Nunes e Boulos dão declarações falsas no debate da Globo
No debate da Globo, o último desta eleição, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) deram declarações falsas e distorcidas.
O UOL Confere checou as falas do candidatos à Prefeitura de São Paulo. Leia a seguir:
Ricardo Nunes
A tabela de preço [dos serviços funerários] é a tabela de 2019. Todo mundo que está no CadÚnico, todos que estão no CadÚnico, têm o acesso gratuito e você pode pagar com 25% de desconto para o enterro social. (...) O contrato estipula que o preço da tabela de 2019 para os seis itens são os preços congelados.
FALSO. Os documentos que tratam sobre a política tarifária dos serviços funerários no contrato entre a prefeitura e as concessionárias (aqui e aqui) não afirmam que os preços estão congelados e nem por quanto tempo. O anexo VI do edital de licitação estabelece os valores máximos que as concessionárias podem cobrar pelos serviços. Há previsão de reajustes. Além disso, após a concessão dos cemitérios no ano passado, houve aumento de 400% nos valores dos serviços funerários.
Já sobre a gratuidade, é verdade que pessoas cadastradas no CadÚnico têm direito ao enterro gratuito. O serviço oferecido é apenas o sepultamento, sem velório, e é realizado em apenas quatro cemitérios da cidade (aqui). A pessoa solicitante cadastrada no CadÚnico deve comprovar renda per capita de até meio salário mínimo ou renda mensal familiar de até três salários mínimos.
Eu vou entregar 8.000 obras.
DISTORCIDO.O prefeito tem repetido o número durante toda a campanha. Por meio de Lei de Acesso à Informação (LAI), o Estadão Verifica solicitou a discriminação das obras e verificou que na lista constam itens como pinturas em escadas e instalação de corrimãos e lixeiras. Além disso, há mais de mil repetições e 31 obras aparecem tanto em andamento como concluídas (confira aqui).
Sequer sou investigado, não tem qualquer denúncia contra mim.
IMPRECISO. A PF pediu à Justiça para investigar o prefeito em um inquérito específico no caso da máfia das creches. A polícia quer investigar a relação de Nunes, quando era vereador, com duas empresas envolvidas no esquema: "Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli" e "Organização Social Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria)".
Você defendia a desmilitarização, que é o fim da Polícia Militar
FALSO. Boulos já defendeu a desmilitarização das polícias (aqui), mas isso não significa o fim da instituição Polícia Militar. A ideia, defendida também por outros políticos, sugere uma reformulação do modelo, para que a polícia nas cidades substitua características militares, com o uso de armas mais letais, por exemplo, por um perfil de patrulhamento, com armas menos letais e proximidade com a população. A ideia seria inibir práticas irregulares (aqui) Isso é, inclusive, uma recomendação da ONU (aqui).
Fiz a Operação Delegada; eram 400 policiais militares, agora são 2.400
EXAGERADO. Em 2020, o número de vagas diárias para policiais militares na Operação Delegada em São Paulo era de 964, conforme nota da Prefeitura de São Paulo (aqui), e não 400 como disse Nunes. Nota mais recente, de 4 de maio de 2020, afirma que o número subia de 1.163 para 2.400 (aqui).
Bruno [Covas] e eu abrimos 27 (UPAs). Dessas, abri 19
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Quero receberIMPRECISO E EXAGERADO. Das 19 unidades citadas por Nunes, em quadro há divergências. Procurada pela UOL Confere em checagem anterior, a assessoria de imprensa da campanha repassou uma lista de 18 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) que teriam sido inauguradas na gestão Nunes. Mas, entre as listadas, a UPA Jabaquara foi aberta em abril de 2020, quando Bruno Covas era prefeito (aqui). A UPA 24H Vera Cruz, lançada em 2018 pela gestão João Doria (aqui), foi apenas ampliada por Nunes. A UPA Santo Amaro, que estreou em 2018, na administração Covas, mudou de endereço em 2024 (aqui). Por fim, a UPA Jardim Helena, entregue em 17 de setembro (aqui), já existia e funcionava como uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial).
Ajustei a saúde financeira da cidade
DISTORCIDO. A melhora das contas públicas começou com o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que renegociou a dívida da capital paulista com a União em agosto de 2015 (aqui e aqui), de R$ 64,8 bilhões para R$ 28 bi. Além disso, turbinaram as receitas a correção do IPTU, em novembro de 2021, a partir da proposta de Nunes (aqui), e o acordo entre o atual prefeito e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (aqui) para o Campo de Marte, em agosto de 2022, no valor de R$ 23,9 bi (aqui).
