Avó e neta mortas pela chuva no Rio são enterradas; família cita indignação
Dezenas de pessoas se reuniram na tarde de hoje para acompanhar os velórios de Lúcia Xavier Sarmento Neves, 63 anos, e Júlia Neves Aché, 6, avó e neta vítimas das chuvas dos últimos dias no Rio de Janeiro. Elas morreram soterradas dentro de um táxi na zona sul e foram encontradas ontem à tarde. O motorista do carro também morreu. Ao todo, foram 10 mortes em decorrência do temporal.
Os corpos das duas foram velados e sepultados no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul da capital. Um grande silêncio tomou conta do local no cortejo entre a capela e as campas. No momento do enterro, porém, os presentes bateram muitas palmas pela memória de Lúcia e Júlia.
Tatiana Neves, filha de Lúcia e mãe e Júlia, usou uma tiara de unicórnio, que era da menina, durante grande parte do funeral. Ela e Philippe Aché, pai da criança, passavam férias nos Estados Unidos quando as duas desapareceram após entrarem em um táxi, na saída do shopping Rio Sul, na noite de segunda. Com a localização do GPS do veículo, o carro foi encontrado.
No sepultamento, Philippe agradeceu aos amigos que se empenharam nas buscas enquanto ele estava longe. Também gritou o nome da filha, que foi muito aplaudido.
Indignação
Rodinei, lateral-direito do Flamengo, era tio de Júlia - é casado com a irmã do pai da menina - e acompanhou o funeral nesta tarde. Ele relatou ao UOL que o sentimento da família é de indignação. Nina Aché, mulher do lateral, está grávida de seis meses e se emocionou bastante durante o velório, precisando ser amparada por amigos e familiares.
"Fica aquele sentimento de indignação. A gente sabe que não foram só as duas, foram dez mortes no Rio de Janeiro. A gente vê como está a [avenida] Niemeyer, o Vidigal, muitas tragédias acontecendo. Tem que haver mudança", disse Rodinei.
O governo, a prefeitura têm que fazer mudança. Até quando vamos perder parentes?
Rodinei, lateral do Flamengo e tio de uma das vítimas das chuvas no Rio
Filha tentou precaver mãe sobre caminho
Por volta das 21h45 de segunda-feira, Lúcia Neves avisou Tatiana que estava indo para casa e que o celular ficaria sem bateria, o último contato das duas. Segundo relatos de amigos, a filha, avisada por uma pessoa que a chuva estava forte e provocava movimentação de terra, ainda tentou avisar a mãe que não deveria ir pela avenida Carlos Peixoto, onde o deslizamento cobriu o carro de pedras e lama, mas a mensagem não chegou.
Os amigos também relataram que Lúcia era astróloga e parecia já saber que algo aconteceria com ela. De acordo com eles, além de muito espiritualizada, a mulher sempre estava alegre e tinha um conselho amigo para dar.
A família tentou blindar o casal da notícia da morte das duas, mas Philippe e Tatiana voaram já sabendo da tragédia.
Tanto o casal quanto o marido de Lúcia, Carlos Alves Neves, deixaram o cemitério rapidamente, sem falar com a imprensa.
Homenagem de taxistas
Lucinha e Juju, como eram chamadas pela família, estavam desaparecidas desde a noite da última segunda-feira (8), quando pegaram um táxi na saída do shopping Rio Sul, em Botafogo.
O carro foi soterrado na avenida Carlos Peixoto e só descoberto no final da manhã de ontem. No acidente, também morreu o motorista Marcelo Tavares Marcelino, que será sepultado amanhã.
Por volta das 16h, taxistas amigos de Marcelo fizeram uma homenagem, buzinando em frente à capela onde acontecia o velório de Lúcia e Júlia.
"Conhecemos o Marcelo, a mãe dele está realmente muito debilitada, a família dele também. Nós estamos aqui sem palavras, mas reunidos tentando fazer uma homenagem", disse Gilmar Silva, um dos participantes.
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