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Vítima revela 'alegria' com prisão de Abdelmassih, mas teme impunidade

Nelma Luz, 50, que acusa Abdelmassih de manipulação genética - Arquivo/Facebook
Nelma Luz, 50, que acusa Abdelmassih de manipulação genética Imagem: Arquivo/Facebook

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

19/08/2014 17h04

A farmacêutica Nelma Luz, 50, uma das vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih, comemorou a prisão dele nesta terça-feira (19) em Assunção, no Paraguai, mas teme que ainda haja impunidade no caso. “É uma alegria e um suspense. Porque a gente não sabe o que vai acontecer amanhã”, afirmou ao UOL.

Acusado de cometer mais de 50 estupros contra pacientes entre 1995 e 2008, o ex-médico estava foragido desde 2011. Os crimes de Abdelmassih foram denunciados ao Ministério Público pela primeira vez em abril de 2008. Ele chegou a ser preso em agosto de 2009, mas o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal, lhe concedeu habeas corpus quatro meses depois.

Em novembro de 2010, a Justiça o condenou a 278 anos de prisão, mas ele continuou respondendo em liberdade. A partir de fevereiro de 2011, ele tornou-se foragido, logo após tentar tirar o passaporte. "Ele deveria estar preso há muito tempo. Faltou vontade política”, afirmou Nelma.

“Há vítimas que o denunciaram 40 anos atrás. Antes, todas as denúncias eram abafadas. Quantas vítimas seriam poupadas, quanto sofrimento seria evitado se isso não tivesse acontecido.”

A farmacêutica afirma que procurou a clínica de Abdelmassih em 2008 para receber uma inseminação artificial. Quando os crimes do ex-médico vieram à tona, ela já estava grávida de dois meses. O filho morreu depois de ficar três meses na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Nelma diz que Abdelmassih não fez um exame para detectar deformidades no embrião antes da fecundação. “Os casos de abuso já são conhecidos. Gostaria muito que, agora que ele foi preso, os erros médicos, os crimes de manipulação genética, venham à baila, que as vítimas tomem coragem para denunciar."

Segundo a farmacêutica, há vários casos de crianças geradas na clínica de Abdelmassih com síndrome de down e fecundadas com material que não eram dos pais.

Nelma participa de um grupo de vítimas do ex-médico. De acordo com ela, as mulheres do grupo receberam informações sobre o paradeiro de Abdelmassih e ajudaram as autoridades policiais nas investigações, mas não imaginavam que ele estivesse no Paraguai.

“A gente suspeitava que ele estivesse no Líbano, não no Paraguai. Não imaginava que uma pessoa tão soberba quanto ele fosse morar no Paraguai. Ele tentou despistar”, afirmou a farmacêutica.

Além de Nelma, outras vítimas Abdelmassih usam as redes sociais para comemorar a prisão do ex-médico.

O advogado José Luís de Oliveira Lima, defensor de Abdelmassih, disse que não irá se manifestar até que seja formalmente comunicado da prisão pela Polícia Federal. Ele não confirmou se o médico foi preso.