Guilherme Boulos
Você fez déficit de mais de R$ 5 bilhões no ano passado
IMPRECISO. Na verdade, o déficit orçamentário da Prefeitura de São Paulo é maior do que o apresentado por Boulos. Em 2023, o montante ficou em R$ 6,3 bilhões, segundo relatório técnico do balanço geral, do departamento de contadoria da prefeitura (aqui, na página 26, e aqui)
Diferente de você [Nunes], que gosta de me chamar de extremista, mas foi preso. [Você tem] BO em Embu das Artes por dar tiro em porta de boate.
IMPRECISO. Em setembro de 1996, Nunes disparou tiros para o alto com uma pistola em frente a uma casa de shows em Embu das Artes, cidade da região metropolitana de São Paulo. Nunes foi levado à delegacia pelo porte de uma arma sem licença e por atirar em via pública, mas não foi preso —ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado (aqui). Em nota à Folha de S.Paulo em fevereiro deste ano, o prefeito afirmou que a arma era de uma pessoa desconhecida, que teria fugido do local, e que o disparo foi acidental (aqui).
Por que você indicou o cunhado do Marcola, do PCC, para cuidar das obras da prefeitura?
DISTORCIDO. O chefe de gabinete de obras da atual gestão, Eduardo Olivatto, é ex-cunhado de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, chefe do PCC. A irmã dele, Ana Maria Olivatto, foi casada até 2002 com Marcola, quando foi assassinada em outubro de 2002, em Guarulhos. Boulos faz referência a uma reportagem do UOL que observa que "não há indício de que a relação de sua irmã com o líder da organização criminosa tenha repercutido na trajetória de Olivatto, servidor de carreira da Prefeitura de São Paulo".
[Nunes] Não entregou nem 8.000 [casas]
FALSO. Uma das metas do Plano de Metas da Prefeitura de São Paulo (aqui) é garantir 49.000 moradias de interesse social na capital paulista. Conforme a plataforma, até 2023 já foram entregues ou contratadas 33.422 unidades. Em nota ao UOL Confere, a Secretaria Municipal de Habitação informou que desde 2021 foram entregues 10.348 unidades habitacionais e que outras 27.151 estão em construção. "Somando ainda as previsões de unidades contratadas até o final de 2024, a atual gestão irá viabilizar 72 mil novas moradias", disse o órgão.
População de rua mais que dobrou em seu governo, chegando a mais de 80 mil pessoas.
IMPRECISO. O número de moradores de rua em São Paulo passou de 48.134 pessoas, em 2020, para 80.369 (aqui), como dito por Boulos. Porém, o aumento da população de rua nesse período não chega a ser o dobro. Os dados são do OBPopRua (Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua), da Universidade Federal de Minas Gerais (aqui e aqui).
O que eu sempre defendi foi a diferenciação de usuário e traficante, a descriminalização do usuário.
FALSO. Boulos já deu declarações favoráveis à descriminalização das drogas (aqui) e também à legalização da maconha. Em 2018, quando era candidato à Presidência da República, o agora deputado se encontrou com jovens e disse que "no caso da maconha, está claro em várias experiências internacionais que é possível legalizar com a regulamentação adequada sem prejuízo algum para a saúde pública" (aqui).
O PSOL votou a favor do projeto [para redução do ISS de plataformas de streaming] que ele [Nunes] está falando na primeira votação. Na segunda votação, a turma dele incluiu alguns jabutis no projeto para a prefeitura pegar dinheiro em moedas estrangeiras, por isso meu partido votou contra.
FALSO. Na primeira votação do PL 755/2023, que propunha redução na alíquota do ISS (Imposto sobre Serviços) sobre plataformas de streaming de 2,9% para 2%, toda a bancada do PSOL se absteve, conforme registrado pela vereadora Elaine do Quilombo Periférico (aqui). O partido realmente votou contra a proposta na segunda votação (aqui). O projeto foi aprovado e sancionado por Nunes em 28 de dezembro do ano passado.
Você [Nunes] dizia que era a favor da vacina. Aí recebeu o apoio do Bolsonaro e passou a dizer que era contra a vacina. Você dizia que o Bruno Covas tinha acertado na pandemia; recebeu o apoio do Bolsonaro e passou a dizer que o Bolsonaro fez tudo certo na pandemia.
DISTORCIDO. Nunes firmou que errou ao instituir o passaporte da vacina da covid-19 na cidade de São Paulo e disse ser contra a obrigatoriedade da vacinação, mas em momento algum se mostrou contrário à imunização (aqui).O prefeito também defendeu a atuação do então presidente Jair Bolsonaro, que hoje o apoia em sua campanha à reeleição municipal, durante a pandemia (aqui).
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