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Baile funk é um dos principais motivos de reclamação por policiamento em SP

Baile da Marcone, um dos mais famosos da zona norte de São Paulo - Reprodução
Baile da Marcone, um dos mais famosos da zona norte de São Paulo Imagem: Reprodução

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

09/02/2019 04h00

Os famosos bailes funk foram um dos principais motivos pelo qual a população pediu intensificação da ação de policiais militares em 2018, segundo o relatório divulgado na última quinta-feira (8) pela Ouvidoria das polícias de São Paulo. 

Os principais motivos das solicitações de intensificação de policiamento foram levantados pela ouvidoria foram:

  • falta de atendimento policial mesmo após notificação de uma ocorrência
  • insuficiente presença dos agentes de segurança em situações de perturbação de sossego
  • denúncias de tráfico de drogas
  • reclamações de bailes funk e seus desdobramentos
  • pedidos por mais bases fixas e rondas escolares nos bairros e escolas

O chamado na ouvidoria acontece após o não atendimento da demanda de intensificação de policiamento no número da PM, o 190. A capital de São Paulo foi responsável por 53% das denúncias, onde a zona sul e a zona leste, com 84 e 79 solicitações, respectivamente, foram as regiões com maiores índices de pedidos.

O baile funk é uma tradição cultural das periferias de São Paulo, onde os jovens se reúnem com carros com som alto. 

Segundo o relatório da ouvidoria, as denúncias e solicitações de policiamento em relação aos bailes funk costumam ser de moradores que vivem próximos aos locais onde os eventos acontecem. As reclamações costumam ser de perturbação do sossego, alto consumo de drogas e aumento de furtos e roubos na região. 

O relatório também diz que, em 2018, dois jovens morreram em eventos do gênero após a chegada da Polícia Militar ao local, de acordo com o documento, "em ambos episódios os bailes já estavam acontecendo quando as 32 forças de segurança atuaram de maneira repressiva em meio à concentração de pessoas".

O levantamento ressalta que em maio de 2018, no bairro do Grajaú, zona sul de São Paulo, um estudante foi morto a tiros após a ação policial no local do baile. Além desse caso, em novembro de 2018, três pessoas morreram pisoteadas durante um baile funk no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, após o tumulto com o lançamento de bombas e sprays de gás de pimenta pelos policiais.

Para a ouvidoria, a polícia deve atuar de maneira preventiva e com instrumentos de inteligência. "A PM deve chegar antes e, quando necessário, ocupar o espaço onde ocorrem os bailes. Embora seja atividade de cunho cultural, nos bailes funk também ocorrem situações que envolvem crimes", diz um trecho.

Para especialista, baile funk não deveria ser problema da polícia

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e autora da tese "Trabalho Sujo ou Missão de Vida? Persistência, reprodução e legitimidade da letalidade na ação da PMESP", a existência dos bailes funk não justifica o uso da força letal por parte dos policiais. 

"A população demanda o tempo todo da polícia a interrupção dos bailes funks. Isso precisa ser discutido melhor e em outra chave, que é a do direito a cidade. O cidadão que não consegue dormir por conta do barulho das festas precisa ser respeitado, mas o jovem que está na festa também precisa poder ter o direito de fazer sua festa, claro que com limites de horário e volume da música", endossa. 

Para Bueno, isso não deveria ser tratado pela polícia militar. "A primeira coisa que é necessário chamar a atenção é que este não deveria ser um problema de polícia. Mas já que se tornou um, a polícia precisa lidar com isso com os instrumentos adequados, e não com o uso de arma de fogo ou com truculência", afirma. 

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