Mortes por arma de fogo no país atingem maior percentual desde 1980
O percentual de assassinatos com uso de arma de fogo atingiu o maior patamar já registrado no país e chegou a 72,4% dos homicídios do país em 2017. Os dados são do Atlas da Violência, divulgado hoje pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que usa números do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), do Ministério da Saúde.
Ao todo, 47.510 pessoas foram assassinadas por arma de fogo em 2017 --o maior número absoluto registrado na história dos dados de homicídios brasileiros. O SIM traz informações sobre letalidade desde 1980, quando a taxa de mortes violentas por arma de fogo era de apenas 43,9%.
Em comparação a 2016, a participação das armas de fogo como instrumento do crime passou de 71,1% para 72,4%. Já em números absolutos houve uma alta de 6% no total de homicídios com uso de arma de fogo. Em uma década, o número de mortes por armas de fogo saltou 26% (foram 34.147 em 2007).
O Atlas cita que há uma grande variação do uso da arma de fogo entre os estados. "Por exemplo, em estados como São Paulo, o Estatuto do Desarmamento serviu como elemento propulsor para uma política focada no controle e retirada das armas de fogo das ruas, que já acontecia desde 1999. Nesse estado, considerando apenas os últimos 10 anos, a diminuição na taxa de homicídios por armas de fogo foi a maior do país (-43,9%)", aponta.
Em 2017, São Paulo registrou um índice de armas de fogo em 54,4% dos assassinatos --apenas Roraima e Amapá tiveram índices menores: 37,5% e 46,2%, respectivamente.
O maior uso de armas de fogo está no Nordeste, onde estados como Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Sergipe tiveram mais de 80% dos assassinatos registrados com uso de uma arma.
"Em outros estados, em que não houve um enfoque na retirada de armas de fogo de circulação e onde as facções criminosas atuaram de forma mais intensiva e se viram envoltas em escaramuças pelo domínio de mercados varejistas e rotas de transporte de drogas, se percebeu um aumento da violência armada", completa o Atlas.
Quase um milhão de mortos desde 1980
Segundo o documento, o Brasil já soma 955 mil assassinatos com o uso de armas de fogo entre 1980 e 2017. O documento diz ainda que o número seria ainda maior sem o Estatuto do Desarmamento, sancionado em 2003. Graças a ele, diz, o percentual de letalidade armada parou de crescer.
"No começo dos anos 1980, para cada 100 pessoas assassinadas, cerca de 40 eram vítimas de armas de fogo. A partir de 2003 esse índice estacionou em 71%. Enquanto nos 14 anos após o estatuto, entre 2003 e 2017, o crescimento médio anual da taxa de homicídios por arma de fogo no país foi de 0,85%. Nos 14 anos antes do estatuto, a taxa média anual havia sido de 5,44%, ou mais de seis vezes maior", diz o documento.
O Atlas ainda alerta que há um risco de o país ter nova alta no percentual de crimes por armas de fogo por conta da flexibilização do porte e da posse.
O Atlas aponta ainda que a ideia de que pessoas armadas reduzem o número de mortes é um erro científico.
"A arma de fogo no ambiente urbano é um bom instrumento de ataque, mas um péssimo instrumento de defesa, em vista do fator surpresa. Aliás, as mortes de inúmeros policiais nos dias de folga atestam esse ponto. De outra forma, uma pesquisa do IBCCRIM [Instituto Brasileiro de Ciências Criminais] mostrou que uma vítima de um assalto quando armada possui 56% a mais de chances de ser morta do que a vítima desarmada", indica o Atlas.
Percentual de assassinatos por arma de fogo
1980 - 43,9%
1985 - 42,3%
1990 - 51,9%
1995 - 60,1%
2000 - 68%
2005 - 70,2%
2010 - 70,4%
2015 - 71,9%
2017 - 72,4%
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
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