Se barragem ruir, lama atingirá cidade histórica de Santa Bárbara em 3 h
Se a barragem Sul Superior da Vale se romper, a lama de rejeitos poderá chegar em 3 horas a Santa Bárbara, cidade histórica de 314 anos, distante 13 quilômetros de Barão de Cocais, outra cidade ameaçada em Minas Gerais.
Segundo cálculos da Defesa Civil do estado, cerca de 1,7 mil moradores e suas casas, em uma porção do município, incluindo uma parte do Centro e do distrito de Barra Feliz, devem ser atingidos depois de um eventual colapso da estrutura, ameaçada pela queda do talude da mina do Gongo Soco, prevista para acontecer nas próximas horas, no máximo dias.
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Há uma semana, as autoridades monitoram o paredão da mina, que na manhã de ontem movimentou-se de 12 cm a 16 cm, ante os 5 cm por dia que vinha se deslocando desde o fim de abril e aos 10 cm por ano até então.
O medo é de um efeito cascata que destrua a barragem que guarda 6,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério -- pouco mais da metade da capacidade da barragem que estourou em Brumadinho.
Se o rompimento ocorrer, a Defesa Civil estima que a lama atingiria ao menos três cidades:
- Barão de Cocais, em 1 hora e 12 minutos após o rompimento da barragem
- Santa Bárbara, após 3 horas
- São Gonçalo do Rio Abaixo, após 8 horas
O material seguiria o curso do rio Santa Bárbara e tomaria a parte mais baixa da bucólica e bem cuidada cidade de 30 mil habitantes, que fica encravada entre montanhas.
Segundo o Ministério Público de Minas, que entrou no dia 22 com uma ação para que a Vale adote medidas de proteção do patrimônio cultural das três cidades, alguns casarões dos séculos 18 de Santa Bárbara estariam ameaçados, como o do Memorial Afonso Pena, antiga Casa de Afonso Pena.
A Justiça deu dez dias de prazo para que a Vale informe o que realmente pode ser atingido e que o fará para evitar que acervos e prédios se percam. A mineradora disse ao UOL que está se mobilizando desde fevereiro, quando uma empresa contratada já havia negado o certificado de estabilidade à barragem.
Construções como a Capela Rosário dos Negros, que iniciou a ser construída em 1756 e é tombada pelo patrimônio histórico, e o casarão de esquina que abriga o Hotel Quadrado, mantido em seu estilo original, não seriam alcançadas, porque estão na parte alta da cidade.
'Lama não vai chegar'
Os moradores já foram alertados e participaram de simulado de emergência em 29 de março. Mas afirmam não acreditar que a lama possa chegar a suas propriedades.
O siderúrgico aposentado Expedito Andrade, 74, morador da rua Arlindo Ayres, é dono de uma das casas "condenadas". Ele diz que não alterou sua rotina.
Na última sexta-feira, ele ouvia o canto dos pássaros sentado ao lado de sua casa, acompanhando o contido vaivém das santabarbarenses na ida para o trabalho.
"Se a lama chegar aqui, então quer dizer que Barão, Barra Feliz [distrito de Santa Bárbara], tudo isso daqui para trás já vai ter sumido antes. Imagina! Por isso que eu acho que não chega, não", disse.
São quase 30 quilômetros entre a barragem e as casas de Santa Bárbara que integram o mapa da inundação - parte do estudo de impacto apresentado pela Vale às autoridades de monitoramento e segurança.
O técnico de enfermagem Ronaldo Marques, 50, mora há 42 anos em uma dessas casas. "Preocupado a gente fica, não dorme direito. Mas acho difícil a lama chegar até aqui", diz ele.
A irmã, a fotógrafa Maria da Conceição Bocalon, 42, que nasceu no local assim que seus pais - hoje já mortos - compraram a terra, é da mesma opinião. "No máximo vai sujar o rio. Matar o rio, na verdade", lamenta.
Sonho ameaçado
Ao lado da casa da família Marques, o motorista aposentado Romildes Rodrigues Marinho, 72, se diz mais apreensivo. Ele está construindo uma casa de dois andares para morar com a mulher e os filhos de 20 e 7 anos.
Começou a obra seis meses atrás e, por enquanto, paga aluguel ao lado.
Mudou-se de Rio Piracicaba há um ano para aproveitar a aposentadoria pescando no rio Santa Bárbara e está chateado com a possibilidade de não conseguir realizar o sonho.
"Agora me vem essa notícia, que tá acabando comigo, com minha esposa. A gente está triste e esperando que não aconteça", diz.
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