Réu do Carandiru pediu que ficha de punições na PM fosse zerada 12 dias antes de júri
O último réu interrogado no júri do Carandiru, o ex-chefe da Rota Salvador Modesto Madia, teve a ficha de punições na Polícia Militar zerada a 12 dias do segundo júri de policiais militares acusados pela morte de presos no Carandiru.
Madia tinha três punições anotadas na ficha funcional desde os anos 1980 e que renderam a ele detenções de até 30 dias. O pedido para que fossem zeradas foi feito por ele próprio no dia 17 de julho deste ano. O júri no qual é réu ao lado de outros 24 PMs teve início no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP) no dia 29.
A informação foi divulgada no júri pelo promotor titular do caso, Fernando Pereira da Silva, já no encerramento das perguntas da acusação em interrogatório que ultrapassa quatro horas de duração.
Pelas normas da PM, segundo o promotor, as punições podem ser eliminadas da ficha funcional após um período de dez anos sem o registro de nenhuma delas. A última na ficha de Madia datava de dezembro de 1995. As demais eram de março de 1983 e dezembro de 1988.
“Pedi o cancelamento das punições porque já tinha dez anos sem anotações e porque estou me preparando para me aposentar”, disse.
Na punição de 1983, quando o policial militar tinha 20 anos, a detenção de dez dias havia sido imposta após um trote físico aplicado contra um aluno da 2ª Companhia da PM. Em dezembro de 1988, a detenção de 30 dias –metade deles, afastado dos serviços– havia sido por omissão, em condição de chefia, a maus-tratos “maculando os princípios básicos de hierarquia e disciplina”.
A punição de 16 de dezembro de 1995, segundo a acusação, era pela “não prestação de apoio a oficial de justiça, embaraçando uma execução judicial”.
DRAUZIO VARELLA
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Também dias antes do julgamento, Madia --ex-chefe da Rota entre 2011 e 2012-- foi transferido do comando do 4º Batalhão de Choque, pelo governo do Estado, ao CPC (Comando de Policiamento da Capital). Só o Choque, porém, tem atribuições consideradas de elite dentro da PM. A transferência foi publicada pela Secretaria de Segurança Pública no "Diário Oficial do Estado" no sábado (27), dois dias antes do início do júri.
Indagado pelo assistente de acusação, Eduardo Olavo Canto, sobre as razões dessa transferência, o réu respondeu: “Numa outra oportunidade, respondo”.
Réu sugere que jurado pode ter "medo" de PM
Durante o interrogatório feito pelo assistente da acusação, foi solicitado ao tenente-coronel que respondesse uma das perguntas olhando diretamente para o corpo de jurados --formado por sete homens. O promotor queria que o réu explicasse de quem recebeu a ordem específica para que deixasse a Casa de Detenção com sua equipe, conforme alegara sobre a ação no pavilhão 9.
Nesse momento, o réu disse ter sido orientado a não fazer contato visual com o corpo de jurados porque eles poderiam ter medo de policiais militares –todos os réus que concordaram em responder às perguntas do juiz, da promotoria e da defesa, nesse segundo júri do massacre do Carandiru, são oficiais de alta patente na Polícia Militar.
“A orientação que eu recebi era para não olhar para os senhores [jurados] por causa de medo de polícia e essas coisas.” E prosseguiu, com esse pedido: “Sejam só justos”.
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