MP denuncia pastor Marcos Pereira por associação ao tráfico
O MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) denunciou, nesta terça-feira (3), o pastor Marcos Pereira e Márcio Nepomuceno dos Santos, conhecido como "Marcinho VP", pelo crime de associação ao tráfico. O órgão solicitou ainda o pedido de prisão preventiva dos dois.
"Cadeia não tem como me segurar", diz pastor
Acusado de estupros, Pereira está preso desde o dia 8 de maio no presídio do complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio. Em audiência à Justiça, o pastor negou o estupro e acusou pessoas ligadas à ONG AfroReggae de convencer a suposta vítima e outras que foram ouvidas a fazerem as acusações.
Segundo o promotor Alexandre Murilo Graça, a associação dos denunciados para o tráfico de drogas começou em 1993, época em que o religioso fazia trabalho de evangelização em presídios, delegacias e comunidades dominadas pelo tráfico. Já Marcinho VP começava a ascender na estrutura do "Comando Vermelho", organização da qual é um dos principais chefes.
O pastor, como aponta a denúncia, começou como "pombo correio", levando ordens de chefes do tráfico que estavam presos para as comunidades onde atuavam, aproveitando-se do fato de ter acesso aos presos. Nas comunidades cariocas --principalmente nos complexos do Alemão e da Penha-- outros religiosos eram ameaçados e impedidos de realizar seus cultos, o que fortalecia a igreja de Pereira.
A promotoria acusa o pastor de utilizar os templos da Assembleia de Deus dos Últimos Dias como esconderijo para traficantes e depósito para armas da organização criminosa. Além disso, "sob o manto de estar fazendo um serviço de ressocialização de criminosos", convencia fiéis a esconder traficantes e a depor a seu favor.
No início dos anos 2000, como relata a denúncia, o pastor passou a promover filmagens de supostas ações de resgate, onde aparecia para salvar alguém que supostamente havia sido condenado à morte pelo tráfico na tentativa de convencer outros a abandonar o vício ou para conter rebeliões. "Na verdade, os traficantes participavam da simulação e os viciados recebiam drogas e dinheiro do próprio pastor para participarem da encenação", diz o Ministério Público.
Depoimentos colhidos pela DCOD (Delegacia de Combate às Drogas) revelaram que diversas rebeliões no sistema penitenciário --como a que ocorreu em 31 de maio de 2004, na Casa de Custódia de Benfica, na qual foram assassinados diversos integrantes da facção rival "Terceiro Comando"-- eram usadas para fortalecer o poder do pastor e sua projeção na mídia.
"Além da teatralização da 'rendição', Pereira tinha a incumbência de relatar o que estava acontecendo do lado de fora (dizer quais os planos das autoridades) e repassar ordens para os membros da quadrilha que não estavam presos", destaca um trecho da denúncia.
De acordo com a promotoria, o pastor também teve participação nos ataques contra a população civil e os policiais nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, comandados por presidiários que eram contra o programa de isolamento das lideranças em presídios federais, com a implantação do Regime Disciplinar Diferenciado.
O religioso também é acusado de comandar os ataques à sede da ONG AfroReggae, no Complexo do Alemão (RJ). A ação foi encaminhada à 43ª Vara Criminal da capital fluminense.
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