Suzano: Morto pelo sobrinho, Jorginho era comerciante, alegre e palmeirense
Morto pelo sobrinho no massacre de Suzano, ontem, Jorge Antônio de Moraes, 51, deixou uma "dívida" com um de seus amigos, José Marques, que tinha uma tapeçaria próxima da "Jorginho Veículos", onde Jorge foi assassinado.
José esperava que o amigo, cujo corpo foi enviado ao IML (Instituto Médico Legal) de Mogi das Cruzes ontem à noite, fosse entregar pedaços de madeira que havia prometido e continuasse os papos que mantinham, quase diariamente, desde a década de 1990.
"Eu precisava fazer alguma coisa. Esse aqui é o primeiro. Quando deu 11h, comecei a cortar isso tudo pra fazer", diz José Marques mostrando uma mesa em formato de violão.
Consternado pela notícia da morte do amigo, ele diz que começou a cortar madeira em ritmo acelerado, tentando esquecer a perda do amigo, que ele descreve como uma pessoa alegre.
"Vou usar muita coisa que ele me deu. Ele vai estar pra sempre no nosso coração", diz.
Ele diz que encontrou Jorginho minutos antes de o amigo ter sido morto. Depois de atirar contra o tio, Guilherme Taucci Monteiro, 17, seguiu para a escola estadual Raul Brasil, a algumas quadras dali, e matou sete pessoas, entre alunos e funcionários.
Palmeirense
Na tarde de ontem, comerciantes vizinhos ao estabelecimento de Jorge também teciam elogios ao empresário palmeirense fervoroso.
Entre palavras gentis e de lamentação, muitos destacavam o espírito brincalhão de Jorge.
"Era meio radical até [com futebol]", diz Alfredo dos Reis Filho, proprietário da padaria que Jorge frequentava todo dia. Eles se conheciam havia pelo menos duas décadas.
"Agora ele deveria estar feliz. Palmeiras está bem, né?", disse o padeiro, torcedor da Portuguesa.
Ele conta que chegou a colocar na porta da loja do amigo uma faixa com os dizeres "Fechado por luto. Feriado de Porcus Tristes", quando o time de Jorge ia mal.
"Já comprei carro com ele. Já vendi carro pra ele. Nunca tive problema nenhum", diz Alfredo.
Rinalva Fischer, dona de um mercadinho e conhecida Jorge havia dez anos, também pensava em comprar um carro na Jorginho Veículos.
"A gente conversou na sexta. Eu queria comprar um carrinho", diz. Ela descreve o dono do comércio como alguém "muito gente boa".
Proprietária de uma loja de salgados perto do estabelecimento de Jorge, que funcionava também como estacionamento e lava rápido, Ester Chagas da Silva lamenta a perda que ficou também para a família.
"Era uma pessoa bem bacana. Ele a família, a esposa, os filhos. São pessoas bem amigas mesmo", disse.
"Tenho certeza que ele jamais esperaria uma coisa dessas. Senão, ele não ficaria ali, de peito aberto", afirmou.
Jorge deixou três filhos.
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