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São Luís fica sem ônibus à noite devido a insegurança após ataques

Ônibus é incendiado em onda de ataques em São Luís a mando de facções criminosas - Francisco Silva/Jornal Pequeno/EFE
Ônibus é incendiado em onda de ataques em São Luís a mando de facções criminosas Imagem: Francisco Silva/Jornal Pequeno/EFE

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

04/01/2014 18h09Atualizada em 05/01/2014 05h13

A insegurança nos ônibus coletivos em São Luís, após os ataques ocorridos a quatro veículos na noite desta sexta-feira (3), vai deixar a população sem transporte público durante a noite a partir deste sábado (4). O Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão decidiu, em uma reunião ocorrida hoje, que toda a frota de ônibus em São Luís ficará recolhida das 18h às 5h até a próxima segunda-feira (6).

O comando dos ataques partiu de prisioneiros do Complexo de Pedrinhas, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública). O local registrou 60 mortes em 2013 e relatórios do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) apontaram a ocorrência de estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes. Por determinação do governo do Estado, a PM assumiu o complexo em 27 de dezembro. Apesar da ação, ele já registrou duas mortes em menos de 24 horas neste ano.

Vítimas estão internadas

Os ataques aos ônibus feriram cinco pessoas, sendo uma delas uma criança de seis anos que está em estado gravíssimo, com 90% do corpo queimado.

Na próxima terça-feira (7), os empresários vão se reunir para reavaliar se a redução dos horários dos coletivos irá prosseguir por tempo indeterminado. De acordo com o sindicato, nos fins de semana a frota de ônibus é reduzida devido a demanda de usuários. Aos sábados, apenas 60% da frota circula. Já no domingo fica em 50%.

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes informou que está em contato direto com o sindicato para “encontrar meios que garantam o atendimento normal aos usuários de transporte coletivo”. O secretário de Trânsito e Transportes, Carlos Rogério Araújo, afirmou que está cobrando soluções para o setor à cúpula da Segurança Pública.

Locais de ataques a ônibus e a delegacia em São Luís (MA) em 3.jan.2014

  • Arte/UOL

Os ataques

Na noite desta sexta-feira, a Tropa de Choque da PM (Polícia Militar) iniciou a operação “Pedrinhas em Paz” e fez uma ação pente fino para encontrar armas, telefones celulares e outros objetos ilegais que estavam em poder os presos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

Durante a ação da polícia nos presídios, quatro ônibus foram atacados por criminosos --três deles incendiados-- e o prédio do 9º DP (Distrito Policial) foi alvo de tiros. A SSP confirmou que as ordens dos ataques aos coletivos vieram de dentro dos presídios maranhenses em retaliação às ações.

Ainda na noite de ontem, um policial reformado foi assassinado a tiros enquanto conversava com a namorada no bairro Maracanã. A polícia não confirmou se a morte do PM teve relação com as ordens dos presos de Pedrinhas, mas investiga o caso.

Os ataques a ônibus coletivos em São Luís e região metropolitana vêm se tornando constantes. No dia 9 de novembro, dois ônibus foram incendiados, mas antes os passageiros foram roubados pelos criminosos. Os coletivos faziam a linha Bequimão e Alto da Esperança/Tamancão. Na mesma noite, homens armados mataram um PM e feriram dois durante ataques a trailers da polícia.

Violência em Pedrinhas

O relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), divulgado no último dia 27 de dezembro, apontou que o domínio de facções criminosas que agem dentro dos presídios maranhenses deixam as unidades prisionais "extremamente violentas".

A maior parte das mortes tem relação com brigas entre as facções criminosas Bonde dos 40 --nome em alusão à pistola ponto 40-- e PCM (Primeiro Comando do Maranhão), facção ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Em um período de apenas 17 dias, dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas ocorreram três rebeliões e 18 presos foram mortos nesses motins.

Policiamento é reforçado no Maranhão após onda de ataques

O domínio desses grupos criminosos dentro dos presídios do Maranhão impediram que fossem concluídas as inspeções do CNJ, realizadas em dezembro para traçar a verdadeira situação do Complexo de Pedrinhas.

Ainda segundo o CNJ, a disputa dos grupos pelo domínio dos presídios de Pedrinhas já causou diversos assassinatos e estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes, e acaba comprometendo a segurança do local.

"Em dias de visita íntima no Presídio São Luís I e II e no CDP, as mulheres dos presos são postas todas de uma vez nos pavilhões e as celas são abertas. Os encontros íntimos ocorrem em ambiente coletivo. Com isso, os presos e suas companheiras podem circular livremente em todas as celas do pavilhão, e essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra companheiras dos presos", informou o juiz Douglas de Melo Martins.

Além dos estupros cometidos dentro das cadeias maranhenses, a violência cometida por detentos ultrapassa as celas e os limites dos presídios, já que há evidências de que criminosos confinados nas prisões do Estado ordenam estupros de mulheres ligadas a rivais nas ruas de São Luís.

Somente em 2014, dois assassinatos ocorreram dentro do Complexo de Pedrinhas. Na tarde desta quinta-feira (2), o preso Sildener Pinheiro Martins, 19, foi assassinado a golpes de ferros no CDP (Centro de Detenção Provisória). Na madrugada do mesmo dia, o detento Josivaldo Pinheiro Lindoso, 35, foi encontrado morto, com sinais de estrangulamento, no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

O senador José Sarney (PMDB-AP), maranhense de nascimento e uma das figura políticas mais importantes do Maranhão, que é governado pela filha dele, Roseana Sarney (PMDB-MA), chegou a comemorar, durante entrevista concedida a uma rádio de sua propriedade, o fato da violência, no Maranhão, "estar nos presídios e não na rua", conforme informou o blog do jornalista Josias de Souza.