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"Não volto mais aqui", diz corredor após tiroteio no Complexo do Alemão

Julia Affonso

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/05/2013 12h46

Os tiros que atrasaram a largada do Desafio da Paz, no Complexo do Alemão, causaram "desespero e pânico" no corredores na manhã deste domingo (26), contou o comerciante André Agualuza, 31, um dos 2.000 inscritos da corrida na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Segundo ele, os tiros foram ouvidos às 7h40.

"Foram dez minutos de muito tiro. Muita gente se jogou no chão, outras pessoas saíram correndo para se esconder atrás de algum lugar. Ficou todo mundo muito assustado. A corrida começou às 9h, e o Bope [Batalhão de Operações Especiais] fez o policiamento do percurso todo", contou Agualuza. "Foi a primeira vez que eu participei e não volto mais aqui".

Sem relatos de feridos, o tiroteio atrasou em uma hora a largada da corrida que traça um percurso de 5 quilômetros pela rota de fuga usada por traficantes em 2010, durante a ocupação da polícia no Complexo do Alemão. O secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, que estava no local para participar do evento, classificou a ação como "irresponsável e criminosa". O secretário fez o trajeto em 35 minutos e 36 segundos, segundo os organizadores.

Para o fisioterapeuta Bruno da Eira, 31, os tiros estragaram o evento. Ele afirmou que só volta quando a segurança estiver garantida na região. "A gente deixa a família em casa, abre mão de fazer alguma coisa com ela e, de repente, toma um tiro?", questiona o participante.

Segundo um morador e comerciante do local, que não quis se identificar, os tiros têm sido cada vez mais comuns na região. Ele disse que o tráfico nunca deixou o local, mas está ficando mais forte, nos últimos tempos.

Também sob condição de anonimato, outro morador afirmou que os traficantes estão tentando voltar a comandar a rotina do complexo, dando ordens de preço de botijão de gás e nos produtos de armazém. Eles também mandam fechar o comércio local, como outra forma de mostrar que estão presentes e com força local. 

Na última semana, o comércio do Complexo do Alemão e algumas escolas da região fecharam as portas durante um dia por ordem do tráfico, após um traficante ser morto em confronto com a polícia.