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Última testemunha a depor no júri diz que PMs invadiram Carandiru em clima de "euforia"

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

29/07/2013 23h22

O depoimento do ex-diretor de disciplina do Carandiru, Moacir dos Santos, encerrou no final da noite desta segunda-feira (29), no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), o primeiro dia de júri da segunda leva de policiais acusados pelo massacre de 1992. Desta vez, são julgados 26 policiais militares pela morte de 73 detentos do terceiro pavimento do pavilhão 9 do presídio. A sessão hoje durou cerca de 12 horas.

Santos, a exemplo de dois sobreviventes do massacre, foi testemunha de acusação reaproveitada, em vídeo, do primeiro júri –realizado em abril e no qual 23 PMs foram condenados a 156 anos pela morte de 13 detentos do segundo pavimento. Além deles, a Promotoria ouviu novamente, mas em depoimento presencial, o perito aposentado Osvaldo Negrini Neto, que fez o laudo do local do massacre.

De acordo com o diretor de disciplina, os PMs da Rota que entraram no pavilhão 9 do Carandiru a pretexto de conter uma rebelião de presos desrespeitaram uma comissão de negociação que se formava para tentar mediar o conflito e "gritavam como índios, ou como se marcassem um gol".

Segundo o ex-diretor, não houve rebelião no presídio no dia da invasão da polícia, como alegou o Estado, à época, e como sustenta a defesa dos réus. Ele disse que houve um "acerto de contas" entre duas facções rivais, de modo que sequer funcionários do complexo, em momento algum, teriam sido mantidos reféns pelos internos.

Conforme a testemunha, formou-se uma junta de negociação composta pelo então secretário de Segurança, Pedro Franco de Campos, pelo secretário adjunto, Antonio Filardi Diniz, por dois juízes e pelo coordenador do presídio.

Personagens

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“Passei para ele [um dos PMs] quem estava no pátio e quem estava na briga. Quando abriu o portão, tudo o que tinha sido combinado entre as autoridades caiu por terra –vi presos rendidos sendo metralhados", afirmou a testemunha, referindo-se a internos que estavam no pátio, fora da briga, voltando de áreas como a capela ou o campo de futebol.

"Não respeitaram nem o coronel Ubiratan [Guimarães]", disse, referindo-se ao comandante da operação, assassinado em 2006, em São Paulo.

Indagado em abril pelo então juiz do caso, José Augusto Marzagão, se os presos gritavam a ponto de não se estabelecer um diálogo audível entre as partes, negou: enfatizou que a "euforia" era apenas dos policiais, uma vez que os internos já haviam jogado armas brancas que estavam com eles nas celas.

Na avaliação da testemunha, as autoridades trabalharam para que a perícia no local do massacre fosse prejudicada. Assim como os sobreviventes que testemunharam no júri, ele também afirmou que presos foram obrigados a arrastar corpos pelas escadas, a fim de que fossem levados ao IML (Instituto Médico Legal), mas salientou que os cadáveres foram destinados "a três IMLs diferentes para despistar os repórteres e os familiares dos presos".

Se ele acreditava que o lapso de tempo para permissão de acesso era intencional, como indagou o juiz? Santos resumiu: "Se os presos foram mortos dentro das celas e se demoraram três, quatro horas para nos deixarem entrar, acredito que não queriam de fato que soubéssemos onde os presos foram mortos. Mas as marcas de projéteis estavam lá, as camas, todas furadas, pareciam peneiras",  disse.

A testemunha relatou que, na operação de rescaldo, os funcionários verificaram que uma das celas estava trancada. Abriram, e havia 11 presos dentro –todos, mortos a tiros.

Outras testemunhas de acusação e de testemunhas de defesa

Também reaproveitado em vídeo, o ex-detento Antonio Carlos Dias, 47, afirmou em depoimento tomado em abril que viu "muitos presos" serem mortos por policiais militares enquanto "escalavam pilhas de corpos" de internos vítimas do massacre.

Também sobrevivente, Marco Antonio de Moura, 44, afirmou que, embora ferido, não ergueu os braços quando os PMs perguntaram após o massacre quem estava ferido. "Os presos que estavam feridos e ergueram as mãos nós nunca mais vimos", disse. Ele afirma que foi salvo por um "anjo da guarda".

Para esta terça-feira (30), há seis testemunhas de defesa arroladas –duas, apenas, serão reaproveitadas. Nem o Tribunal de Justiça, nem a defesa confirmaram nomes, mas as possibilidades são que o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos sejam reconvocados a falar em plenário.

Júri mais velho e masculino

O Conselho de Sentença que decidirá o futuro dos 26 policiais militares é composto por sete homens, a maioria, aparentando no mínimo 30 anos. No júri passado, misto e essencialmente jovem, alguns jurados sequer haviam nascido quando ocorreu o massacre.

Três dos 26 réus não compareceram à sessão. Não foram divulgados os motivos da ausência deles pelo TJ e pela advogada Ieda Ribeiro de Souza.

A sessão nesta terça será retomada às 10 horas. A previsão do juiz Rodrigo Tellini é que o segundo júri seja encerrado até a madrugada de sexta (2) para sábado (3).