Única medida nacional após incêndio ainda está em fase de implementação
Após a tragédia de Santa Maria (RS), que completa um ano na segunda-feira (27), a única medida nacional tomada com o objetivo de contribuir para a fiscalização de estabelecimentos nos quais há reunião de público, além da prevenção de incêndios e outros acidentes, foi a portaria 3083, da Secretaria Nacional do Consumidor, órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
Ingresso da peça "A Última Sessão", em cartaz em São Paulo, tem informações sobre a existência do alvará do Corpo de Bombeiros e lotação do teatro
Já o bilhete da peça "Confissões das Mulheres de Quarenta", em cartaz em Belo Horizonte, não tem as informações obrigatórias
O decreto, que entrou em vigor no dia 25 de dezembro do ano passado e ficou conhecido como "Portaria Santa Maria", determinou regras como a divulgação dos alvarás de funcionamento e de "prevenção e proteção contra incêndios" nos ingressos e bilhetes de eventos de lazer, cultura e entretenimento. Além disso, os estabelecimentos são obrigados a fixar as mesmas informações na porta de entrada dos locais e nos materiais de divulgação.
No entanto, passado exatamente um mês desde que a medida começou a vigorar, a reportagem do UOL verificou que a portaria ainda está em fase de implementação. Em contato com os órgãos de defesa do consumidor (Procons) de Estados e capitais, a exemplo de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, entre outros, os agentes públicos informaram ainda não terem recebido denúncias ou informações sobre o descumprimento da portaria 3083.
A secretária nacional do Consumidor, Juliana Pereira, afirmou reconhecer o fato de que muitos consumidores ainda desconhecem as novas regras, porém disse "não haver desculpa" para que empresários e promotores de eventos ainda não tenham se adequado às diretrizes da portaria.
"O empresário não pode dizer que desconhece a regra. Não há desculpa, e nós não vamos aceitar esse tipo de justificativa. O texto da portaria existe desde setembro e houve bastante tempo para que os empresários se adequassem. Não fizemos uma norma morta, para não ser cumprida", disse ela.
COMO DENUNCIAR
Segundo a Secretaria Nacional do Consumidor, além dos Procons, denúncias sobre o descumprimento da portaria podem ser feitas ao Ministério Público e à Polícia Militar
A secretária explicou que o Ministério da Justiça ainda não tem dados sobre o cumprimento da portaria 3083, e disse que, em fevereiro, fará a primeira consulta formal aos 700 Procons no país para verificar se os consumidores estão ou não denunciando.
"Se o consumidor denuncia que o local de um show, por exemplo, não está com as informações sobre os alvarás na entrada do estabelecimento, o agente de fiscalização tem respaldo legal para impedir a continuidade do evento", afirmou ela.
Em casos como esse, o organizador do evento estará sujeito às sanções previstas pelo Código de Defesa do Consumidor, que estipula multas de acordo com a gravidade da infração, e também a sanções penais, desde que o caso seja encaminhado para a Delegacia do Consumidor.
Na Lapa, no Rio, frequentadores desconhecem saída de emergência em boates
RELEMBRE
No dia 27 de janeiro de 2013, um incêndio de grandes proporções na boate Kiss, em Santa Maria (RS), deixou 242 mortos e mais de 600 feridos. A maioria das vítimas era jovem e universitária, e assistia ao show da banda Gurizada Fandangueira. O fogo começou por volta de 2h, depois que o vocalista do grupo usou um artefato pirotécnico que lançou faíscas para cima. O teto da boate, que continha uma espuma de isolamento acústico --material altamente inflamável--, acabou sendo atingido, dando início ao incêndio. Das 16 pessoas que foram denunciadas à Justiça como responsáveis pela tragédia, oito respondem criminalmente.
Empresários, donos de casas noturnas, promotores de eventos e outros interessados receberam orientação sobre as diretrizes da portaria em algumas cidades brasileiras, incluindo o próprio município de Santa Maria, palco da tragédia que provocou 242 mortes.
Na cidade gaúcha, o Procon informou realizar, desde o começo de 2014, visitas de orientação aos principais estabelecimentos da cidade. As ações não têm caráter punitivo, isto é, os proprietários não estão sendo responsabilizados pelo não cumprimento da portaria, e sim orientados a proceder de acordo com as novas regras. Além disso, o órgão disponibilizou um telefone de plantão para esclarecer eventuais dúvidas sobre a portaria.
"Das visitas realizadas, alguns estabelecimentos foram notificados e orientados para fins de melhorar a informação ao consumidor, ajustar alguma questão, mas não há, até então, multa ou interdição. Os próprios estabelecimentos estão fazendo uso do plantão Tira-Dúvidas do Procon para se adequar às novas determinações", afirmou a auditora fiscal Márcia Rocha.
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