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Jornada foi marcada pela desorganização e bom humor do papa e dos peregrinos

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

29/07/2013 19h06

Nem a prefeitura nem os cerca de 2 milhões de peregrinos que tomaram conta do Rio na última semana, com mochilas coloridas, gritos de “essa é a juventude do papa” e muita boa vontade frente à desorganização que marcou a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) em terras cariocas pareciam saber o que iriam enfrentar quando o encontro teve início no dia 23.

Ainda na segunda-feira (22), o primeiro susto. O papa Francisco ficou preso entre ônibus estacionados e o público depois que sua comitiva errou o caminho no centro da cidade.

O bom humor do argentino, que reagiu bem às tentativas da população de invadir o carro em que estava e não paravam de lhe jogar lembranças vidro adentro, minimizou a tensão da situação, mas não diminui as críticas do que foi considerada a pior falha de segurança do evento.

Recebido pela presidente Dilma Rousseff (PT), pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) e pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, logo depois de desfilar de papa-móvel pelo centro da cidade, o pontífice tomou café com as autoridades e cumpriu o protocolo de boas vindas.

Enquanto isso, manifestantes que criticavam Cabral e os gastos com a Jornada entravam em confronto com a polícia a cerca de 300 metros do prédio.

Com fôlego digno de um maratonista, Francisco quase não descansou – viajou a Aparecida, visitou uma favela na zona norte, um hospital, falou com presidiários, confessou jovens e beijou bebês do começo ao fim da semana -, e impressionou a todos com sua disposição. Os peregrinos reagiram na mesma medida, encarando com resignação a série de percalços da jornada.

Na terça-feira, 23, data oficial do início do encontro, o metrô passou duas horas sem funcionar em pleno horário de pico, atrapalhando aqueles que tentava chegar a Copacabana para a missa de abertura e dos moradores que voltavam para casa.

Ainda assim, 500 mil pessoas, segundo o Vaticano, foram à praia, ignorando a chuva e o frio que deram trégua apenas no fim de semana.

Na quinta-feira (25) cerca de 1 milhão de pessoas foram até a praia para a missa de acolhida, que contou a presença de Francisco.

O carisma do pontífice, mais uma vez, chamou a atenção. Apesar de preferir rezar a missa em espanhol, pela manhã, durante a visita a favela de Varginha, ele saiu-se com a brasileiríssima expressão “colocar mais água no feijão”, recebida com sorrisos pela plateia.

Guaratiba

O dia, no entanto, foi marcado por novos problemas. Depois de uma semana de chuva intensa a organização e o governo anunciaram que a vigília e a missa de encerramento, que estavam programados para acontecer em Guaratiba, na zona oeste da cidade, em um terreno preparado há cerca de dois anos para o evento, precisariam ser transferidos para Copacabana devido à chuva, que tornou o local um lamaçal.

Metrô, banheiros e filas foram pontos fracos da JMJ no Rio

A peregrinação, que antes era de 13 quilômetros, diminuiu para 9,5 quilômetros e o público foi caminhando no sábado (27) do centro a zona sul, no que tornou-se um novo marco para a cidade: depois de lotarem a praia, as calçadas e as ruas da orla de Copacabana em vigília, transformando a orla em um grande acampamento a céu aberto, cerca de 3 milhões de pessoas assistiram à missa de encerramento celebrada pelo papa.

Francisco ainda encontrou tempo de discursar para os cardeais no Riocentro e decolou, às 19h30, com destino à Roma, encerrando a sua passagem pelo Rio e a Jornada. Em 2016 será a vez da Cracóvia, na Polônia, encarar o desafio de hospedar a jornada.

Apesar de todos os problemas, as autoridades fizeram um balanço positivo da estrutura montada para receber a visita do papa. Em entrevista a jornalistas, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, afirmou que a presidente Dilma Rousseff ficou satisfeita com a organização do evento, especialmente em relação a segurança, uma de suas maiores preocupações.

Paes, por sua vez, atribuiu uma "nota perto de zero" para a organização da Jornada, que entre outras coisas, não previu a chuva. A Jornada Mundial da Juventude é considerada um grande teste para o Rio de Janeiro, que irá sediar partidas da Copa do Mundo em menos de um ano, e os Jogos Olímpicos de 2016.

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