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A polícia já tem suspeitos do homicídio contra Marielle? Saiba como está a investigação

Manifestantes realizaram passeata no entorno do complexo de favelas da Maré, no domingo (18), para cobrar empenho nas investigações sobre a morte de Marielle Franco - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Manifestantes realizaram passeata no entorno do complexo de favelas da Maré, no domingo (18), para cobrar empenho nas investigações sobre a morte de Marielle Franco Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

19/03/2018 13h43Atualizada em 19/03/2018 13h43

Desde a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, e seu motorista, Anderson Gomes, 39, no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (14), a Polícia Civil, sob administração do governo federal, tenta elucidar o crime.

Durante os cinco dias de investigação, a apuração chegou até um carro suspeito, obteve imagens de câmeras de segurança e precisou o lote do armamento usado nos assassinatos --o mesmo encontrado nas cenas dos crimes da maior chacina de São Paulo, em 2015.

Saiba, abaixo, o quanto andou a investigação, que continua sob sigilo, em cinco dias.

Marielle Franco (PSOL), quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro nas eleições 2016 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016 no Rio
Imagem: Reprodução/Facebook

Investigação tem participação do Exército ou Polícia Federal?

Não, apenas da Polícia Civil. Apesar de a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ter pedido para a PF (Polícia Federal) entrar nas investigações, é a Polícia Civil quem responde pela apuração do crime.

Segundo o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, todas as autoridades demandadas serão acionadas, mas a Civil continuará no controle das investigações.

Ainda no início das investigações, o chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, afirmou que "quem quiser nos ajudar, recebermos ajuda de qualquer instituição, mas a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso".

O carro dos criminosos já foi identificado?

Não. Na madrugada de domingo (18), um carro modelo Renault Logan, prata, com placa do Rio de Janeiro, foi apreendido na cidade de Ubá, em Minas Gerais, sob a suspeita de ser o carro utilizado pelos criminosos no homicídio de Marielle e Anderson.

No entanto, a suspeita foi descartada pelo delegado de Minas Gerais, que afirmou não ter nenhum elemento para isso. Policiais civis do Rio periciaram o carro na noite de domingo. O carro permanece apreendido até que as investigações julguem ser necessário.

O envolvimento de dois veículos cor prata, modelos Cobalt e Logan, são investigados --imagens desses carros, que seguiam o automóvel em que estava Marielle, foram gravadas por câmeras de segurança e da prefeitura.

Renault Logan apreendido em Ubá (MG). Carro pode ter sido usado no assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio - Reprodução/WebTVMinas - Reprodução/WebTVMinas
Renault Logan apreendido em Ubá (MG)
Imagem: Reprodução/WebTVMinas

Alguém já foi preso pela suspeita de envolvimento no crime?

Não. O dono do carro apreendido prestou depoimento entre a noite de domingo e a madrugada desta segunda-feira (19). Ele tem passagens criminais por tráfico de drogas em flagrante. No entanto, a polícia diz que não há elementos que indiquem que ele possa ter envolvimento nos crimes.

Segundo a Polícia Civil mineira, ele está, a princípio, descartado das investigações. Além dele, a polícia do Rio ainda não chegou a nenhum suspeito.

A polícia já sabe se o crime foi premeditado?

Não. Mas é a principal suspeita. Como a morte foi direcionada à Marielle, pelo fato de quatro dos nove disparos terem atingido a cabeça da vereadora, a polícia acredita que foi um crime encomendado. Mas ainda nada foi provado.

A polícia aponta que os criminosos sabiam municiar bem as armas. Isso porque é preciso treino e habilidade para disparar tantos tiros, com precisão, na mesma direção.

A polícia investiga se houve participação de integrantes da segurança pública, por ela ter denunciado policiais militares um dia antes de sua morte. No entanto, por enquanto, não há nenhuma evidência sobre a suspeita.

A polícia tem em mãos imagens que possam colaborar na investigação?

Imagens de câmeras de segurança divulgadas pela TV Globo e TV Bandeirantes mostram a perseguição ao carro em que estava a vereadora e seu motorista. Minutos antes do crime, no bairro do Estácio, o carro com Marielle havia deixou um evento político, na Lapa.

Pelas imagens, é possível ver um carro branco em que estavam as vítimas e, em seguida, menos de cinco segundos depois, dois carros de cor prata.

Carro que persegue Marielle - Reprodução/Globo News - Reprodução/Globo News
Imagem obtida pela polícia mostra carro perseguindo veículo da vereadora
Imagem: Reprodução/Globo News

Outra imagem mostra a vereadora sendo a última a entrar no carro, no banco de trás, pela porta da direita. As imagens ainda mostram que, assim que o carro em que Marielle partiu, um veículo que estacionado logo atrás começou a sair da vaga.

Antes, ele ainda deu seta e deixou outro carro passar. Esse veículo pode ser um segundo envolvido. O carro de Marielle circulou por cerca de 4 km até o local do assassinato, também região central.

