil do eleitorado, formado majoritariamente por pessoas que recebem até dois salários mínimos - que na época ficava em R$ 2.640. Na sequência, Lula deu um exemplo. "Um metalúrgico de São Bernardo, que ganha R$ 8 mil, já não quer mais votar na gente. Pega a pesquisa e vocês percebem que quem ganha acima de cinco salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente" (veja aqui e abaixo). Na época, cinco salários mínimos equivaliam a R$ 6.600.

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Tem mais homicídio no Brasil do que países que estão em guerra. A gente já chegou a ter 70 mil homicídios no ano. Se você olha para o Japão, que é um povo que trabalha essa questão socioemocional, a gente tem 900 ou 800 do Japão no ano.

IMPRECISO. O dado sobre o número de mortos no Brasil existe, mas é de uma organização internacional. Segundo a Small Arms Survey, em 2016, o país registrou 70 mil homicídios (leia aqui). Já segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, considerado como referência, em 2016 foram registrados mais de 61 mil homicídios no Brasil (confira aqui). Desde 2011, início da série histórica da organização, o maior número de assassinatos foi registrado em 2017, com 64 mil mortes. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, responsável pelo relatório, utiliza dados das secretarias de Segurança Pública dos estados.

Açúcar vicia dez vezes mais do que a cocaína.

INSUSTENTÁVEL. Não há evidências científicas conclusivas que mostrem que o açúcar tem capacidade para viciar mais que a cocaína (aqui). Uma análise de estudos realizados até 2016 (aqui em inglês), feita por pesquisadores da Universidade de Cambridge (Reino Unido), indicou que há poucas evidências para sustentar a afirmação (aqui, em inglês). "Dada a falta de evidências que o sustentem, argumentamos contra uma incorporação prematura do vício em açúcar na literatura científica e nas recomendações de políticas públicas", concluíram três pesquisadores na revisão. Há, de fato, um estudo feito em 2016 (aqui, em inglês) por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, que mostra que as duas substâncias acionam a mesma região do cérebro conhecida por sistema de recompensas. Porém, o estudo não mostra que o açúcar vicia dez vezes mais em relação à cocaína. Além disso, a pesquisa foi feita em ratos, não sendo replicada em humanos, o que torna o estudo questionável por outros pesquisadores.

UOL Confere

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