O que disse a sobrevivente?

Além de Marielle e Anderson, havia no veículo uma assessora da vereadora. A mulher, que estava no banco de trás, ao lado de Marielle, não foi atingida por nenhum disparo. Em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, ela afirmou estar "apavorada e despedaçada".

"A coisa de ser sobrevivente me marcou muito. Porque eu queria a Marielle viva. Porque eu queria o Anderson vivo. Porque sobreviver é uma coisa muito cruel assim. Por que eu preciso sobreviver? Que coisa horrenda é essa, né? Que violência é essa?", declarou.

"Eu não percebi [que tinha alguma coisa errada]. Estávamos olhando o celular. [...] Eu não fiz esse raciocínio. Me lembro que, no momento da interjeição dela, exatamente nesse momento, eu ouvi uma rajada. Me abaixei na mesma hora. Não [percebi que foi atingida]. Achei que estava abaixando junto comigo. Foi um barulho forte, mas um barulho rápido. E o vidro quebrando", relatou.

A assessora permanece no Rio de Janeiro?

Não. Ela deixou o Estado no fim da semana para se proteger. O destino não foi revelado por questões de segurança. Em choque, ela está sob acompanhamento psicológico.

18.mar.2018 - Assessora de Marielle em entrevista ao Fantástico, da TV Globo - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Assessora de Marielle em entrevista ao Fantástico, da TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

Qual foi o armamento utilizado pelos criminosos?

Foram encontradas ao lado dos corpos munições calibre 9mm. Segundo informações da TV Globo, o lote das munições é o UZZ-18, extraviado da Polícia Federal. Segundo o UOL apurou, munições do mesmo lote foram encontradas na maior chacina de São Paulo, em agosto de 2015, quando 23 pessoas morreram a tiros.

Em nota, a PF informou que, além da investigação conduzida pela Polícia Civil pelo crime de homicídio, foi instaurado inquérito no âmbito da PF para apurar a origem das munições e as circunstâncias envolvendo as cápsulas encontradas no local do crime.

"A Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro e a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro reiteram o seu compromisso de trabalhar em conjunto para a elucidação de todos os fatos envolvendo os homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, ocorrido na noite da última quarta-feira, no Rio de Janeiro", informou.

14.mar.2018 - Perito apreende itens ao lado de carro onde vereadora foi assassinada - Leo Correa/AP Photo - Leo Correa/AP Photo
Perícia apreendeu no local do crime munições do mesmo lote de balas utilizadas em SP
Imagem: Leo Correa/AP Photo

Qual o caminho que a munição fez, do extravio até o homicídio?

O ministro Jungmann afirmou na sexta-feira (16) que o lote UZZ-18 foi desviado "anos atrás" e que um dos desvios teria ocorrido na sede dos Correios na Paraíba. "A Polícia Federal já abriu mais de 50 inquéritos por conta dessa munição desviada. Então, eu acredito que essas cápsulas que foram encontradas lá na cena do crime, desse bárbaro crime, foram efetivamente roubadas", disse.

Os Correios negaram, por meio de nota divulgada no sábado (17), haver registro de desvio de carga pertencente à Polícia Federal "no passado recente".

"A empresa não aceita postagem de remessas contendo armas ou munição, exceto quando autorizado por legislação específica. Neste caso, o tráfego, via Correios, de produtos controlados pelo Exército, submete-se às disposições estabelecidas no Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados, conforme a Portaria nº 015/2009 – Colog/Ministério da Defesa", esclareceu o órgão.

Entretanto, nesta segunda-feira, o Ministério de Segurança Pública afirmou, por meio de nota, que "o ministro não associou diretamente o episódio da Paraíba com as cápsulas encontradas no local do crime que vitimou a vereadora e seu motorista. Explicou que a presença dessas cápsulas da PF no local pode ter origem em munição extraviada ou desviada e informou que há outros registros de munição da Polícia Federal encontradas em outras cenas de crime sob investigação".

Ainda não se sabe, ao certo, como a munição foi parar no Rio de Janeiro.

O crime teve envolvimento de policiais?

A polícia investiga se houve participação de integrantes da segurança pública por Marielle ter denunciado policiais militares um dia antes de sua morte. No entanto, por enquanto, não há nenhuma evidência sobre a suspeita.

Além da suspeita existir em razão da atuação pró-direitos humanos da vereadora, os investigadores acreditam que o assassino tinha experiência em tiros, uma vez que pistolas 9 mm são de difícil precisão, caso uma pessoa não seja acostumada a usar armamentos.

Disque Denúncia Marielle - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Pistas sobre o assassinato

O Disque Denúncia informa que recebeu 27 denúncias sobre o caso e encaminhou tudo para a polícia. O anonimato é garantido.

Quem tiver qualquer informações a respeito da identificação e localização dos assassinos pode usar os seguintes canais para denunciar:

  • Whatsapp ou Telegram: (21) 98849-6099
  • Central de Atendimento do Disque Denúncia: (21) 2253-1177